sábado, julho 28, 2007



ESPIRITUALIDADE E VIVÊNCIA DO DOMINGO



O domingo é o dia da celebração da ressurreição de Cristo. Os relatos evangélicos são unânimes na afirmação de que o acontecimento da ressurreição se deu ao amanhecer do primeiro dia da semana (Mt 28, 1; Mc 16, 2; Lc 24, 1; Jo 20, 1). É o dia em que Jesus ressuscita e aparece aos Apóstolos reunidos (Jo 20, 19). É o dia em que Jesus caminha e se revela aos discípulos que caminham para Emaús e que O reconhecem ao partir do pão (Lc 24, 13-35). É, fundamentalmente, o dia em que Jesus Se mostra vivo e vencedor da morte, de todas as mortes.
O Domingo tem, então, uma identidade própria: é a celebração da Páscoa, o dia do Senhor. Essa é a razão pela qual o Domingo tem tanta importância na vida da Igreja. Todo o mistério da Páscoa do Senhor Jesus está concentrado, não apenas naquele dia longínquo e histórico em que Cristo “passou deste mundo para o Pai” (Jo 13, 1), mas no dia que se transformou o sinal, a memória, desse acontecimento salvífico.
Em sua memória, Jesus mandou fazer os gestos fundamentais da sua entrega. O Domingo evoca, por isso, e permite viver a presença do Ressuscitado no meio dos seus: celebra-se o “senhorio” de Cristo, o seu triunfo sobre a morte, a sua presença viva e ressuscitada. É a proclamação deste facto que acontece em cada assembleia cristã que se reúne em dia de Domingo para partir o pão: na Eucaristia, como com os discípulos de Emaús, a comunidade reconhece Jesus e experimenta a sua vida e a sua presença. E, nesse sentido, o Domingo é o dia específico da reunião da comunidade cristã (os discípulos de Jesus Cristo), o dia da comunhão, o dia da celebração da Ceia do Senhor e da presença do Ressuscitado, o dia da experiência pascal como envio em missão. É o dia da diferença.

Partindo da ressurreição como fundamento, a reunião da assembleia cristã, a escuta da Palavra e a Eucaristia são, portanto, os elementos característicos do Domingo e os fundamentos da sua vivência espiritual. De facto, no Domingo, os cristãos reúnem-se para que, escutando a Palavra de Deus e participando na Eucaristia, recordem a paixão, a ressurreição e a glória do Senhor dando graças a Deus.
O Domingo é, portanto, o dia da assembleia cristã, símbolo da Igreja que se faz visível na comunhão de todos os cristãos presidida pelos seus pastores sobretudo na celebração da Eucaristia. A assembleia cristã reunida, expressão da Igreja, Corpo de Cristo, é tão essencial ao Domingo como é a referência do Domingo à ressurreição de Cristo.
Sendo dia da assembleia cristã, o Domingo é também o dia da Palavra de Deus. É na escuta e no acolhimento da Palavra que a Igreja se define como um Povo convocado pelo próprio Deus e chamado a caminhar na sua presença. É escutando a Palavra, à imagem de Maria, a Mãe de Jesus, que se faz possível a sua encarnação na vida. O que Jesus ressuscitado fez no caminho com os discípulos de Emaús, faz hoje com cada assembleia: Ele próprio explica a sua Palavra.
O Domingo é, finalmente, o dia da Eucaristia, o dia do memorial da Páscoa do Senhor. A Igreja reúne-se em assembleia porque não consegue de outra maneira celebrar Aquele que é a sua Cabeça, Jesus Cristo. Mas a finalidade desta assembleia litúrgica reunida é a celebração do Sacrifício eucarístico, o Sacramento da entrega de Jesus “para a vida de muitos” (Mt 26, 28; Mc 14, 24; Jo 6, 51). A Páscoa é, de facto, o conteúdo fundamental do Domingo, e o aspecto central do mistério eucarístico, memorial do sacrifício redentor de Jesus Cristo na Cruz e sua presença sacramental. A Eucaristia é, neste sentido, a Páscoa da Igreja. O Domingo torna-se assim o sinal do senhorio de Cristo sobre o tempo e a história precisamente porque tem o seu centro na Eucaristia.
Concluindo, a vivência e a espiritualidade do Domingo são determinadas pela experiência da sua origem e da sua identidade: é dia de parar, não para ficar parado, mas para escutar e acolher; é dia de reunião da assembleia porque, pelo baptismo, todos somos Corpo de Cristo; é dia de escutar a Palavra de Deus porque não nos convocamos a nós mesmos, mas é o Senhor que na Palavra nos chama e nos ensina; é o dia da Eucaristia porque nela, na fidelidade ao mandato de Jesus, se faz memória da Páscoa. Pela Eucaristia, os cristãos unem-se a Cristo e dizem com Ele “Isto é o meu Corpo entregue por vós” fazendo da Eucaristia a entrega da Igreja pela vida do mundo como é a de Cristo.
Um Domingo com estas características coloca-nos, certamente, algumas questões e desafios: que tipo de dia é o Domingo para nós, hoje ? É o dia da Ressurreição, o dia da assembleia eucarística, ou apenas o dia do ócio e do descanso, o dia da festa, o dia ecológico ? E quais são os problemas reais do nosso Domingo? Uma prática dominical em crise? Uma celebração dominical que deixou de ser festa? Uma ocasião de encontro com assembleias e desmotivadas ? Um dia de descanso na sociedade de consumo ?
Que lugar tem o Domingo, como dia do Senhor e a Ele dedicado, no ritmo da vida quotidiana de cada um de nós ? Sendo dia do nascimento do homem novo, como vivemos o Domingo ?

P. Emanuel Matos Silva

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