domingo, dezembro 21, 2008




Abrir para que ninguém possa fechar


- Uma experiência de Natal -



A liturgia da Igreja, sábia de séculos, tem neste tempo de Natal expressões extraordinárias do lugar central que quer dar a Cristo no coração de cada pessoa e na vida de todos os dias. “Ó Chave da Casa de David, que abris e ninguém pode fechar, fechais e ninguém pode abrir; vinde libertar os que vivem no cativeiro das trevas e nas sombras da morte” é uma das chamadas “antífonas do Ó” (frase ou refrão) que se cantam nos sete dias que antecedem imediatamente o Natal e que no seu conteúdo, tomado dos profetas, são uma síntese de toda a esperança messiânica e de todo o desejo humano de encontro com Jesus, o Filho de Deus que Se faz Homem. Sistematizadas nos séc. VI – VIII são como que um “grito” pedindo a Deus que envie o seu Messias e que Ele nunca abandone a nossa história. Todas as antífonas nos abrem ao mistério da identidade profunda do Filho de Deus mas aquela que acabei de referir é extremamente significativa: “Ó Chave da Casa de David…”

A analogia concreta da chave é forte e intensa: Cristo como a Chave que abre e liberta porque existem fechaduras que não se abrem sozinhas. E o homem e a sua vida fazem muitas vezes parte dessas fechaduras.
Maria, Nicodemos, Simão, Mateus, a mulher samaritana, o cego de Jericó, os filhos de Zebedeu, os discípulos e apóstolos, os paralíticos e possessos são exemplos, no Evangelho, de fechaduras abertas. Aliás, o Evangelho é um imenso e expressivo entrançado de encontros e reencontros em que o Rosto de Deus se revela em Jesus Cristo. É a Chave de Jesus – a sua vida - que abre todas essas vidas fechadas.

Em Jesus o Reino aproxima-se definitivamente de nós. E a conversão a que somos chamados é simplesmente sair do “país da trevas” para entrar na Cidade Santa da Jerusalém celeste, a experiência da luz, a morada de Deus com os homens.
Fechaduras que, ainda hoje e a partir de Jesus Cristo, é preciso abrir, com a urgência e a emergência que tem a vida de cada pessoa, são:

* as perspectivas deformadas de si mesmo (dependências afectivas activas e passivas geram simpatias e antipatias nem sempre construtivas);

* as perspectivas deformadas da representação de Deus (não se pode reduzir Deus representando-o à imagem do homem e das suas necessidades; a “experiência de Deus?” não se reduz a uma mero sentimentalismo; quando alguém incoerente quer encontrar Deus apenas por si mesmo, acaba por reduzi-l’O a um estado de alma, um sentimento ou emoção; normalmente, uma pessoa incoerente nunca deixa Deus ter a iniciativa sem a controlar);

* as perspectivas deformadas no que respeita à relação com os outros (não é possível olhar para os outros apenas a partir das necessidades e conveniências próprias de quem observa e com as consequentes antipatias e invejas que se geram daí);

* as perspectivas deformadas no que diz respeito aos ideais de vida (não se pode olhar para a vida apenas a partir do sucesso pessoal constante).

Faz lembrar aquele livro “Cavaleiro da Armadura enferrujada” (de R. Fisher) que narra a história de um « cavaleiro que se considerava muito virtuoso, amável e dedicado. Fazia todas as coisas que fazem os cavaleiros virtuosos, amáveis e dedicados fazem […] Era um cavaleiro famoso pela sua armadura. Reflectia raios de luz tão intensos que, quando o cavaleiro partia para a batalha no seu cavalo, os aldeões juravam ter visto o raiar do sol a norte ou o ocaso a oriente» (p. 11). Mas por nunca querer tirar a armadura de guerra que aparentemente o protegia, deixou-se ficar prisioneiro dentro da sua “protecção” e da sua ferrugem. Aquilo que outrora o havia protegido, agora, e por ser mal usado, era a sua prisão. E fonte da sua infelicidade.
O Natal vem, precisamente, abrir, fazer abrir. Jesus, quando acolhido e amado, liberta-nos das prisões que nos impedem a felicidade. Deixá-l’O nascer dentro de nós (na nossa inteligência, na nossa vontade e no nosso amor) é abrir, sair de nós, ir ao encontro, crescer. Por isso a caridade, a solidariedade, a comum dignidade. Um Santo e Feliz Natal são os meus votos sinceros.


p. Emanuel Matos Silva

segunda-feira, dezembro 08, 2008








A vida do nosso Seminário



- quem semeia com generosidade assim colherá –






A Igreja coloca os olhos nos seus Seminários como tratando-se do seu próprio coração. Porque a vocação de cada padre que cresce no Seminário é sempre um mistério de amor e de fé, um verdadeiro milagre da confiança e da ousadia, um projecto da vida disponível e entregue nas mãos de Deus, tem um sentido profundo rezarmos pelos nossos Seminários. E tem sentido também, na comunhão e corresponsabilidade eclesiais, reflectir de que formas Jesus Cristo chama hoje ao seu serviço na Igreja.






No nosso Seminário Diocesano, neste momento, contamos apenas com dois Seminaristas Maiores (o Nuno, da Bemposta, que está no 4º ano e o Gilberto, do Vale da Lousa, Isna, que está no 5º ano).





Os Indicativos na nossa Diocese de Portalegre – Castelo Branco
Entre 1930 e 1939, quando o Seminário Diocesano conseguiu recuperar da extinção a que a que 1910 tinha conduzido, ordenaram-se 70 presbíteros na Diocese. Entre 1940 e 1949 ordenaram 45 presbíteros. Entre 1950 e 1959 ordenaram-se 55 presbíteros. De 1960 a 1969 ordenaram-se 47 presbíteros. De 1970 a 1979 ordenaram-se 8 presbíteros. De 1980 a 1989 ordenaram-se 8 presbíteros. De 1990 a 1999 ordenaram-se 18 presbíteros, e de 2000 a 2008 ordenaram-se 6 presbíteros[1]. Entretanto, dos 256 referidos presbíteros ordenados, muitos já faleceram e, mais recentemente, alguns pediram dispensa do ministério. Actualmente, segundo estatísticas, a Diocese conta com 91 presbíteros diocesanos incardinados e mais 13 presbíteros religiosos[2].
O mundo e o território geográfico e humano da Diocese não são os mesmos hoje e em 1930. Novos contextos políticos, sociais e eclesiais, escolas, vias de comunicação, meios de comunicação social, emigração, desertificação, diminuição e/ou deslocação das populações para os centros urbanos e para fora do território diocesano, diminuição da natalidade, abandono e/ou diminuição da prática religiosa, novos modelos de família, etc, são alguns dos elementos (comuns a todo o mundo) que criaram um novo contexto e novos desafios. E a Igreja, Sacramento de Jesus para o mundo, há-de valorizar estes desafios como oportunidades.








