terça-feira, abril 07, 2009

Dia Jovem 2009
e
Ministério de Leitores
do
Gil e do Nuno
Portalegre
4 de Abril 2009





















segunda-feira, abril 06, 2009


E foi assim ...
Uma "grande entrevista" do "Distrito de Portalegre",
Jornal diocesano, ao Gil e ao Nuno
Seguir-Te-ei, Senhor Jesus!
- respostas de jovens com a vida nas mãos -

No próximo sábado, em Portalegre, na Eucaristia do Dia Jovem na nossa Diocese, o Nuno Miguel e o Gilberto Fernandes vão ser instituídos no Ministério dos Leitores para, na vida da Igreja, acolherem, aprofundarem e proclamarem a Palavra de Deus.
Quem são o Nuno e o Gilberto? Dois jovens de 29 e 25 anos, respectivamente, que um dia deixaram Jesus Cristo entrar nas suas vidas e ser o seu centro. Hoje são Seminaristas porque Deus os chama a serem Padres na Igreja e na nossa Diocese. O Nuno é natural da Bemposta (Abrantes) e o Gilberto é natural do Vale da Lousa (Isna, Oleiros). O Gilberto está no 5º ano do Seminário Maior e do Instituto Superior de Teologia de Coimbra e o Nuno está no 4º ano. Têm percursos de vida diferentes mas que comungam desde que se encontraram no Seminário porque é o mesmo Senhor que chama e é para a mesma Igreja que envia. O Gilberto entrou para o Seminário ainda adolescente e fez já uma caminhada desde o Seminário de Portalegre. O Nuno, por sua vez, entrou logo para o Seminário Maior depois de completar os estudos do Secundário já que, entretanto, tinha abandonado os estudos e já estava a trabalhar.
Deus falou de forma diferente e através de pessoas e acontecimentos diferentes na vida de cada um deles. O importante é que deram conta de que Deus os chamava, os ajudava a crescer, os seduzia e, por isso, quiseram aprofundar a sua fé e entregar-se ao que Deus quisesse. E hoje são tão cristãos (de Cristo) que até são Seminaristas. A sua vocação, afirmam-no com clareza e paixão, é serem Padres! E este é um tempo espectacular – como dizia João Paulo II – para se ser Padre.
Quando se fala de vocação, regra geral, imagina-se logo um padre ou uma religiosa. Neste caso, evidentemente, percebemos que Deus chama a serem Padres. Mas a vocação não tem apenas a ver com “ser Padre” ou “ser Religiosa”. Como a própria palavra indica, vocação é uma interpelação, um desafio e, por isso, exige uma reacção, uma resposta. Ora o primeiro desafio ou interpelação que uma pessoa recebe é o do reconhecimento da existência como dom! Nenhum de nós pediu para nascer. E logo a seguir vem a provocação de querermos saber de onde vimos e por mão de quem nascemos. A grande interpelação nesse momento chama-se Baptismo e é o reconhecimento de uma história que Deus faz com cada um de nós e para a qual somos “chamados” como companheiros de caminho.
Para ser assim, e determinar uma vida e tudo o que se faz enquanto vivo, a vocação não é propriamente apenas um sentimentozito, não é apenas uma “coisa que se tem”, não é uma profissão, não é um destino, não é a priori “apenas para alguns”.
Se pudéssemos colocar um grande grupo de pessoas já conscientes da sua vocação a falar, daríamos conta de que existem imensos e diferentes casos e experiências, mas existe também um traço comum a todas elas. E o que é esse traço comum? É, tão somente como nos conta a Bíblia, “deixar qualquer coisa e partir”! Normalmente damos importância demasiada ao “deixar qualquer coisa” e por isso dizemos que a vocação é difícil. Mas, se repararmos bem, a nossa vida é feita de “partidas” inadiáveis. É assim que sempre crescemos e progredimos, é assim que somos gente com futuro. Não é preciso sair do mesmo sítio para partir. Basta mudar de sentimentos, de horizonte. Se não partíssemos ficaríamos sempre infantis. “Deixa a tua terra … e vai. Farei de ti uma grande nação” disse Deus a Abraão. Este é o paradigma de qualquer história vocacional. Por isso Deus dirige-se sempre a pessoas concretas e com história concreta e interpela-os: “queres vir?” … “Se queres … vem”!
Então ser chamado é um verdadeiro a viver. Vocação é um desafio a crescer. Vocação é “aquilo que somos” e não apenas “algo que temos”. É nessa medida que quanto mais nos percebemos, mais nos construímos e nos transformamos. À nossa frente vai Cristo, o Homem santo e perfeito que é a medida e o ideal de todas as nossas tentativas. Somos chamados à vida, à santidade, ao sentido do outro e à comunhão com o outro. O Baptismo marca essa etapa como projecto de vida sempre em comunhão com Aquele que está na origem do nosso existir. É uma questão de sentido da vida. Relacioná-la à sua origem e à sua realização.
Ora é precisamente entre os baptizados (os que caminham desafiados pela fé) que o Senhor chama e escolhe discípulos para fazerem com as suas vidas o que Ele mesmo, o Mestre, fez com a sua existência: dom, entrega. Então vocação é o que cada um de nós quer quando é capaz de ser livre e de comungar com a vontade Deus a seu respeito. E Deus chama a tantas coisas (Baptismo, Matrimónio, Sacerdócio, Vida Religiosa, etc, etc). Vocação é aquilo que eu quero depois de tirados os obstáculos à vontade de Deus. Supõe sempre uma atitude de aliança e de diálogo, uma atitude amor e de confiança, uma verdadeira história de amizade na qual se caminha e se faz caminho. É, como todos os caminhos, a vocação faz-se ao andar. Faz ao amar: Seguindo-Vos, Senhor, sei que não perderei.
Mas vamos ao encontro do Nuno e do Gil. Um dia, se Deus quiser e se eles ajudarem, chamar-lhe-emos “padre” como alguém que recebeu na Igreja a missão de gerar a fé nos corações dos homens e mulheres deste tempo e de cuidar para que essa fé não esmoreça. Mas hoje vamos, sobretudo, perceber os seus sentimentos, comungar a sua vida. Para isso fazemos-lhes algumas perguntas.
O primeiro pedido ou questão que lhes fizemos foi que nos dissessem que sentimentos e que sentido experimentam neste momento da suas caminhadas para o Sacerdócio.
O Gilberto, que entre nós e na nossa cumplicidade de amigos, tratamos apenas por Gil, respondeu assim:

