A Igreja coloca os olhos nos seus Seminários como tratando-se do seu próprio coração. Porque a vocação de cada padre que cresce no Seminário é sempre um mistério de amor e de fé, um verdadeiro milagre da confiança e da ousadia, um projecto da vida disponível e entregue nas mãos de Deus, tem um sentido profundo rezarmos pelos nossos Seminários. E tem sentido também, na comunhão e corresponsabilidade eclesiais, reflectir de que formas Jesus Cristo chama hoje ao seu serviço na Igreja.
Os Indicativos na nossa Diocese de Portalegre – Castelo Branco
Entre 1930 e 1939, quando o Seminário Diocesano conseguiu recuperar da extinção a que a que 1910 tinha conduzido, ordenaram-se 70 presbíteros na Diocese. Entre 1940 e 1949 ordenaram 45 presbíteros. Entre 1950 e 1959 ordenaram-se 55 presbíteros. De 1960 a 1969 ordenaram-se 47 presbíteros. De 1970 a 1979 ordenaram-se 8 presbíteros. De 1980 a 1989 ordenaram-se 8 presbíteros. De 1990 a 1999 ordenaram-se 18 presbíteros, e de 2000 a 2008 ordenaram-se 6 presbíteros[1]. Entretanto, dos 256 referidos presbíteros ordenados, muitos já faleceram e, mais recentemente, alguns pediram dispensa do ministério. Actualmente, segundo estatísticas, a Diocese conta com 91 presbíteros diocesanos incardinados e mais 13 presbíteros religiosos[2].
O mundo e o território geográfico e humano da Diocese não são os mesmos hoje e em 1930. Novos contextos políticos, sociais e eclesiais, escolas, vias de comunicação, meios de comunicação social, emigração, desertificação, diminuição e/ou deslocação das populações para os centros urbanos e para fora do território diocesano, diminuição da natalidade, abandono e/ou diminuição da prática religiosa, novos modelos de família, etc, são alguns dos elementos (comuns a todo o mundo) que criaram um novo contexto e novos desafios. E a Igreja, Sacramento de Jesus para o mundo, há-de valorizar estes desafios como oportunidades.
Das Comunidades para o Seminário
Tudo começa, podemos dizer assim, na forma como nascem e se compreendem as vocações. O ritmo e dinamismo são sempre os do chamamento/resposta e, portanto, de desafio, de transformação, de crescimento, de superação. A resposta segue-se ao chamamento. Não há oferecimento sem chamamento. Quem semeia com generosidade assim colherá. E, da mesma forma que ser padre é ministério de fé, o chamamento e a resposta são uma experiência de fé. E assim, é na Comunidade cristã viva e dinamizada pelos seus pastores que nascem e se podem desenvolver as vocações ao ministério do Padre na Igreja. A comunhão eclesial e presbiteral desperta sempre vocações. Ao contrário, o individualismo pastoral resulta sempre em “crises vocacionais”.
Neste contexto, chamando Deus ao Sacerdócio, o Seminário aparece então como um primeiro passo específico numa longa caminhada de atenção e disponibilidade à vontade de Deus. A sabedoria da Igreja, longa de séculos, assume a experiência da vida comunitária como meio de formação. É o tempo em que cada um se descobre mais a si e descobre os outros. Nesse sentido, o Seminário é a continuidade daquela comunidade que Jesus Cristo construiu com os Apóstolos e onde lhes ensinou a Palavra, a docilidade à vontade do Pai, o amor ao Povo que serviriam. É a comunidade onde Jesus ensinou os seus discípulos a abrir o coração a Deus e ao mundo. Sem essa experiência de comunhão com o Mestre e uns com os outros não seria possível a missão evangelizadora como missão de toda a Igreja.
Um Seminário, comunidade formativa, é por isso e sempre um presbitério (o conjunto dos padres com o seu Bispo) em gestação. A Igreja, aliás, toda ela, é fundamentalmente um mistério de comunhão. Cada seminarista, portanto, não se prepara sozinho para ser padre sozinho, mas prepara-se, desde já, no horizonte de toda a Igreja e do presbitério diocesano. Quando é ordenado padre é recebido como irmão pelos outros padres e acolhe-os no mesmo dinamismo fraterno na comunhão da Igreja diocesana e de toda a Igreja. O Seminário é, por isso, escola de presbitério, uma escola de comunhão, uma escola de Igreja. É uma fraternidade sacramental mais do que uma simples pertença comum.