Das Comunidades para o Seminário



e do Seminário para as Comunidades
Tudo começa, podemos dizer assim, na forma como nascem e se compreendem as vocações. O ritmo e dinamismo são sempre os do chamamento/resposta e, portanto, de desafio, de transformação, de crescimento, de superação. A resposta segue-se ao chamamento. Não há oferecimento sem chamamento. Quem semeia com generosidade assim colherá. E, da mesma forma que ser padre é ministério de fé, o chamamento e a resposta são uma experiência de fé. E assim, é na Comunidade cristã viva e dinamizada pelos seus pastores que nascem e se podem desenvolver as vocações ao ministério do Padre na Igreja. A comunhão eclesial e presbiteral desperta sempre vocações. Ao contrário, o individualismo pastoral resulta sempre em “crises vocacionais”.
Neste contexto, chamando Deus ao Sacerdócio, o Seminário aparece então como um primeiro passo específico numa longa caminhada de atenção e disponibilidade à vontade de Deus. A sabedoria da Igreja, longa de séculos, assume a experiência da vida comunitária como meio de formação. É o tempo em que cada um se descobre mais a si e descobre os outros. Nesse sentido, o Seminário é a continuidade daquela comunidade que Jesus Cristo construiu com os Apóstolos e onde lhes ensinou a Palavra, a docilidade à vontade do Pai, o amor ao Povo que serviriam. É a comunidade onde Jesus ensinou os seus discípulos a abrir o coração a Deus e ao mundo. Sem essa experiência de comunhão com o Mestre e uns com os outros não seria possível a missão evangelizadora como missão de toda a Igreja.
Um Seminário, comunidade formativa, é por isso e sempre um presbitério (o conjunto dos padres com o seu Bispo) em gestação. A Igreja, aliás, toda ela, é fundamentalmente um mistério de comunhão. Cada seminarista, portanto, não se prepara sozinho para ser padre sozinho, mas prepara-se, desde já, no horizonte de toda a Igreja e do presbitério diocesano. Quando é ordenado padre é recebido como irmão pelos outros padres e acolhe-os no mesmo dinamismo fraterno na comunhão da Igreja diocesana e de toda a Igreja. O Seminário é, por isso, escola de presbitério, uma escola de comunhão, uma escola de Igreja. É uma fraternidade sacramental mais do que uma simples pertença comum.



Acção de cada cristão num projecto que é de todos
Partindo da oração pelos nossos Seminários e da reflexão acerca das formas pelas quais Jesus Cristo hoje chama em Igreja, que podemos fazer pelos nossos Seminários? Eis alguns desafios que cada Paróquia e / ou Comunidade cristã pode concretizar:

1. Partindo da Pessoa de Jesus Cristo, Luz dos Povos, fazer a experiência de Igreja que é comunhão de todos os baptizados como sacramento e sinal da unidade dos homens com Deus e dos homens entre si e fundamentar aí a sua missão de evangelização (LG 1);

2. Reflectir pessoal e comunitariamente o facto de que ser Igreja, pelo baptismo, é naturalmente ser vocação (vocação à vida – vocação à fé – vocação específica na Igreja) e estar disponível para o que Deus quiser;

3. Aprofundar pessoal e comunitariamente – com a possível dinamização do Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações e do Pré-Seminário – os conceitos de vocação bem como as implicações concretas das novas mentalidades e formas de vida na definição vocacional;

4. Promover uma estreita ligação e colaboração entre as Comunidades paroquiais e os diversos Secretariados, bem como dos Secretariados entre si. Promover, nomeadamente, uma ligação e colaboração forte com o Secretariado das Vocações e com o Secretariado da Juventude. O trabalho de evangelização dos jovens (pastoral juvenil) é todo ele vocacional (para as diversas vocações).

5. Valorizar a Liturgia da Paróquia – nomeadamente a Eucaristia e a Reconciliação - como contexto vocacional onde Deus fala e é acolhido e sublinhar verbalmente essa sua dimensão.

6. Valorizar e acompanhar os grupos de acólitos pela proximidade à celebração do Mistério da fé.

7. Promover, no contexto da Oração Universal da Eucaristia do Domingo, uma intenção pelas vocações, uma intenção pelos seminaristas e pré-seminaristas (fazendo alusão explícita aos da Paróquia ou dela conhecidos), uma intenção pelos sacerdotes … a par com todas as outras intenções.

8. Valorização dos textos bíblicos de cariz vocacional da Eucaristia (Dominical ou ferial) para sublinhar o chamamento de Deus ao seu serviço e a alegria de Lhe poder entregar a vida (momento de esclarecimento, testemunho e desafio pela alegria e sentido do ministério);

9. Referir e sublinhar o testemunho de Sacerdotes que tenham ajudado a construir a comunidade em que se celebra ou que tenham sido referência local (a sua santidade, o seu espírito de serviço e de ajuda …). Sublinhar, nomeadamente, o seu testemunho sacerdotal por ocasião das celebrações dos jubileus de Ordenação.

10. Sublinhar a naturalidade do “ser padre” num mundo onde todos querem que a sua liberdade seja respeitada. Como afirmava o Papa João Paulo II, “este é um tempo extraordinário para se ser padre”.

11. Contactar pessoal e directamente algum ou vários rapazes no contexto da Paróquia e dos seus grupos ou actividades (Acólitos, Grupos de jovens, Escuteiros, etc, etc)

12. Estabelecer contacto estreito com os serviços e instâncias diocesanas de acompanhamento vocacional e de ajuda no discernimento. Dar visibilidade nas comunidades aos programas de actividades da Pastoral dos Jovens e da Pastoral das Vocações e Pré-Seminário.

13. Promover encontros dos jovens da Paróquia (grupos ou movimentos) com os Seminaristas ou, inclusive, com grupos de Sacerdotes.

14. Encaminhar os rapazes que se interroguem vocacionalmente para o Pré-Seminário, actividades do SDPJuventude ou SDPVocações, de acordo com os responsáveis.

15. Ajudar, em alguns casos monetariamente (viagens), os jovens que desejem participar nos encontros do Pré- Seminário.

Rezar pelo Seminário é fazer-lhe sentir a proximidade da comunidade cristã e dizer-lhe que se compreende que o lugar dele é precisamente na comunidade cristã. Os cristãos, diz-nos o Livro dos Actos dos Apóstolos, eram unidos na oração, tinham tudo em comum. Por isso a oração pelos Seminário é uma experiência de comunhão da Igreja que se dirige a Deus como o seu Pai do Céu.
Faz bem ao Seminário sentir a presença da comunidade diocesana e das paróquias com seus padres, cristãos e religiosos. É aí que Deus chama e esse é o destino dos que são chamados. Faz bem ao Seminário, na partilha e na oração, sentir-se amado. E faz bem às comunidades sentirem o Seminário presente na sua vida de Igreja e conhecerem os rostos concretos daqueles que neles se prepararam para serem servidores do Povo de Deus como padres. A juventude do Seminário faz bem às comunidades e a história e fidelidade das comunidades a Deus desafia o Seminário.


p. Emanuel Matos Silva

[1] Dados fornecidos pelo Cónego Bonifácio Bernardo, Secretariado Diocesano da Pastoral
[2] Cf. Anuário 2007 da Diocese, p. 58.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Pastoral das Vocações e Pré – Seminário

Programa 2008/09



  • Outubro 2008
    12. Out. – Entrada solene de D. Antonino Dias na Diocese
    18 e 19. Out. – Presença em Paróquias
    25. Out. – Reunião com Párocos (I)
    – Fim de tarde “Provocação” - Grupo de pesquisa e reflexão vocacional” (I) 26. Out. - Presença em Paróquias

    Novembro 2008
    9 a 16. Nov. – Semana dos Seminários
    15 e 16. Nov. – Encontro de Pré – Seminário Diocesano
    23. Nov. - Presença em Paróquias
    29. Nov. – Fim de tarde “Provocação” - Grupo de pesquisa e reflexão vocacional” (II)
    30. Nov. - Presença em Paróquias

    Dezembro 2008
    13 e 14. Dez. - Encontro de Pré – Seminário Diocesano

    Janeiro 2009
    10 e 11. Jan. - Presença em Paróquias 17 e 18. Jan. - Encontro de Pré – Seminário Diocesano
    24. Jan. – Reunião com Párocos (II)
    – Fim de tarde “Provocação” (Grupo de pesquisa e reflexão vocacional” (III)
    25. Jan. - Presença em Paróquias

    Fevereiro 2009
    7 e 8. Fev. - Presença em Paróquias
    14 e 15. Fev. - Encontro de Pré – Seminário Diocesano

    Março 2009
    7. Mar. – Fim de tarde “Provocação” (Grupo de pesquisa e reflexão vocacional” (IV)
    8. Mar. - Presença em Paróquias
    14 e 15. Mar. - Encontro de Pré – Seminário Diocesano: Retiro
    28 e 29. Mar. - Presença em Paróquias

    Abril 2009
    5 a 12. Abril. Semana Santa e Páscoa da Ressurreição
    25. Abril – Fim de tarde “Provocação” (Grupo de pesquisa e reflexão vocacional” (V)
    26. Abril - Presença em Paróquias