Gil: Em primeiro lugar devo dizer que os sentimentos predominantes são de felicidade, tranquilidade e alguma dose de ansiedade. Talvez pareça estranho não dizer que me sinto nervoso mas a verdade é que me sinto bastante sereno. É verdade que a tarefa não será fácil e procuro consciencializar-me dela sempre. Procurar sempre mais conhecer Deus para poder falar d’Ele e dá-l’O a conhecer ao outro tem tanto de responsabilidade como de desafio saudável. É isso que dá sentido à caminhada. Falar de sentido, às vezes, é algo que pode enganar. A tendência é dizer que o sentido está já definido há bastante tempo e que as certezas são definitivas. Quase nada é definitivo e, neste meu caso concreto, se os passos dados, quer sejam para a frente quer para trás, não forem discernidos, assumidos, rezados, estruturados e se necessário reestruturados, então corro o risco de ficar parado onde sinto segurança aparente… fechado e sem evoluir. Assim, julgo poder dizer que mesmo consciente das minhas limitações, que não são poucas, estes sentimentos que eu partilho são o motor que dá sentido ao sentido da minha caminhada para o sacerdócio.

E o Nuno disse: Neste momento da minha caminhada vivo um sentimento de serenidade e confiança. No sábado, talvez em mim, com alguma naturalidade, surja uma ligeira impressão no estômago, o que é sinal de algum nervosismo natural dos grandes momentos. Quando fazemos ou realizamos algo que sabemos fazer-nos felizes, que nos é muito importante, é normal haver algum nervosismo.
È uma alegria muito grande poder dar mais um passo neste caminhar para a missão à qual Deus me chama, o ser padre! Depois de algum tempo de caminhada eis chegado o momento de dar um passo diferente. Em primeiro lugar é o renovar do “Sim” para com Deus, uma renovação que aliás acontece diariamente, mas também é tempo de o dizer também ao nosso pastor, o senhor Bispo, diante da nossa Diocese, ela rosto da Igreja à qual me desejo entregar. Nela se realiza todo o sentido da minha entrega e do chamamento de Deus para mim.

