quinta-feira, junho 11, 2009


Ano Sacerdotal
e
Simpósio do Clero




Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote
O Papa Bento XVI anunciou a realização de um “Ano Sacerdotal”. Subordinado ao tema Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote, este ano, especialmente dedicado a reflectir a importância do papel e da missão do sacerdote na Igreja e na sociedade e a rezar pelos que são chamados a serem padres, decorrerá entre os dias 19 de Junho 2009 (Solenidade do Sagrado Coração de Jesus) e 19 de Junho 2010.
Esta iniciativa e oportunidade ocorre quando se cumprem 150 anos sobre a morte de S. João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars que viveu o seu sacerdócio numa total entrega a Deus e ao povo que lhe foi confiado. S. João Maria Vianney será, por isso mesmo, proclamado Padroeiro de todos os Sacerdotes do Mundo no dia do encerramento deste Ano Sacerdotal no grande encontro mundial de Sacerdotes na Praça de S. Pedro em Roma.
S. João Maria Vianney nasceu em 8 de Maio de 1786 numa França muitíssimo agitada pela revolução e onde a maioria dos sacerdotes estava exilada ou encarcerada. Sentindo a vocação ao sacerdócio, João Maria Vianney teve de enfrentar muitas adversidades mas nunca perdeu a referência da voz de Quem o chamava. Trabalhando, entregando-se aos pobres, homem de profunda oração, entrou por fim num Seminário no qual já era comum a admiração pela simplicidade e santidade de Vianney. Foi ordenado padre em 9 de Agosto de 1815 já com 29 anos e começava nesse momento uma das mais belas histórias de sacerdócio dedicado e apaixonado. Ars, do ponto de vista da prática religiosa, era um lugar deserto. João Maria começou pobre mas dedicado. Caridade, apostolado, horas de confissão, pobreza extrema, cuidado permanente das famílias eram expressões do seu grande segredo: a oração silenciosa diante de Jesus no Sacrário. Vianney viria a morrer em 4 de Agosto de 1859 mas a sua lembrança nunca desapareceria.
A sua vontade tenaz de se preparar o melhor possível para o sacerdócio, a profundidade do seu amor a Cristo e ao povo, os frutos abundantes e surpreendentes do seu ministério, as diversas actividades apostólicas orientadas para o essencial, a valorização do Sacramento da Reconciliação, a Eucaristia como oferecimento, comunhão e adoração, a pregação e a catequese são pois desafios do Cura de Ars a todos os padres de todos os tempos.
Este é, portanto, um ano dedicado a reflectir e rezar pelos sacerdotes e com os sacerdotes. Diz o Cardeal Cláudio Hummes, Prefeito da Congregação para o Clero, numa nota escrita acerca do Ano Sacerdotal que este ano deverá ser um ano positivo e propositivo, em que a Igreja quer dizer antes de tudo aos sacerdotes, mas também a todos os cristãos, à sociedade mundial, através dos meios de comunicação global, que ela se orgulha de seus sacerdotes, os ama, os venera, os admira e reconhece com gratidão seu trabalho pastoral e seu testemunho de vida. Realmente, os sacerdotes são importantes não só pelo que fazem, mas também pelo que são.
E o mesmo texto do Cardeal faz mais desafios objectivos: Este ano seja também ocasião para um período de intenso aprofundamento da identidade sacerdotal, da teologia do sacerdócio católico e do sentido extraordinário da vocação e da missão dos sacerdotes na Igreja e na sociedade. Isso exigirá congressos de estudo, jornadas de reflexão, exercícios espirituais específicos, conferências e semanas teológicas em nossa faculdades eclesiásticas, pesquisas científicas e respectivas publicações. [..] deve ser, de modo muito especial, um ano de oração dos sacerdotes, com eles e por eles, um ano de renovação da espiritualidade do presbitério e de cada presbítero. A adoração eucarística pela santificação dos sacerdotes […] poderiam ser desenvolvidas com frutos reais de santificação. Seja um ano em que se examinem de novo as condições concretas e a sustentação material em que vivem nossos sacerdotes, às vezes submetidos a situações de dura pobreza. Seja, ao mesmo tempo, um ano de celebrações religiosas e públicas, que levem o povo, as comunidades católicas locais, a rezar, a meditar, a festejar e a prestar uma justa homenagem a seus sacerdotes. […]
O Ano Sacerdotal vai ser, portanto, uma ocasião de reavivar o dom de Deus à sua Igreja que é o sacerdócio.