    Maio 2009
    3 a 10. Maio – Semana de Oração pelas Vocações
    9 e 10. Maio – Encontro de Pré – Seminário Diocesano
    31. Maio – Peregrinação Diocesana ao Santuário de Nª Senhora de Fátima

    Junho 2009
    6 e 7. Junho – Simpósio Paulino (Coimbra)
    13. Junho – Fim de tarde “Provocação” (Grupo de pesquisa e reflexão vocacional) (VI)
    13 e 14. Junho - Encontro de Pré – Seminário Diocesano
    20. Junho – Reunião com Párocos (III)
    21. Junho - Presença em Paróquias
    27 e 28. Junho - Presença em Paróquias

    Julho 2009
    11 e 12. Julho - Encontro de Pré – Seminário Diocesano e de admissão ao Seminário



    Observações:
    1. A “Presença nas Paróquias” é uma actividade de divulgação vocacional, participação na celebração da fé das Comunidades e contacto com grupos paroquiais;

    2. Os “Encontros de Pré-Seminário Diocesano” destinam-se a jovens entre os 13 e os 17/18 anos e realizar-se-ão, em princípio, no Seminário de S. José em Alcains. No entanto, e mediante aviso prévio, o local pode ser alterado. É necessário, por isso, inscrição prévia (e.pro.vocacao@sapo.pt ou Tel. 917 097 173);

    3. Os ‘Fim de tarde “Provocação” (Grupo de pesquisa e reflexão vocacional)’ são fins de tarde ou serões destinados a jovens entre os 17/18 e os 35 anos (rapazes ou raparigas) que se interrogam sobre a orientação da sua vida e desejam reflectir o que é uma vocação. Estarão em reflexão todas as vocações. Os encontros decorrerão na Casa Diocesana de Sta. Maria em Abrantes entre as 17h30 e as 19h30. Alguns dias integrarão o jantar. As inscrições podem ser feitas para e.pro.vocacao@sapo.pt ou Tel. 917 097 173.

segunda-feira, setembro 08, 2008


O Secretariado Diocesano das Vocações
saúda e acolhe com muita alegria
o Senhor D. Antonino Dias,
novo Bispo da nossa
Diocese de Portalegre - Castelo Branco

terça-feira, julho 01, 2008

"Vou ser Padre"
"Não queres também tu ouvir o que Deus para te dizer?"
"Confia em Deus"
"Ele surpreende-nos sempre"

segunda-feira, junho 30, 2008




Peregrinação a pé
do
Seminário Maior
ao
Santuário
do
Divino Senhor da Serra


6 de Julho 2008
Catedral de Castelo Branco
17h00
Daniel Santos Almeida
vai ser ordenado
Presbítero
para o serviço da nossa
Igreja diocesana
de
Portalegre - Castelo Branco

segunda-feira, junho 16, 2008

SE QUER
QUE ALGUÉM QUE CONHECE
CRESÇA MAL,
FAÇA ASSIM




a. Contente-se com o “satisfaz menos”
b. Dê-lhe carinhos “de segunda”
c. Ande sempre com ar deprimido
d. Transforme a família numa caixa de solidões
e. Repita-lhe mil vezes ao dia que nunca deve dar valor às coisas sérias demais ou que o “trabalho é bom para os outros”
f. Coloque a família sempre depois do trabalho
g. “Acorde” apenas quando ele já for grande
h. Não o repreenda nunca…
i. Superproteja-o
j. Descarregue-o sempre para os avós …
k. Encha-o de tudo o que ele quer
l. Dê-lhe o nome de uma moto
m. Venda-o ao sucesso desde pequenino
n. Faça-lhe crer que a vida é um paraíso
o. Deixe-o colado à televisão todo o dia
p. Crie-o numa estufa
q. etc[1]


[1] António MAZZI, Como estragar um filho em dez jogadas (Lisboa: Paulus, 2005) 89.

domingo, junho 08, 2008


Os Presbíteros na Igreja - IV –

A identidade do padre na Igreja


O que é, melhor, quem é o padre? Todos conhecemos certamente padres que, pelo que fazem e pela maneira como o fazem, nos ajudam a compreender o que é um padre. Mas o que está na origem de uma vida assim?

1. As afirmações fundamentais da Igreja

No Concílio Vaticano II, a Igreja define o padre da seguinte maneira: os presbíteros são consagrados á imagem de Cristo para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino (LG 28).
E todo o restante número 28 desta Constituição sobre a Igreja (Lumen Gentium) nos apresenta o padre na sua relação a Cristo à Igreja e, na Igreja - sinal e sacramento de Cristo - aos bispos, ao presbitério (irmãos padres) e ao povo de Deus.
O padre é, portanto, ministro de uma Igreja que é Sacramento de Cristo, Luz dos Povos, e que para se expressar na vida dos homens precisa de ministros que sirvam essa sacramentalidade.
Por isso mesmo, o decreto sobre o Ministério e vida dos sacerdotes (PO) afirmará, a certa altura, que os presbíteros [..] não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores de uma vida diferente da terrena, e nem poderiam servir os homens se permanecessem alheios à sua vida e às suas situações (PO 3). A sua vida transcorre, de facto, entre a convivência e a diferença.

2. Uma realidade cristã original

Desta forma o presbiterado (ser padre) surge, de facto, como uma realidade cristã original, interior à própria revelação e centrada sobre Cristo. Podemos então resumir algumas características da identidade e missão do padre segundo o pensamento da Igreja no Vaticano II:

2.1.Ser presbítero é realização, em nós, do Senhor Jesus, Cristo.

Ser presbítero é realização. em, nós do Senhor Jesus, Cristo. O seu ministério, se quisermos o seu sacerdócio, é o fundamento contínuo e continuado do nosso ministério e não apenas um primeiro elo de uma cadeia da qual todos faríamos parte:
- Ser padre é uma realidade que não tem apenas algo a ver com a celebração da Eucaristia, mas que está relacionada com a missão de toda a Igreja;
- A sua acção não se limita ao poder de consagrar o Corpo de Cristo (Eucaristia) mas alarga-se à acção em nome de Cristo, Cabeça da sua Igreja, seu Corpo eclesial.
- Os padres recebem a sua autoridade de Cristo, em Igreja, na criação dos grupos de apóstolos que são enviados em nome do mesmo Cristo; o padre participa na missão apostólica de toda a Igreja: ele conduz uma comunidade nascida da acção da Palavra de Deus

2. 2. Fazer com a nossa vida o que Cristo fez com a sua

Tendo vivido o seu ministério, o seu sacerdócio, não pela imolação de touros e cabritos, mas pela oblação de si mesmo o Ressuscitado dá a todos os cristãos a possibilidade de fazer o mesmo com a sua existência pessoal concreta [(Rom 12, 1-2) (falamos do sacerdócio baptismal)]. Mas é dentro desta possibilidade salvífica que o Ressuscitado dá a todos os cristãos a possibilidade de fazerem com sua vida o que Ele mesmo fez, que surgirá o que chamamos de sacerdócio ministerial (ministério ordenado ): na Igreja, alguns, entre muitos, são constituídos para o serviço de’ todos os outros.