Acção de cada cristão num projecto que é de todos
Partindo da oração pelos nossos Seminários e da reflexão acerca das formas pelas quais Jesus Cristo hoje chama em Igreja, que podemos fazer pelos nossos Seminários? Eis alguns desafios que cada Paróquia e / ou Comunidade cristã pode concretizar:
1. Partindo da Pessoa de Jesus Cristo, Luz dos Povos, fazer a experiência de Igreja que é comunhão de todos os baptizados como sacramento e sinal da unidade dos homens com Deus e dos homens entre si e fundamentar aí a sua missão de evangelização (LG 1);
2. Reflectir pessoal e comunitariamente o facto de que ser Igreja, pelo baptismo, é naturalmente ser vocação (vocação à vida – vocação à fé – vocação específica na Igreja) e estar disponível para o que Deus quiser;
3. Aprofundar pessoal e comunitariamente – com a possível dinamização do Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações e do Pré-Seminário – os conceitos de vocação bem como as implicações concretas das novas mentalidades e formas de vida na definição vocacional;
4. Promover uma estreita ligação e colaboração entre as Comunidades paroquiais e os diversos Secretariados, bem como dos Secretariados entre si. Promover, nomeadamente, uma ligação e colaboração forte com o Secretariado das Vocações e com o Secretariado da Juventude. O trabalho de evangelização dos jovens (pastoral juvenil) é todo ele vocacional (para as diversas vocações).
5. Valorizar a Liturgia da Paróquia – nomeadamente a Eucaristia e a Reconciliação - como contexto vocacional onde Deus fala e é acolhido e sublinhar verbalmente essa sua dimensão.
6. Valorizar e acompanhar os grupos de acólitos pela proximidade à celebração do Mistério da fé.
7. Promover, no contexto da Oração Universal da Eucaristia do Domingo, uma intenção pelas vocações, uma intenção pelos seminaristas e pré-seminaristas (fazendo alusão explícita aos da Paróquia ou dela conhecidos), uma intenção pelos sacerdotes … a par com todas as outras intenções.
8. Valorização dos textos bíblicos de cariz vocacional da Eucaristia (Dominical ou ferial) para sublinhar o chamamento de Deus ao seu serviço e a alegria de Lhe poder entregar a vida (momento de esclarecimento, testemunho e desafio pela alegria e sentido do ministério);
9. Referir e sublinhar o testemunho de Sacerdotes que tenham ajudado a construir a comunidade em que se celebra ou que tenham sido referência local (a sua santidade, o seu espírito de serviço e de ajuda …). Sublinhar, nomeadamente, o seu testemunho sacerdotal por ocasião das celebrações dos jubileus de Ordenação.
10. Sublinhar a naturalidade do “ser padre” num mundo onde todos querem que a sua liberdade seja respeitada. Como afirmava o Papa João Paulo II, “este é um tempo extraordinário para se ser padre”.
11. Contactar pessoal e directamente algum ou vários rapazes no contexto da Paróquia e dos seus grupos ou actividades (Acólitos, Grupos de jovens, Escuteiros, etc, etc)
12. Estabelecer contacto estreito com os serviços e instâncias diocesanas de acompanhamento vocacional e de ajuda no discernimento. Dar visibilidade nas comunidades aos programas de actividades da Pastoral dos Jovens e da Pastoral das Vocações e Pré-Seminário.
13. Promover encontros dos jovens da Paróquia (grupos ou movimentos) com os Seminaristas ou, inclusive, com grupos de Sacerdotes.
14. Encaminhar os rapazes que se interroguem vocacionalmente para o Pré-Seminário, actividades do SDPJuventude ou SDPVocações, de acordo com os responsáveis.
15. Ajudar, em alguns casos monetariamente (viagens), os jovens que desejem participar nos encontros do Pré- Seminário.
Rezar pelo Seminário é fazer-lhe sentir a proximidade da comunidade cristã e dizer-lhe que se compreende que o lugar dele é precisamente na comunidade cristã. Os cristãos, diz-nos o Livro dos Actos dos Apóstolos, eram unidos na oração, tinham tudo em comum. Por isso a oração pelos Seminário é uma experiência de comunhão da Igreja que se dirige a Deus como o seu Pai do Céu.
Faz bem ao Seminário sentir a presença da comunidade diocesana e das paróquias com seus padres, cristãos e religiosos. É aí que Deus chama e esse é o destino dos que são chamados. Faz bem ao Seminário, na partilha e na oração, sentir-se amado. E faz bem às comunidades sentirem o Seminário presente na sua vida de Igreja e conhecerem os rostos concretos daqueles que neles se prepararam para serem servidores do Povo de Deus como padres. A juventude do Seminário faz bem às comunidades e a história e fidelidade das comunidades a Deus desafia o Seminário.
p. Emanuel Matos Silva
[1] Dados fornecidos pelo Cónego Bonifácio Bernardo, Secretariado Diocesano da Pastoral
[2] Cf. Anuário 2007 da Diocese, p. 58.