Fizemos outra questão: Quais forma os aspectos (1), pessoas (2), acontecimentos (3) mais marcantes e a determinarem a entrada no Seminário e numa caminhada de discernimento em direcção ao sacerdócio? E hoje? Quais são?
Gil: Em primeiro lugar acho que a educação familiar católica foi determinante. Na minha família sempre houve a preocupação de dar a conhecer Jesus Cristo, tanto a mim como à minha irmã. Recordo-me que as minhas primeiras catequeses foram ensinadas à noite, antes de dormir. Eram “apenas” aquelas orações como o Pai-Nosso ou o Anjo da Guarda mas que foram fazendo despertar em mim a curiosidade e o desejo de querer mais. Depois, recordo o Pe. José Esteves, o meu primeiro prior. Com o seu jeito e com a sua presença, a certa altura fizeram-me pensar e desejar ser como ele. Um dia acho que ele percebeu e propôs-me o Seminário. Eu aceitei, apesar de nunca ter sentido tanto medo na vida. Depois recordo as pessoas que me receberam e me alargaram horizontes quando entrei no seminário. As motivações da altura eram bem diferentes das que me movem hoje. No presente move-me Jesus que, por amor, se entregou e morreu também por mim. Move-me aquilo que Ele quer fazer de mim e comigo, independentemente de tudo o resto. Move-me o sentir-me esperança de pessoas que mesmo não sabendo quem eu sou, rezam por mim. Move-me o desejo de me gastar todo para O procurar dar a conhecer e para O poder levar onde for preciso. Move-me a minha fragilidade, própria de quem caminha, mas que pode e é sempre completada com a força do Espírito Santo. Move-me a certeza da felicidade total.