Então, longe de se opôr ao sacerdócio dos baptizados, o presbítero permite a vivência dessa dimensão de toda a Igreja. Significa que as suas identidades (a dos baptizados e a dos ministros ordenados ) se reforçam mutuamente com a sua comunhão: a distinção une-as[1]. Estão ordenados um para o outro (LG 10). Então para que todos possam viver a sua dimensão baptismal é necessário que alguns sejam ministros. E a Ordem não significará nunca um degrau mais elevado de santidade em relação ao sacerdócio baptismal, mas apenas um caminho diferente:

- O ministério do padre não é, portanto, destinado apenas ao culto, mas sim ao apostolado que congrega numa mesma realidade o anúncio da Palavra, a celebração dos sacramentos e a condução pastoral. O verdadeiro sacrifício é o de se oferecer a si mesmo, o de dar a sua vida como oferta espiritual.
- O ministério do padre (presbítero) é um Dom de Cristo à sua Igreja. A ordem é recebida em Igreja por baptizados chamados na fé para um serviço específico na Igreja e como seu sinal;
- Os padres são unidos à missão dos bispos que é a mesma missão que eles receberam dos apóstolos;
- Nesse sentido, porque unidos e enquanto unidos aos bispos, os padres representam o Bispo e a Igreja Universal;

3. Evangelizar, conduzir e santificar

O ministério presbiteral é também o mesmo que Jesus entregou aos Apóstolos com a missão de evangelizar, conduzir e santificar. E isso significa que, na unidade de presbitério em comunhão com o Bispo, sucessor dos Apóstolos, o ministério ordenado se efectiva a maneira do ministério dos apóstolos, ou seja num dinamismo de evangelização e num Dom total de si mesmo. É assim que o sacerdócio não é um emprego, mas é um estado vida caracterizado pela consagração de si ao serviço evangélico dos outros:
- As tarefas que se impõem aos padre são as mesmas que se impõem aos bispos na continuidade da missão apostólica: pregar e anunciar o Evangelho, guiar o povo de Deus (Igreja) e celebrar o culto na Liturgia como sacerdotes o Novo Testamento, isto é, unidos a Cristo.
- É, portanto, toda a vida do padre - nas suas relações com as pessoas - que dá glória a Deus

Afirma a Igreja (PO 3) que os presbíteros não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores duma vida diferente da terrena, e nem poderiam servir os homens se permanecessem alheios à sua vida e às suas situações. O seu próprio ministério exige, por um título especial, que não se conformem a este mundo; mas exige também que vivam neste mundo entre os homens e, como bons pastores, conheçam aqueles que lhes estão confiados, para que também esses oiçam a voz de Cristo.

No seio de todo um Povo sacerdotal, de toda uma Igreja, os padres, somos ungidos de novo – porque o Senhor nos quer – para sermos mediadores do sacerdócio de Jesus Cristo, cabeça da Igreja. Somos diferentes e devemos aceitar que o somos porque o Senhor nos escolheu e nos colocou no mundo como sua presença particular para construção de toda a Igreja que é o seu Corpo[2].

E é aqui – neste ponto – que existe muito quem confunda a proximidade que o sacerdote, enquanto pastor, deve ter para com os homens e mulheres do seu tempo, na disponibilidade e simplicidade de vida, com o anular dessa diferença, igualando-o a todos os outros homens. É por isso que a frase tantas vezes ouvida que diz que o padre é um homem igual a tantos outros é perigosa e terrivelmente enganadora[3].

[1] Cf. André MANARANCHE, Vouloir et former des prêtres (paris: Fayard, 122.’!) 264.

[2] Cf. D.José da Cruz POLICARPO, Subamos para Jerusalém (Lisboa: Paulistas, 1998)93.
[3] Cf. Ibid.

quarta-feira, junho 04, 2008



« De facto, nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum morre para si mesmo. Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; e se morremos, é para o Senhor que morremos. Ou seja, quer vivamos quer morramos, é ao Senhor que pertencemos. Pois foi para isto que Cristo morreu e voltou à vida: para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos » (Rom 14, 7-9).
Padre Francisco António Rosado Belo
Nascimento: 19. Abril. 1929
Ordenação de Presbítero: 13. Julho. 1958
Partida para o Pai: 4. Junho. 2008
Para pensar a morte:
« A eventualidade da morte está integrada na minha vida; olhar a morte de frente e aceitá-la como parte integrante da vida faz-nos alargar a própria vida. Ao contrário, sacrificar à morte um pedaço pequeno que seja de vida, por medo da morte ou recusa em aceitá-la, é igual a não guardar senão um pobre bocado de vida mutilada ».
Etty Hillesum
« Se os mortos não se vêem mais é talvez porque eles encontraram uma maravilha muito maior do que toda a sua vida passada »
Christian Bobin
Para rezar:
Deus eterno e omnipotente, que estabelecestes o termo da vida presente para abrir as portas da eternidade, humildemente Vos suplicamos que, pela vossa benihna misericórdia, mandeis escrever o nome do vosso servo Francsico Rosado Belo, Sacerdote, no livro da vida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus conVosco na unidade do Espírito Santo. Amen.

terça-feira, junho 03, 2008




“Não há nada mais prático
do que encontrar Deus;
ou seja, apaixonar-se por Ele
de um modo absoluto, até ao fim.

Aquilo pelo qual estás apaixonado
agarra a tua imaginação
e acaba por
ir deixando a sua marca em tudo.
Determinará

o que te faz sair da cama cada manhã,
o que fazes com as tuas tardes,
como passas os teus fins-de-semana,
o que lês,o que conheces,
o que te faz sentir o coração desfeito,
e o que te faz transbordar de alegria e gratidão.

Apaixona-te!
Permanece no amor!Tudo passará a ser diferente”.


Pedro Arrupe, sj (1907-1991)
Uma vida feliz para Cristo
como "Padre" na Igreja
Daniel Santos Almeida
Ordenação de Padre
6. Julho. 2008
Sé de Castelo Branco
17h00
Vamos rezar pelo Daniel
e por todos os Padres
[Senhor Jesus ...]
Uma vida feliz para Cristo
como "Padre" na Igreja
Daniel Santos Almeida
Ordenação de Padre
6. Julho. 2008
Sé de Castelo Branco
16h00
Vamos rezar pelo Daniel
e por todos os Padres
«Senhor Jesus, Tu escolhestes os teus sacerdotes de entre nós e os mandaste a proclamar a tua Palavra e agir em teu nome. Por tão grande dom para a tua Igreja nós te louvamos e agradecemos. Nós te pedimos que os enchas com o fogo do teu amor, de modo que o seu ministério possa revelar a tua presença na Igreja. Uma vez que eles são vasos de barro, nós pedimos que o teu poder resplandeça através da sua fraqueza. Nas suas aflições não permitais ques ejam esmagados, nas suas dúvidas não permitais que desesperem, nas tentações não permitais que sejam destruídos, nas perseguições não permitais que sejam abandonados. Inspira-os através da oração a viver cada dia o mistério da tua morte e ressurreição. Nos tempos de fraqueza manda sobre eles o teu Espírito e ajuda-os a louvar o Pai e a rezar pelos pecadores. Pelo mesmo Espírito Santo põe as tuas Palavras nas suas bocas e o teu amor nos seus corações para levarem a Boa Nova aos pobres e a cura aos corações despedaçados. E possa o dom de Maria, tua Mãe, ao discípulo que amavas ser o teu dom da tua Mãe a cada sacerdote. Concede que aquela que te formou à sua imagem humana os possa formar à tua imagem divina pelo poder do teu Espírito, para glória de Deus Pai. Amen

Encontro de 14 e 15 de Junho em Alcains
Inscreve-te:
- 917 097 173

“Jesus está cá e chama-te”

Encontro de admissão
ao Pré-Seminário e Seminário Diocesanos

14 e 15 de Junho 2008
no Seminário de S. José
- Alcains -

Se tens 14 anos ou mais,
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Um encontro de reflexão, convívio,
oração e discernimento
porque Jesus chama ao serviço
na sua Igreja e é necessário reconhecê-l’O
para ir aonde nos quer levar

domingo, junho 01, 2008


"Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,quem não se deixa ajudar.Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,repetindo todos os dias o mesmo trajecto,quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor,ou não conversa com quem não conhece.Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.Morre lentamente quem evita uma paixão,quem prefere o negro sobre o branco,e os pontos sobre os is em detrimento de um redemoinho de emoções,justamente as que resgatam o brilho nos olhos,sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da má sorteou da chuva que cai incessante.Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,não pergunta sobre um assunto que desconheceou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.Evitemos a morte em doses suaves,recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maiorque o simples fato de respirar.Somente a perseverança fará com que conquistemosum estágio esplêndido de Felicidade."(Pablo Neruda)

Os Presbíteros na vida da Igreja – III


4. Características do ministério

4.1. Ao serviço de todos, alguns são ministros
No NT há, portanto, um conjunto de relações extremamente ricas entre todos os baptizados. E, no meio desses baptizados, existe um que exerce um ministério.
Trata-se de fazer crescer a ekklesia, a assembleia dos cristãos. A relação dos primeiros cristãos é uma relação feita de um serviço mútuo entre todos os membros da comunidae manifestando uma total dependência de todos, apenas em relação ao senhor Jesus.