Simpósio do Clero em Portugal – reavivar o dom da Graça de Deus
Decorrerá também este ano mais um Simpósio nacional do Clero. Realizar-se-á em Fátima entre os dias 1 e 4 de Setembro de 2009. O tema deste Simpósio Nacional, enquadrado no Ano Sacerdotal é tirado da segunda Carta de Paulo a Timóteo: “Exorto-te a que reavives o dom da Graça de Deus que está em ti pela imposição das minhas mãos” (2 Tim 1, 6 – 11)
Em cada momento é necessário reavivar o dom de Deus que está em nós. Que significará reavivar? O verbo grego significa avivar um fogo. Ora o Espírito Santo é descrito muitas vezes como fogo e a sua vinda é descrita simbolicamente em línguas de fogo. E é nesse sentido que é interessante que seja dito que o homem cristão, nomeadamente o sacerdote, tem responsabilidade no reavivar em si mesmo o dom de Deus. Neste caso concreto de Timóteo trata-se do dom que recebeu pela imposição das mãos, o rito específico da ordenação, da consagração ou nomeação. Trata-se, portanto, do dom da Graça de Deus para o ministério em Igreja. É esse dom ministerial que é preciso reavivar. E se há necessidade de o reavivar significa que ele se pode apagar ou extinguir e que corre esse perigo.
Como se extinguem ou “ofuscam” os dons de Deus e, nomeadamente, o dom do seu Espírito? Podemos colocar algumas hipóteses de motivos:
§ No caso de Timóteo podemos colocar a hipótese de o dom se ofuscar por causa da solidão. Timóteo pode ter-se sentido “terrivelmente solitário” quando se separou de Paulo. Tinham trabalhado em muito estreita colaboração, mas agora o peso da solidão, das decisões na comunidade fazem-no esquecer de recorrer à força do dom de Deus. Ainda hoje encontramos solidões terríveis e que por isso destroiem ou ofuscam o Espírito de Deus em nós.
§ Uma outra razão possível para o enfraquecimento do dom de Deus em Timóteo é a sua jovem idade ou, por quaisquer motivos, a insegurança. Jovem idade que pode fazer com que Timóteo se sinta inadequado para a direcção da comunidade. A insegurança produzida pela idade é, de facto, apresentada aqui como uma hipótese de algo que provoca o enfraquecimento do dom de Deus.

§ Uma terceira hipótese de causa do enfraquecimento do Dom de Deus é a falta de exercícios espirituais, a falta de oração. Lembremos que, na primeira Carta a Timóteo, Paulo exorta Timóteo a exercitar a piedade (1 Tim 4, 8). O dom de Deus pode, portanto, ofuscar-se quando deixamos de rezar
Somos então desafiados a reavivar o dom de Deus que está em nós. E S. Paulo continua dizendo a Timóteo que Deus nãos nos deu um Espírito de timidez, mas sim de fortaleza, caridade e temperança. À primeira vista, humanamente falando, parece que temos aqui um Timóteo que não acredita já no seu ministério e na sua capacidade. É assim que S. Paulo o convida a sair do estado de temor em que parece viver (quem teme não é perfeito no amor).
A timidez de que nos fala S. Paulo não é apenas, ou principalmente, uma timidez psicológica. É antes uma timidez que se revela como o contrário da confiança em Deus, o contrário da fé em Jesus Cristo que conhece e guia todas as coisas. Significa, portanto, que a timidez, no sentido de medo, de falta de coragem evangélica, é uma tentação grave e o possível início de muito ofuscamento de dons de Deus. É algo que mata a alegria e a coragem do serviço ministerial. É desta mesma timidez que Jesus nos liberta quando nos diz “ Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não se perturbe o vosso coração, não tenhais medo” (Jo 14, 27) (não tenhais “deilia”).
De acto, continua S. Paulo, Deus deu-nos um Espírito de fortaleza, de amor e de temperança”.Poderíamos traduzir de outra forma: “um Espírito de força, de amor e de sabedoria”. A força que nos é dada é a força do próprio Senhor Jesus, aquela que estava n’Ele ao anunciar com tantos e tantos sinais o Reino de Deus. O amor, por seu lado, é o amor de Deus, o amor criador, a caridade participação no próprio Amor que Deus é. A temperança, finalmente, aqui usada por Paulo, diz respeito à sabedoria associada à prudência e à moderação. A temperança é a capacidade de permanecer na justa medida que é diferente do meio termo, a capacidade do equilíbrio. É a justiça. É a capacidade de não se deixar manipular pelos estados emocionais passageiros, pelos fantasmas dos sentimentos, pela dureza das desilusões (inconsistência). Talvez por tudo isto S. Paulo diga a Timóteo que o Espírito de Deus é de força, amor e temperança. Talvez a força e o amor não chegassem e Paulo lhes junte a capacidade de discernimento que a temperança faz agir. Ser sábio e ter temperança é saber discernir os tempos, os lugares, os momentos, reconhecer a revelação da força de Deus, perseverar.

Ano Sacerdotal e Simpósio, duas ocasiões, para o Clero e para todos os cristãos, de perceber melhor e mais profundamente o lugar do Padre na Igreja e no mundo. Uma ocasião de perceber a sua vocação e os sinais específicos da sua consagração.


p. Emanuel Matos Silva
pde.emanuel@gmail.com


13 e 14 Junho 2009

Cristo está cá e chama-te!

"Pré-Seminário"

Seminário de S. José

- Alcains -

12h00 do dia 13 até 14h00 do dia 14