E o Nuno respondeu: Nascido e criado em ambiente cristão e vivendo numa comunidade cristã com presença na minha terra, teria sido entendido com normalidade o colocar da questão, “ser padre!”. No entanto, que me lembre, nunca percebi existir uma forte consciencialização ao nível vocacional, só mais tarde, quando comecei a andar inquieto e a procurar algumas respostas soube de dois ou três rapazes que tinham estudado no Seminário de Portalegre e penso que nenhum deles tinha duvidas vocacionais ou colocava a hipótese de ser padre.
A dada altura da minha vida, comecei a sentir que algo não estava certo comigo. Nessa altura encontrava-me a trabalhar e sentia-me insatisfeito com o muito que tinha. Lia a minha vida, compreendia que mesmo tendo muito e muita gente à minha volta, sentia um vazio, que aquilo que tinha não era suficiente para preencher. Era uma altura em que devido ao ter saído de casa para cumprir serviço militar e devido depois ao regresso ao emprego, permanecia ausente “da igreja” e do grupo de amigos da terra. Algum distanciamento de Deus.
Então um dia, numa das conversas com um amigo meu, falava-lhe do que se passava comigo. Mais tarde ele viria a desafiar-me a comparecer num dos encontros do grupo de jovens da Paróquia. Depois de alguma insistência dele e de ter gasto todo o tipo de desculpas, houve um dia em que apareci. Foi claramente um passo maior que a perna... voltei mais tarde uma outra ou outra vez. No entanto, o regressar à Eucaristia Dominical foi algo mais complicado... já quase que “não sabia o caminho para a Igreja”... lembro-me que a primeira tentativa que fiz para ir à celebração, foi uma tentativa falhada, ao tentar entrar, lembro-me de ter regressado a casa a correr... algumas semanas depois, lá me levantei e me arranjei. Quando ia a sair de casa lembro-me da minha mãe me questionar sobre onde ia eu tão cedo... quando lhe disse que ia à missa... não me lembro bem do que ela me disse, até acho que não deve ter dito nada, com tamanha surpresa, estava tão nervoso que nem fiquei para falar com ela, simplesmente saí! À porta, naquele entra não entra, perdi grande parte da Eucaristia, mas naquele dia tinha feito o propósito de entrar e conversar com Deus, com o Pai, era com Ele que naquela altura ainda mantinha algum diálogo! Lá entrei e coloquei-me num canto onde não desse muito nas vistas... ali fiquei bastante tempo, mesmo depois da Eucaristia terminar... e nesse dia conversamos!
Foi certamente um dia importante, não para a compreensão sim\não vocacionado ao sacerdócio, pois ainda estava longe de compreender que era isso que Deus me iria pedir mais tarde. Foi importante para descobrir que queria ter mais presença e estar novamente mais perto de Deus como quando era mais novo!
Mesmo trabalhando aos fins de semana, sempre que estava de folga, fazia por ir à Eucaristia e estar com o grupo de jovens. O tempo foi passando e fui fazendo a minha vida como sempre fazia, agora com um horizonte diferente. A verdade é que a relação com Deus Pai se ia fortalecendo e com Ele (re)começava a olhar Jesus e a falar com Ele de modo diferente, como fazia antes. Conversando com Deus sentia que podia arriscar por outros caminhos para realizar os meus projectos de vida que, na altura, com toda a normalidade, era o constituir família. Pensava eu...
Desejava mais... e neste desejar, procurei regressar às aulas e terminar o secundário. Mesmo com muitos obstáculos que se levantaram, em diálogo com Deus, lá via as coisas acontecer... e nesse acontecer, o diálogo tornava-se mais forte... agora já não exclusivamente com o Pai, mas mais “abeirado” de Jesus, Ele que Se tinha tornado um amigo muito presente.
Um conjunto de situações vão, entretanto, acontecendo até que a questão surge um dia de modo muito natural numa Eucaristia Dominical, numa breve referencia que o sacerdote fez à semana dos seminários... Iniciava uma jornada interior e algo solitária. Sentia que eram “loucuras” da minha cabeça... comecei a ridicularizar e a tentar dizer a mim mesmo que a minha vocação era a família... o tempo passava e a questão tornava-se mais presente, no diálogo com Jesus, não O compreendia... (ou não O queria compreender.) Certo dia, ganhei coragem e falei com o “amigo de sempre” e ele deu-me logo força! Naquela altura sentia que não era o que queria ouvir... mas que fazer? Eu acho que ele tinha ficado mais entusiasmado que eu!
A negação e a fuga de alguns momentos e de algumas pessoas, passaram a fazer parte do meu dia a dia. O tempo ia passando e eu ia amadurecendo e percebendo ao que Deus me chamava. Mas que fazer com a vida que vivia? Como o iria dizer à minha família, aos meus amigos e às pessoas que me acompanhavam nos meus “rumos” de vida? Mais uma ajuda para a negação e para a fuga! Um dia, o meu amigo, estando a par do que eu vivia, “obrigou-me” a avançar e levou-me, meio contra a minha vontade a fazer um retiro quaresmal. Foi importante esse dia, mas não significativo para o meu sim, eu estava com as defesas muito levantadas... no entanto, a situação que vivia, estava a complicar-se (e acho que Deus já estava a “perder a paciência” com a minha teimosia), e eu tinha que fazer algo que me libertasse. Foi então que num “acordo” com Deus, num “agora ou nunca”, Ele, pela mão de Maria, me deu a conhecer aquilo que eu (queria) não tinha coragem de aceitar; “Jesus é a tua luz, segue-O”.
Depois de um dia inteiro, esperando por o desejado sinal, eis que no regresso a casa, já pelo cair do dia, (mostrando quase que é mais “teimoso” que eu), Ele mandou o sinal que eu esperava, não quando eu quis, mas quando Ele quis. Como fiquei não vou dizer, mas acho que se compreende, não tinha mais por onde fugir! Mesmo assim, não foi fácil... ser padre(!), pensava eu, mas porquê eu, mas eu como? Meses depois, mais uma vez seria “levado”, a um dos encontros com os Seminaristas Maiores. Depois de algum tempo de espera, lá avancei e conversei com o padre que lá se encontrava, com quem já conversava através de mail’s, e falei-lhe do que se passava comigo. Hoje compreendo a importância daquele padre para aquilo que sou, e naquilo que serei amanha, no que Deus me chama a ser! Fomos conversando durante uns tempos e ele ajudou-me a compreender o que se passava comigo. Fez-me alguns desafios e fomos tentando concretizá-los dentro da nossa disponibilidade. Estes foram também dois momentos importantes, foi o meu Sim a Deus e depois o meu Sim à Igreja.
O ano propedêutico em Leiria manifestou-se muito importante também, humanamente, mas principalmente numa próxima relação com Jesus, sentiamo-nos cada vez mais próximos. Nesta fase, alem das duas pessoas já referidas, o relevo vai para a minha família, que compreendendo nesta opção o caminho que me faria feliz, sempre me amparou. Sem o acompanhamento deles, e sem a sua presença, o meu caminho seria muito mais difícil. Neles encontro sempre a força e o carinho como só de alguém que verdadeiramente me ama.
O tempo propedêutico foi “O” sim confirmado aos que me rodeavam. Levou a que me libertasse e manifestasse um outro jovem em mim, e na verdade em muitos aspectos diferente daquilo que era, era o estar livre e o assumir do que sentia sem quaisquer receio.
Em Coimbra é sempre a caminhar... e a tropeçar... e de novo, sem medo de voltar a cair, caminhar... rumo ao que Deus me chama... “Ser Padre!”