Surge assim uma grande diversidade de ministérios e de serviços necessários às comunidades ( à sua vida). Estas figuras (ministérios) dependem do contexto local e da ligação ao fundador de cada Igreja.

4.2. Que unidade existe entre todos estes ministérios?
Podemos estabelecer uma certa síntese da acção destes ministros a partir das relações que eles estabelecem. Estão ao serviço de quem ?
Podemos dizer que aqueles que desempenham um ministério na Comunidade estão ao serviço de três relações essenciais:
- com os não cristãos (...)
- com as outras igrejas (...)
- no interior de cada comunidade (...)

4.3. Como são escolhidos os ministros?
A investidura dos ministros não obedece também a regras uniformes. Reina uma grande diversidade neste domínio. Os ministros eram escolhidos do meio da Comunidade. Os Apóstolos têm. contudo, um importante papel na medida em que a sua autoridade lhes vem de Cristo.
Além disso há a própria Comunidade. E, não podemos esquecer, o Espírito Santo.
Pouco a pouco, na forma, o gesto da imposição das mãos e invocação do espírito santo foi-se tornando o gesto público da designação para determinado ministério. Para desempenhar um ministério eram precisas (1º) a competência que vinha de Deus e (2º) o reconhecimento dos irmãos.

4.4. Um ministério principal colegial
Encontramos no NT em todos os períodos um conjunto de minsitros que que constitui um ministério principal ( é um ministério colegial e diversificado). Não se trata de um super-ministro, mas sim de um grupo de ministros que assegura uma responsabilidade de conjunto na Igreja.

Quem é este ministério colegial ?
Os responsáveis das Igrejas (1-apóstolos; apóstolos-profetas-doutores; bispos e diáconos; bispos e presbíteros.
Fundamentalmente é um ministério ao serviço da unidade de todos os outros ministérios. É ele que ordena todos os outros minsitérios.

4.5. As sua principias funções:
- serviço da Palavra de Deus (actores da evangelização)
- serviço de comunhão fraterna (presidem á oração comum e à fracção do pão);
- serviço da caridade (diaconia)
E aqui temos já as funções dos bispos, presbíteros e diáconos.

5. Algumas conclusões provisórias do que afirmámos até aqui:

a. Uma igualdade profunda liga de maneira solidária todos os cristãos. Todos receberam o mesmo Espírito que se exprime, contudo, em dons e serviços diferentes. Mas é o mesmo e único Espírito.

b. Toda a Comunidade no NT se encontra “numa situação de serviço”. Não pelos seus próprios objectivos mas por serviço a Cristo e aos homens. Esta dimensão ministerial é constitutiva da Comunidade no seu conjunto.

c. A Comunidade prolonga assim a acção de Deus no mundo. Uma acção que teve lugar de maneira especial em Jesus Cristo e na “fundação” da Igreja pelos Apóstolos. Deus continua a reunir o seu Povo pela sua Palavra.

d. Os ministros, nestas Comunidades, não são apenas garantia da continuidade do passado mas sim garantia da actualidade da fé. A sua presença é constitutiva da Igreja.

sexta-feira, maio 16, 2008


Os Presbíteros na vida da Igreja – II


II - O Novo Testamento e o presbiterado:
testemunho de uma grande diversidade

1. Diversidade geográfica de comunidades cristãs:

O NT é composto de textos muito diferentes mas que, no conjunto, nos informam de maneira mais ou menos detalhada acerca da vida da Comunidade primitiva.
Os Apóstolos ou seus representantes escrevem às Comunidades que fundaram ou que formam na fé. Geralmente escrevem para intervir em questões doutrinais ou que têm a ver com a vida comunitária. Paulo, por exemplo, como o Evangelho de Lucas, dirige-se sobretudo aos cristãos do mundo grego: a Igreja dos Tessalonicenses, os Gálatas, os Coríntios... mas Paulo escreve também a todos os “bem-amados de Deus que estão em Roma”.
Marcos é redigido especificamente com a intenção de catequizar os catecúmenos de Roma. Já o Evangelho de Mateus coloca-nos nas Igrejas estabelecidas na Síria e na Palestina - comunidades de origens judaicas e os escritos de João têm como destinatários os cristãos da Ásia Menor. Portanto, estamos perante uma grande diversidade de comunidades cristãs.


2. Diversidade no tempo

O Novo Testamento comporta dois grandes períodos: apostólico e pós-apostólico.
O Período Apostólico é o tempo que se abre com a Ressurreição de Cristo e se fecha com a morte dos Apóstolos (martírio de Pedro e Paulo em Roma por volta do ano 67). É a época dos Apóstolos, testemunhas históricas da vida, da morte e da ressurreição de Jesus, o Cristo. Primeiro são os 12. Espontaneamente associamos os Doze aos Apóstolos e seus sucessores. Mas 12 é um número simbólico utilizado com um sentido bem específico por Lucas, autor do Evangelho e dos Actos. O Povo Judeu era constituído por 12 tribos. Depois da Ressurreição, os 12 permanecem Apóstolos, um “colégio” que se alargará a outras testemunhas de Cristo Ressuscitado, dos quais o mais célebre é Paulo.

As primeiras perseguições em Jerusalém estimulam a missão - imensas comunidades nascem e se desenvolvem na Judeia e, depois, fora dela. Antioquia, por exemplo, um verdadeiro centro missionário, vai fornecer um modelo de Igreja comunitário. À frente destas Comunidades aparece um grupo constituído por apóstolos – profetas - doutores. Em Jerusalém e na Palestina a organização faz-se sobre o modelo judaico, com um grupo de “presbíteros” (anciãos) e os doutores. Neste momento cada Comunidade permanece numa estreita ligação a um ou outro Apóstolo. Os fundadores participam da vida das comunidades, das Igrejas locais.
O período Pós-Apostólico que se segue ao período apostólico é um tempo de afirmação e consolidação na medida em que os fundadores desaparecem e é necessário quem lhes suceda. Trata-se pois de organizar a sucessão dos Apóstolos na fidelidade à fé recebida dos mesmos Apóstolos.

Em finais do 1º século já se afirma uma certa organização: as Epístolas de Timóteo e Tito, nomeadamente, apresentam-nos “presbíteros” (anciãos), “ episcopos” ( vigilantes) e diáconos (servidores). Reconhecemos aqui já os três “títulos” de organização eclesial actual dos ministérios na Igreja : em cada Diocese há um Bispo assistido pelos presbíteros e por Diáconos.
Mas esta organização não aparece, logo de início, muito explícita no Novo Testamento. O Novo Testamento possui em si duas épocas e a passagem de uma à outra. Por um lado mostra-nos a criatividade fecunda das comunidades - elas dão-se a si mesmas, graças ao Espírito Santo, todos os ministérios e responsáveis de que têm necessidade. Por outro lado o NT mostra-nos o grande esforço de fidelidade a Cristo e aos apóstolos fundadores pela harmonização progressiva dos carismas e dos ministérios. Possuir em conjunto estas duas dimensões (criatividade e fidelidade) - é o testemunho pelo qual temos de nos regular (“carismas e instituição na mesma comunidade e para crescimento e unidade da mesma” ). O Novo Testamento mostra-nos, portanto, como a Comunidade cristã nascente (a Igreja) foi respondendo às necessidades múltiplas nascidas da evangelização e como estas suscitaram também respostas múltiplas e variadas.

- III – Todos os baptizados,
participantes do ministério da Igreja

Nas Comunidades do NT todos os cristãos têm competência para agir - todos participam no serviço fundamental do Evangelho: serviço a Cristo e aos homens. É toda a Comunidade de baptizados, com os seus diferentes ministérios, que prolonga a acção de Deus.

1. Os Ministros eclesiais nas Epístolas Paulinas

1.1 Carta aos Efésios

Os Apóstolos e os Profetas estão à frente da Comunidade. Seguem-se-lhes os evangelistas, os pastores e os doutores (Ef 2, 20; 3, 5; 4, 11). Os ministérios são aí serviços de unidade e da Palavra. A Carta aos Efésios (escrita entre o ano 61 e 63) mostra-nos bem a concepção de Paulo: todos responsáveis do Corpo de Cristo. Jesus Cristo é a Pedra Angular. Ele é o autor da Igreja

1.2. Cartas Pastorais (Tito e Timóteo)

Estes Escritos do NT correspondem a um estádio mais avançado da organização das Comunidades ou Igrejas. O contexto é o de variadas polémicas. Trata-se, por isso, de organizar comunidades em fidelidade aos Apóstolos fundadores. À cabeça destas comunidades encontramos já os Presbíteros (anciãos), os episcopos (vigilantes) e os servidores (diáconos, possivelmente). Nestas Cartas podemos constatar que os dois discípulos de Paulo foram colocados ao serviço por uma imposição das mãos (2 Tim 1, 6).

1.3. Romanos e Coríntios: o facto Comunitário em São Paulo

“Servidor de Cristo, apóstolo por vocação, posto à parte para anunciar o Evangelho de Deus...” (Rom 1, 1) - é assim que o próprio Paulo se auto-define. As Igrejas paulinas, nascidas num meio helenista caracterizam-se pela sua tradição de “fraternidade” e “hospitalidade” .
Paulo coloca muito em destaque o valor da diversidade de dons que o Espírito suscita no meio dos cristãos. Ele afirma constantemente que os dons e carismas se destinam e ordenam todos ao serviço do Evangelho, ao bem comum e ao crecimento do Corpo de Cristo. Todos são responsáveis mas cada um tem a sua parte particular de serviço - todos, na comunidade, se sentem responsáveis.

“Apóstolos- Profetas - Doutores” ter sido os nomes dos primeiros ministérios nas Igrejas do NT. É uma organização própria da Igreja de Antioquia onde Paulo permaneceu algum tempo com Barnabé. Os Apóstolos são missionários itinerantes, mandatados por uma Igreja para anunciar a Palavra e fundar novas comunidades. Os Profetas são aqueles que interpretam o que o Espírito diz à Comunidade Cristã. Têm a função da actualização da fé (1 Cor 14, 4). Os Doutores estão associados aos Profetas. Fazem a releitura e comentário dos textos sagrados, asseguram o ensino sistemático, explicam as Escrituras. São aqueles que ensinam na Comunidade.

2. Os Ministros eclesiais nos Actos dos Apóstolos

Nos Actos dos Apóstolos, S. Lucas faz desfilar imensos actores. Principalmente os doze apóstolos com a sua cabeça, S. Pedro. Lucas reserva um lugar especial para Pedro no meio dos outros apóstolos. Mas o texto dá também uma grande importância a Paulo e a outros missionários itinerantes, sobretudo Barnabé.
Para Lucas os Apóstolos são os portadores da Palavra de Deus. Nos Actos as comunidades organizam-se de diversas formas:
- Jerusalém : a comunidade organiza-se em redor de profetas, anciãos ou presbíteros, e o grupo dos sete diáconos.
- em Antioquia a comunidade organiza-se em torno de profetas e doutores numa estreita ligação com os apóstolos.

3. S.Mateus

Em S. Mateus evidencia-se, sobretudo a exigência de todos viverem segundo o Evangelho. E, nessa medida, o que é importante é a fidelidade ao ensinamento de Jesus Cristo. A Comunidade de Mateus é um Comunidade que acredita na presença de Cristo no meio de si mesma.

segunda-feira, maio 12, 2008


Os Presbíteros na vida da Igreja – I


No dia 1 de Maio a nossa Diocese celebrou em festa diocesana os cinquenta anos de ordenação para o seu Presbitério de três Sacerdotes: o Padre Alberto Jorge, actualmente Vigário Paroquial da Sé de Portalegre e Pároco de Carreiras; o Cónego Amândio Tomé, Pároco de Cebolais de Cima; e o Padre Dr. Francisco Belo, Vigário Paroquial de Abrantes há já algum tempo.

Além da gratidão pelo trabalho que desenvolveram ao longo de cinquenta anos de Sacerdócio, a Igreja diocesana quer sublinhar nesta celebração o lugar e o sentido do presbiterado na Igreja.

O ponto de partida para uma reflexão sobre o presbiterado tem de ser, naturalmente, Jesus Cristo e a Igreja. E isto sempre em contexto de Novo Testamento. Jesus Cristo, que em si mesmo e nas suas acções (Palavra e Gesto) Se revela como Caminho, Verdade e Vida. Caminho, Verdade, Vida como experiências realizáveis pela humanidade e não apenas como abstracções.
O próprio NT tem de ser interpretado em referência a Jesus Cristo e ao seu acontecimento. Trata-se de uma experiência que precede a reflexão sistemática: a fé, a oração e a acção dos crentes precederam a elaboração escrita do que hoje chamamos Novo Testamento.

Por isso podemos dizer que ainda antes do Novo Testamento há a considerar a Igreja que nasce no coração do acontecimento da Páscoa - Pentecostes. Ou seja, uma pequena comunidade que vive no meio ambiente do Judaísmo e se empenha na proclamação de uma Boa Nova de Jesus Cristo.
E como, com o tempo, os testemunhos da geração que historicamente contactou com Jesus ou com os Apóstolos começaram a desaparecer, tornou-se necessário recolhê-los e escrevê-los. Tal como o testemunho de Jesus Cristo na história foi novo e decisivo, os testemunhos da primeira geração cristã são também decisivos e únicos. Sem eles a fé desenraizar-se-ia da história.
É então no decorrer do séc. I e II que se efectuará a recepção dos diversos testemunhos de fé para fixar “uma regra”. Isso permitirá que se vá definindo uma identidade própria (da Igreja e do Cristianismo) e que se vá lutando contra certos erros teológicos ou ideias menos substanciadas.
Os textos têm uma função muito importante na Igreja. Eles prestam um serviço à Igreja, lembrando-nos a fonte da nossa fé - Jesus Cristo. Mas, ao mesmo tempo, porque referências das formas de vida das primeiras gerações cristãs, os textos oferecem-nos também o que podemos chamar de “normas de organização” das mesmas primeiras comunidades na sua diversidade e unidade.

- I –
Jesus Cristo, a Luz dos Povos,
e a Igreja seu sacramento ou sinal (LG 1)
Jesus Cristo, o Filho Único de Deus, ao encarnar assumiu a missão da libertação do homem na sua mais profunda realidade. Palavra e gesto, Palavra e acção sempre se iluminaram mutuamente na vida e ministério de Jesus. Ele é e diz a Palavra de Deus. E os gestos e tipo de presença à humanidade mostram como a Palavra encarnada, assumida, age na vida dos homens. A Palavra explica o gesto e o gesto explicita e realiza a Palavra fazendo com que seja melhor compreendida e acolhida. É assim o ritmo da revelação de Deus ao mundo.
A morte surge na vida de Jesus como a plenitude da sua vida. Não é um acaso, não é uma eventualidade. Jesus morreu como viveu – fazendo entrega plena de si para que os homens conheçam melhor Deus e se conheçam melhor a si mesmos.
Por isso a Igreja surge da morte e ressurreição de Jesus como o conjunto daquelas e daqueles discípulos que, sentindo-se identificados com Jesus e a sua missão, querem ritmar a sua vida pelos valores do seu Reino e abrem o seu coração e a sua verdade à acção da força do mesmo Espírito que agia em Jesus. A missão de Jesus é continuada e, por isso, é anunciada.
Cristo vive, portanto, na sua Igreja que é o seu Corpo glorioso. E tudo o que a Igreja faz, fá-lo em Nome do mesmo Cristo sem o qual não existiria. É Cristo que age na sua Igreja, seu Corpo, sua Presença. E quando nos reunimos em assembleia de Igreja somos, precisamente, a imagem visível deste Corpo: membros diferentes, mas que na diferença se completam uns aos outros e vivem organicamente.
E porque a missão de Jesus continua e tem como objectivo ser acolhida por todos os homens, a Igreja tem como identidade própria ser a presença de Cristo, anunciar Jesus Cristo, fazer discípulos de Jesus Cristo. Essa é uma missão sempre em relação com a natureza e a identidade das pessoas. São elas as destinatárias da salvação de Jesus Cristo.