E fomos continuando a conversar e perguntámos: Quem é para ti Jesus Cristo? E a Igreja? Tem sentido hoje ser padre? Faz sentido continuar a anunciar Jesus como projecto de vida e para a vida de tantos homens e mulheres?

Gil: Para mim, Jesus Cristo é Deus e é caminho para Deus, pelo qual procuro caminhar. Mas ao mesmo tempo é o Homem que por loucura se deixou crucificar para me livrar da morte eterna. É aquele que sempre nos envolve e seduz e ao qual é impossível resistir. É “luz que não se vê mas com a qual tudo se vê” (Stº Agostinho). Deste modo, a Igreja é o conjunto dos crentes (nós) que aderimos a Ele. É como que uma mãe que torna todos filhos de Deus. É também fruto da vida de Jesus Cristo e meio do qual Ele se serve para ser nosso Pai. Vivem um no outro, numa dinâmica de reciprocidade. É referência e exemplo de unidade e de vida. Assim, é por isto que vale a pena a pena sim ser padre hoje. Faz todo o sentido. Faz sentido propor Jesus Cristo como projecto de vida porque a proposta que Ele faz é sempre de felicidade. Deus não iria propor um projecto de vida a alguém para o conduzir ao fracasso ou à desilusão. Não é o jeito de Deus. Se olharmos para a proposta do Evangelho com olhos de ver, havemos de encontrar nela quer actualidade e pertinência quer coerência. Ninguém, a não ser Jesus Cristo, seria capaz de amar tanto aos homens ao ponto de se entregar à morte por eles. Porque Jesus foi coerente com o amor que sentia é que morreu e ressuscitou. Conferiu-nos uma dignidade e é esta a maior prova de que faz todo o sentido procurar viver e propor Jesus como projecto. “Ele não tira nada! Dá tudo!” (Bento XVI).