1. Uma realidade absolutamente nova: Cristo / Igreja
Cristo-Igreja age, portanto, na história dos homens para aí significar a presença de Deus que acompanha essa mesma história com o seu amor. É uma acção sacramental.
Um sacramento é um sinal e um meio de realizar a nossa unidade com Deus. Por isso podem definir-se os sacramentos como sinais eficazes do dom de Deus em Jesus Cristo. E, nesse sentido, podemos dizer que são acções de Cristo na vida dos crentes que se realizam através da sua Palavra e do seu gesto e em profunda relação com a existência humana.
Neste sentido podemos compreender os sacramentos como acções simbólicas (gesto e palavra) que significam e actualizam (torna presente) uma realidade invisível destinada à libertação, salvação e felicidade da humanidade.
Existem na Igreja sete sacramentos: o baptismo, a confirmação, a eucaristia, a penitência (ou reconciliação), a unção dos doentes, a ordem e o matrimónio. Eles são, fundamentalmente, a presença e acção do Único e Primeiro Sacramento (Cristo-Igreja) em diversas situações e dinâmicas da existência humana: o nascimento; o crescimento; as grandes escolhas; os compromissos fundamentais; a releitura da história e recomeço; a confiança para lá da fragilidade humana.
É por isso que os sacramentos contêm sinais na sua explicitação: é para serem melhor acolhidos, compreendidos e integrados na vida. Deus é força em Jesus Cristo e na Igreja nos momentos do nascimento, das escolhas, das opções de compromisso, nas dificuldades, na confiança e na alegria. E essas expressões podem ser melhor compreendidas e integradas através dos sinais e dos símbolos sem os quais a possibilidade e capacidade cognitiva e crente dos cristãos não conseguiria fazer a ponte entre o que se vê imediatamente e aquilo que, não se vendo de imediato, nem por isso deixa de existir.
Aquele que, sacramentalmente, está associado a Cristo é aquele que explicita, celebrando, o sacramento para e com o Povo de Deus. Veja-se, nomeadamente, a Eucaristia.


2. Na Igreja, a “Ordem” dos Presbíteros
O nome de Ordem vem da antiguidade romana e designa a entrada num “corpo constituído”. A Ordem é assim o “corpo constituído” dos servidores do Povo de Deus que Jesus chamou e uniu a si para a mesma missão.
É dentro da possibilidade salvífica que o Ressuscitado dá a todos os cristãos de fazerem com sua vida o que Ele mesmo fez, que surgirá o que chamamos de sacerdócio ministerial (ministério ordenado ): na Igreja, alguns, entre muitos, são constituídos para o serviço de todos os outros. O padre é alguém que entrega a sua vida a Deus por causa dos irmãos.
Cristo é o Único Sacerdote. E realiza o seu Sacerdócio pela entrega de si mesmo. O ministério presbiteral é também o mesmo que Jesus entregou aos Apóstolos com a missão de evangelizar, conduzir e santificar. E isso significa que, na unidade de presbitério em comunhão com o Bispo, sucessor dos Apóstolos, o ministério ordenado se efectiva a maneira do ministério dos apóstolos, ou seja num dinamismo de evangelização e num Dom total de si mesmo. É assim que o sacerdócio não é um emprego, mas é um estado vida caracterizado pela consagração de si ao serviço evangélico dos outros. Este sacramento compreende três graus: o Episcopado (bispo), o presbiterado (padre) e o diaconado (diáconos) com missões concretas específicas, mas sempre dentro e em comunhão com a missão de toda a Igreja.

segunda-feira, março 31, 2008

Ordenação de Diácono
do
António Valério, SJ
em
Roma
O António Valério, um jovem da nossa Diocese, natural da Paróquia e Freguesia de Idanha-a-Nova, que há dez anos ingressou na Companhia de Jesus (Jesuítas) foi ordenado Diácono em Roma no passado dia 25 de Março.
O Tó Valério passou pelo Seminário da nossa Diocese e, depois do Tempo Propedêutico, Deus chamou-o à consagração na Companhia de Jesus. Sempre com a mesma alegria e entrega, o Tó Valério seguiu o caminho que Jesus lhe definia. E com essa mesma alegria foi agora ordenado Diácono.
Publicamos aqui uma foto sua e, sobretudo, o seu testemunho de apaixonado por Jesus e pela sua Igreja. Retiramos o testemunho do seu blog e mesmo sem licença sua não resistimos a publicá-lo. Ao Tó queremos felicitar com uma frase de Sto Inácio de Loyola: "A nossa confiança deve apoiar-se de tal forma em Deus que, em caso de necessidade, e na falta de navio, nós não hesitemos em acreditar que estamos em condições de atravessar até o oceano sobre uma simples prancha".
Obrigado Tó pelo teu testemunho e pela alegria e coração profundo que colocas em tudo o que fazes.





Testemunho do Tó Valério, SJ, publicado no seu blog:

« E foi ontem o dia da minha ordenação diaconal. Diziam-me no fim, e durante o dia de hoje, que tenho um brilho nos olhos, que irradio felicidade. Se me perguntassem como foi, o que senti... diria que foi bonito. Às vezes tenho a noção que consigo expressar por palavras profundidades da alma. Ainda hoje não consegui... falaria de felicidade e ser completo, e esperaria que dissesse: sabes o que isso quer dizer.Foram duas horas de celebração em que rezei todo o tempo, em que ouvi a Igreja rezar por mim, em que estava rodeado de calor humano e espiritual a ponto de encontrar excessivo um espaço de eternidade, num momento em que o Espírito de Deus vem até mim e me faz ser a mesma pessoa na mais absoluta verdade. Seria dizer ser construído no amor de Deus, e confirmado através dele.Continua a Vida, regressam os passos pela Cidade Eterna, com esta luz transparente que essa, sim, diz tudo. É um modo completo de olhar o futuro... ressuscitado, amado, entregue, acompanhado... »

[...]

« PS: Agradeço com toda a alma a presença amiga de tantas pessoas que vieram cá, e as que chegaram a mim levadas pelo vento da oração. Bem, e a fotografia, suponho que haverá curiosidade em me ver, coração novo em roupas novas =)»













domingo, março 23, 2008


Páscoa em silêncio


Do Mistério Pascal nunca se diz o suficiente. Mistério Pascal não é apenas uma ideia, uma doutrina ou uma espécie de lei ou instituição. O Mistério Pascal tem o seu núcleo na Pessoa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado. É como nos diz o Papa Bento XVI, no início da fé não está uma teoria ou uma decisão ética, mas um encontro com uma Pessoa, Jesus Cristo.

Deus diz-Se no silêncio e não desperdiça palavras. Deus repara em cada palavra que diz porque cada palavra sua tem o rosto de seu Filho. Filho que os homens não escutaram e conduziram à morte. De igual forma, as palavras ditas por Deus não são palavras ligeiras, mas são o próprio Filho, a Palavra. Cada palavra, portanto, e mais ainda a Palavra, é portadora do amor relacional de Deus, o Amor no qual o homem se faz filho no Filho.

A vida de Deus está rodeada de silêncio - Deus gera o Filho no silêncio, e o Espírito Santo, como relação de amor entre ambos, é expressão também de silêncio. Podemos, portanto, dizer que o silêncio rodeia o Mistério de Deus. “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1, 1). Esse Verbo foi-se revelando ao homens. Por isso podemos dizer que era um “mistério envolto em silêncio” (Rom 16, 25) até se revelar aos homens.

O silêncio é, de facto, uma afirmação global na História da Salvação. Deus diz-Se no silêncio e, de um Deus assim, não se pode nunca dizer tudo senão em silêncio. O silêncio surge aí como respeitador da condição de Deus e da condição do homem. E se existe o silêncio de Deus, ou em Deus, existe também o silêncio do homem, para quem há “um tempo para calar e um tempo para falar” (Ecl 3,7).

Muitas passagens do Antigo Testamento relacionam o silêncio com o recto uso da palavra (Prov 10, 6-32; 12. 18; Eclo 19, 7-12; 20, 1-7) ou então convidam a evitar a inconstância das palavras (Eclo 5, 9-15) e os pecados da língua ( Eclo 23, 7-15; 28, 13-26). Além disso foi no murmúrio suave da brisa que Deus se revelou ao profeta (1 Reis 19, 12).

O silêncio, no Antigo Testamento, é ainda a expressão reverencial do respeito do homem por Deus[1]. Diante de Deus, por parte do homem, o silêncio pode traduzir a vergonha do pecado (Jó 40, 4; 42, 6) ou pode traduzir a confiança na salvação (Ex 14, 14). Em outras ocasiões, contudo, não falar seria falta de fortaleza e de fé em Deus.

No Novo Testamento há, da mesma forma, imensas alusões ao silêncio. E também, de igual forma, silêncio de Deus e em Deus e silêncio do homem. A Carta de S. Tiago, por exemplo, convida o homem cristão ao domínio ascético da língua. É um convite ao silêncio do coração, face aos julgamentos e aos ciúmes, às afeições desordenadas (Tg 4, 8.10). O silêncio é aí um importante meio para aprender a viver com os irmãos.

Mas as expressões mais importantes de silêncio do Novo Testamento são aquelas que dizem respeito ao próprio Jesus Cristo que muitas vezes condena as más palavras que saem da boca e procedem do coração. Cristo alerta para a necessidade da vigilância nas palavras sem fundamento (Mt 15, 19; 12, 36).

Além disso reparemos nos silêncios que envolvem o próprio Mistério de Cristo na Sagrada Escritura. É o silêncio da Encarnação que, enquanto Palavra do Pai dita num tempo, se ouve e se percebe no silêncio. É o silêncio da consciência messiânica de Cristo, é o silêncio final.
Logo de início, aos silêncios do nascimento de Cristo sucedem os silêncios da sua adolescência. Jesus crescia em estatura e em graça. A sua presença na Sagrada Escritura é uma presença silenciosa.

Depois, durante o seu ministério, Jesus acolhe a Palavra do Pai e deixa-se constantemente instruir por ela. E nessa medida recorre muitas vezes à experiência do recolhimento em silêncio. Ao mesmo tempo o ministério público de Jesus é também pautado por certas recusas de respostas. São silêncios extremamente comunicativos, por vezes cheios de ironia, mas também de firmeza (“Também não vos responderei” Mt 21, 27).

Em seguida encontramo-nos com os silêncios da Paixão e da Cruz de Jesus. São silêncios com uma densidade particular na medida em que acontecem num momento privilegiado da Revelação[2]. Não se trata apenas de uma densidade suspensiva, mas da densidade do que está a acontecer. As horas da Paixão, Morte e Ressurreição são embebidas num impressionante silêncio onde o que sobressai é o profundo, supremo e incondicional amor de Jesus onde a acção de Jesus não se resume apenas a um compromisso caritativo ou filantrópico, mas é sim de ordem essencialmente teológica e sacrificial.

Sendo o Filho, Jesus é também homem-para-os-outros e este é um ser que se exprime num autêntico silêncio. Este é um silêncio que não diz resignação nem desespero. É antes um silêncio todo oração, todo revelação, todo contemplação, um silêncio que é amor presente e a acontecer. Um silêncio todo ele redenção.

De facto, na Cruz, evidencia-se a plena unidade de vontade do Pai e do Filho, o que revela a Cruz como um Mistério de Amor e que, por isso, realiza a Salvação. O Pai entrega o Filho na Cruz, o Filho é entregue e entrega-Se a si mesmo, e o Espírito permanece como ligação da temporalidade da morte de Cristo à eternidade vivificante do Pai. Aquilo que identifica a acção do Pai é o acto de entregar o Filho: entrega-O na Encarnação e entrega-O na Cruz no acontecimento da Redenção; entrega-O gerando-O continuamente no mundo. E nesta contínua geração o Filho é Deus com o Pai desde toda a eternidade e também agora no despojamento quenótico.

A entrega do Filho na Cruz é também uma auto-entrega. Essa é a expressão radical da sua obediência de Amor ao Pai, uma entrega que, como acto livre de Jesus, manifesta a plenitude da sua filiação divina.
Há, pois, um silêncio que envolve o Mistério de Deus, silêncio esse que, na contínua relação trinitária se afirma como amor. E o amor é silencioso.
Após o silêncio da Cruz, deparamo-nos com o silêncio do túmulo. É um túmulo silencioso. O silêncio da morte é um silêncio imenso. Rompe-se o diálogo e a sua capacidade de ligar e religar, entra em si mesmo, aquele que se ama não responderá jamais.

Mas a grande novidade da fé cristã está na afirmação da Ressurreição. À luz da Ressurreição toda a vida de Cristo é interpretada com um outro horizonte de fé. Como se pudéssemos dizer que a Ressurreição confirma as palavras, os gestos, as acções de Jesus. Da mesma forma, à luz da Ressurreição, o silêncio do sepulcro revela-se um silêncio fecundo e pleno de ensinamento[3]. É um silêncio que ensina a esperança. No silêncio do sepulcro trabalha o Amor do Pai e do Filho, o Amor de Deus que não permitiu a vitória da morte. Jesus Cristo recebe-Se do Pai nesta continuidade do Amor que Lhe dá vida. Por isso, fazendo a experiência da morte, Ele destrói a própria morte e abre a todos os homens, na sua liberdade, a vida eterna. Este é, sem dúvida, um Mistério de silêncio a ser contemplado também no silêncio.

Neste sentido podemos afirmar a própria Ressurreição como um Mistério de silêncio bem como as aparições de Jesus aos discípulos. Há uma dimensão interior comum a todos estes acontecimentos - a dimensão da fé - que, não os relativizando, intensifica a sua significação. É no silêncio que se repara bem na passagem da palavra.

É precisamente no coração do silêncio que, por exemplo, os discípulos passam do desconhecimento ao conhecimento de Jesus. Assim, no episódio de Emaús (Lc 24, 31), os discípulos “reconheceram-n’O ao partir do pão”. Esta é uma confirmação da fé que surge para lá das palavras e dos actos. Surge no arder do coração. O Espírito de Jesus Ressuscitado é silencioso, discrição silenciosa essa que lhe vem da relação com o Pai, do conhecimento íntimo que tem d’Ele e do seu Amor[4]. O Espírito interioriza, no mais profundo dos corações dos homens, a experiência de Jesus de Nazaré como uma experiência filial. No Filho, o homem se torna filho de Deus. É o silêncio do encontro, contemplativo e activo.

O Verbo de Deus ouve-se, portanto, num contexto de silêncio onde sobressai como a Palavra por excelência entre as palavras, a Sabedoria evidente entre as sagezas diversas. E o próprio silêncio é aí o veículo-linguagem sem o qual não haveria percepção nem entendimento. Não acontecia a relação porque não havia revelação.


p. Emanuel Matos Silva


[1] Cf. Giovanna della CROCE, Silencio, in Ermanno ANCILLI, Diccionario de Espiritualidad (Barcelona: Herder, 1987) 390.

[2] Cf. Philippe FERLAY, Dieu dans le silence (Paris: Desclée, 1986) 47.
[3] Cf. ibid.
[4] Cf. ibid.