Nuno: Jesus Cristo... não é um simples amigo, é mais que isso, é Alguém que preenche, que dá sentido, que me ajuda a ver e a ler o mundo com outros olhos. É Aquele a quem todos os dias digo sem qualquer pudor, AMO-TE!, a Quem agradeço cada dom que me dá, cada dia que vivo... é Aquele que me faz dizer Sim e entregar toda a minha vida sem nada pedir em troca... Aquele que só por me ensinar o que é o amor e me ajudar a dar de mim aos outros, me leva ao encontro daquilo que em mim faz desejar, a felicidade! Jesus Cristo que me quer participante da Sua Igreja, aquela a quem desejo amar sempre mais e levar o seu verdadeiro rosto ao mundo. Esta Igreja que se mostra nova e em crescimento a cada dia e que nos surpreende, o deixar surpreender pelo que Ela tem de mais belo, o serviço, o Amor aos outros! É neste dinamismo de serviço que encontro nela todo o sentido de ser seminarista, e no futuro, de ser padre. Só com Cristo e na igreja o desejo de ser padre que cresce em mim tem sentido. No serviço à paróquia, à diocese, à Igreja universal, a Deus! Não será então um desafio actual? Com toda a certeza que digo que sim, é cada vez mais um projecto de vida válido e testemunha de uma vida feliz e aberta ao sentido neste mundo, na partilha, no serviço, no dar-se ... é o dar e levar de Jesus a todos aqueles que O procuram e que não têm ninguém que Lho dê a conhecer, é o saciar de fome e sede a todos os que têm fome e sede de Justiça, de amor, de felicidade.

E fizemos ainda mais uma questão: Qual foi, se quiseres partilhar, a experiência (humana e de fé) mais bonita que tiveste até hoje?

Gil: Talvez a experiência mais bonita pela qual passei tenha sido no Hospital de S. João de Deus no Telhal. É uma experiência proporcionada pelo ano propedêutico de Leiria e que na altura se chamava “contacto com a dor”.
Tirando o primeiro dia em que entrei pela primeira vez no Seminário, esta foi a vez em que senti mais medo na vida. O nome só por si impõe respeito. Recordo-me que começara a ler na altura um livro de Henri Nouwen chamado “Adam o amado de Deus”. À primeira vista uma coisa não tem nada a ver com a outra mas hoje sei que Deus faz sempre tudo bem feito. É a tal coisa… Ele encarrega-Se de suprir sempre as nossas limitações desde que nós o queiramos e o procuremos….
Entre as diversas clínicas eu fui integrado na dependência de psico-geriatria (distúrbios mentais em pessoas de idade mais avançada…) e aí começa a minha história. Por entre noites sem dormir, algumas tarefas que nunca julguei ser capaz de realizar e situações de algum risco físico até, à partida, o desafio de aprender a ver Jesus e a cuidar d’Ele nestas pessoas era para esquecer.
Contudo, uma pessoa desempenhou um papel fundamental na minha vida como homem de fé, mesmo sem saber e sem falar uma única palavra que fosse. Nunca lhe ouvi a voz nem nunca respondeu ao seu nome quando o chamava. Ensinou-me que mesmo numa cadeira de rodas ou nos pequenos passos que dava, poucos, e na dependência de quase tudo e de todos é possível ser-se testemunha de Jesus Cristo. A palavra “deficiente” passou a ter um significado diferente daquele que lhe costumava dar. Esse “deficiente” era sacerdote e toda a vida se gastou a ensinar e a dar a conhecer Jesus Cristo. Agora estava ali, dependente da generosidade daquela gente que trabalhava sempre com dedicação, a maioria voluntária. Começar a ver Jesus naquele homem foi das descobertas mais bonitas por que passei até hoje e julgo que aquele sorriso que o Pe. Leandro me deu no último dia quando me fui despedir dele, ele que nunca esboçava nenhuma reacção, foi o beijo de Deus à minha pessoa, uma experiência quase palpável daquilo que Deus é. Quanto ao livro de que falei, o melhor é ler…

O Nuno não respondeu a esta questão porque já tinha abordado todas estas questões numa das questões acima reflectidas.
E, por último perguntámos aos dois o que diriam momento aos jovens da nossa Diocese.
Gil: Diria que sou um jovem tal e qual como eles, só diferente pela minha opção de vida. Tenho as minhas dúvidas, as minhas certezas e desejo ser feliz. Diria que o importante é saber procurar e discernir a nossa vocação, seja ela qual for. Como diz alguém: “para atingir um fim, o importante é que coloquemos os meios necessários” e é isso que procuro fazer dia-a-dia. Quais são os meios? Oração, conversa, liberdade nas opções, etc. Diria que a minha caminhada não tem sido fácil mas que se fosse fácil seria uma chatice e talvez já me tivesse cansado. Todos sabemos que aquilo que alcançamos sabendo que foi com esforço e dedicação, tem mais sabor no final. E não importa andar às vezes “à toa” porque errar também faz parte do nosso processo de formação. Diria que sou feliz porque me sinto a caminhar numa direcção e diria que talvez o segredo para a grande parte das nossas dúvidas e receios seja perder o medo e a vergonha que nos prendem as pernas e fazem disparar o coração. Mais ou menos como acontece quando vemos a pessoa que amamos. “Atirar-se de cabeça” e confiar em Jesus Cristo e em si mesmo é o mais importante. Saber para onde se quer ir e saber porque é que vamos, provoca uma sensação única.

O Nuno partilhou: Aos jovens lançava o desafio de não se deixarem levar pela vida, mas a que eles mesmos pegassem na vida e a vivessem. Que procurem o sentido, o “onde” da felicidade de cada um, do lugar e da missão nesta sociedade, neste mundo em que vivemos. Desafio a que se questionem acerca do “para onde devo de ir?”, ou “que fazer com o dom da vida que Deus me deu?”, ou mesmo “que compromisso me levará a encontrar a felicidade?” entre outras...
Nas minhas interrogações, Alguém se fez presente, e me indicou o caminho a seguir. Jesus Cristo!
Na proximidade com Ele, vamos de modo contínuo, compreendendo e percebendo o nosso papel no Seu projecto para o mundo de hoje.
É presente as mudanças do mundo de hoje...é presente a validade de todos os projectos a que nos sentimos chamados e ao quais muitas vezes falta a coragem para rasgar os receios, as inseguranças, o olhar daqueles que nos rodeiam e que nos levam a hipotecar o projecto à felicidade que Deus propõe.
Desafio, com o que habita em cada um, a parar uns instantes e procurar responder a algumas questões que são colocadas, quem sabe se pelo próprio Jesus Cristo. No amanha, em cada dia, repetir a interrogação... no dia seguinte renovar a questão... o não deixar de questionar e de procurar estar desperto a tudo o que os rodeia, para não cair no perigo de amanhã ser tarde e tomar decisões erradas e em nada compatíveis com a verdadeira vocação de cada um.
Eu levava mais longe o desafio. Nesta procura normal dos jovens quererem algo de diferente, de profundo, de radical, com pleno sentido, eu desafiava a procurarem conhecer mais Jesus Cristo!” Tentar saber quando e onde se juntam outros rapazes que já fazem essa experiência e fazerem parte dessa mesma experiência de modo a conhecer mais a Deus, melhor à Igreja... nem que fosse só para conhecerem os seminaristas maiores e os pré-seminaristas...

“Se queres vem…segue-Me”! É assim, sempre assim, que começam as histórias de amizade com Jesus Cristo. Ir e seguir Jesus Cristo. Pedro, Tiago, João, Zaqueu, André, Mateus, Marta e Maria, o Jovem rico, Madalena, Tomé, Paulo, Barnabé e tantos outros.
“Segue-Me” é a palavra-chave de tantas e tantas histórias de vida que passam incontornavelmente pelo encontro e aliança com Jesus Cristo. E Deus dá os sinais de que a vida pode seguir por aí. Dá a paz (que é diferente do “bem-estar”), dá a consolação, dá as convicções profundas e diz também a cada passo “Não temas!”. Aqui se conjuga tudo o que a pessoa é, a sua liberdade, os seus projectos, a sua indigência e as suas capacidades e possibilidades. As primeiras motivações nem sempre são as mais puras, mas vão-se sempre purificando e identificando com a vontade de Deus. No “segue-Me” e no “não temas” que Jesus nos diz, descomplica-se a vida, aprende-se e assume-se a própria história, concretiza-se a felicidade como projecto, percebem-se e clarificam-se coisas velhas e novas, ouve-se Deus no segredo do coração, experimenta-se a amizade e a companhia de Deus, vive-se a liberdade e acontece a entrega a Deus: “Seguir-Te-ei, Senhor, para onde quer que vás, onde quer que isso me leve, confiado na tua graça porque Te amo!”.