sexta-feira, setembro 22, 2006



Precisamos de Santos



Precisamos de Santos sem véu ou batina.
Precisamos de Santos de calças jeans e ténis.
Precisamos de Santos que vão ao cinema,
ouçam música e passeiem com os amigos.

Precisamos de Santos que coloquem Deus em primeiro lugar,
mas que se “esforcem” na faculdade.
Precisamos de Santos que tenham tempo todo dia para rezar
e que saibam namorar na pureza e castidade,
ou que consagrem a sua castidade.

Precisamos de Santos modernos, Santos do século XXI,
com uma espiritualidade inserida no nosso tempo.
Precisamos de Santos comprometidos com os pobres
e as necessárias mudanças sociais.

Precisamos de Santos que vivam no mundo, se santifiquem no mundo,
que não tenham medo de viver no mundo.
Precisamos de Santos que bebam coca-cola e comam hot dogs, que usem jeans, que sejam internautas, que escutem disc-man.

Precisamos de Santos que amem apaixonadamente a Eucaristia
e que não tenham vergonha de tomar um refrigerante
ou comer uma pizza no fim-de-semana com os amigos.
Precisamos de Santos que gostem de cinema, de teatro, de música, de dança, de desporto.

Precisamos de Santos sociáveis, abertos, normais, amigos, alegres, companheiros.

“Precisamos de Santos que estejam no mundo;
e saibam saborear as coisas puras e boas do mundo,
mas que não sejam mundanos”.



João Paulo II




Franciscanos


A Ordem e o seu Fundador:
A mais importante e mais antiga das Ordens Religiosas Mendicantes é a dos Frades Menores ou Franciscanos. Surgida no início do séc. XIII, a Ordem Franciscana deseja responder ao espírito da época e, sobretudo, ao grande movimento de revalorização do espírito da pobreza evangélica. Além disso, respondia igualmente ao sentimento global da necessidade de um maior contacto entre religiosos e leigos, ultrapassando os habituais esquemas monásticos e relacionando o ministério sacerdotal com a pregação e outras obras de apostolado.
O “fundador”, Francisco, nasceu em 1181 na cidade de Assis (S. Francisco de Assis). Seus pais foram Giovanna, la madonna Pica, assim chamada, e Pietro de Bernardone, rico comerciante de tecidos. No baptismo cristão recebeu o nome de João Baptista, escolhido pela mãe na ausência do pai que desejava para o filho o nome de Francisco.

Depois de uma juventude relativamente despreocupada, entre sonhos, ambições e lutas de cavalaria (participou na guerra entre Assis e Perúsia onde foi feito prisioneiro), Francisco sofre, em 1206, uma profunda transformação interior após uma grande enfermidade. Renunciando ao ideal de cavalaria, e renunciando à suas antigas honras , abraça um ideal de oração e penitência. Além disso, na fidelidade ao que podemos hoje definir de chamamento de Deus, dedica-se aos pobres e leprosos.

A sua vocação afirmou-se mais concretamente ainda quando, na Igreja de S. Damião, perto de Assis, Francisco, em profunda experiência de oração, ouviu de Cristo, por três vezes, as conhecidas palavras: “Francisco vai reparar a minha Igreja que, como vês, está totalmente em ruínas”.
Num primeiro momento Francisco entende as palavras de Cristo no seu sentido puramente material e, podemos dizer, torna-se pedreiro. É assim que ele recontrói a Igreja.
Mais tarde Francisco entende o sentido mais profundo das mesmas palavras de Cristo e percebe o apelo divino de uma outra maneira e com outras implicações.
Nesta fase da vida de Francisco de Assis acontece algo que não deixará de ser relevante. Extremamente revoltado com o comportamento de Francisco (que além de muitas outras coisas começara a distribuir bens ao mais pobres e a visitá-los nas suas habitações e lugares de permanência), o seu, Pietro de Bernardone, deserda-o e leva-o a tribunal eclesiástico. Diante da multidão, Francisco renuncia atudo o que possui, despe-se e entrega as roupas ao pai. Gesto profundo e profético que se explicitará na história futura. É o bispo da cidade que, com a sua capa episcopal, lhe cobre a nudez.Daqui em diante separado do mundo da riqueza, Francisco servirá, em despojamento total, a Igreja. Chamaram-lhe o “louco de Deus”. Estava definida a longa caminhada de Francisco para a vida.
Aos vinte e sete anos Francisco sente novo chamamento de Deus. A sua vocação define-se mais precisamente: seguir Cristo, como já tantos outros o haviam feito, na pobreza e na pregação.
Neste momento juntam-se a Francisco alguns companheiros. Sua regra era observar o Evangelho. Vestiam-se, como os pobres do lugar, com uma túnica com capuz atada à cintura com um cordão em vez dum cinto.
O grupo que, num primeiro momento, surge muito espontaneamente, começa a ganhar “estabilidade”. Chamr-se-ão frades penitentes ou frades menores. Em 1209 o Papa Inocêncio III aprova esta nova regra e a Ordem Fransciscana instala-se definitivamente na Porciúncula. Estavam lançados os alicerces da Ordem Franciscana.
O crescimento que se segue é extremamente rápido. Numerosos irmãos se lançam pelos caminhos de Itália fazendo, desta forma, expandir-se o espírito de Francisco de Assis na sua procura de uma vivência da pobreza evangélica como sinal do seguimento de Jesus Cristo.
Em 1212, colateral à ordem masculina, foi fundada a ordem feminina por Sta. Clara de Assis (pauperes Dominae de S. Damião, Clarissas).
Aos quarenta anos, fraco e fatigado, Francisco retira-se para os eremitérios de Rieti com o simples e único desejo de se unir a Cristo. É aí, em 1224 que se produz o prodígio dos estigmas de Cristo. As suas mãos, o seu lado e os seus pés são trespassados.
A morte de Francisco de Assis dá-se em 3 de Outubro de 1226. Dois anos mais tarde - 1228 - o Papa Gregório IX canoniza-o em Assis.

Como já se referiu, a Ordem Franciscana difundiu-se rapidamente em toda a Europa. No momento da morte de Francisco, o número de irmãos já ascendia a 5000. E, no Capítulo Geral de Estrasburgo, em 1282, contavam-se já 1583 Conventos divididos em 34 Províncias. Emmeados do séc. XIV o número de irmãos é de 30 000 no mundo inteiro.
No séc. XV a Ordem Franciscana dividir-se-à em duas Ordens autónomas. Os Observantes querem guardar uma íntegra fidelidade à primitiva Regra. Consideram-se como os legítimos herdeiros de S. Francisco. Do outro lado estão os Conventuais que abraçam um tipo de vida mais monástico. A divisão apenas será reconhecida por Bula papal em 1517.

Espiritualidade franciscana:
A espiritualidade franciscana, subsidiária do pensamento e da vida do seu fundador Francisco de Assis, possui as seguintes notas características:
- espiritualidade teocêntrica e cristológica;
- espiritualidade mariana;
- espiritualidade eclesial;
- espiritualidade evangélica;
- vida activa e contemplativa;
- virtudes características: caridade, pobreza, humildade, obediência,
simplicidade, prudência, mortificação, discreção, profunda e viva alegria.

Efectivos:
Neste momento os Franciscanos são, mais ou menos, cerca de 18500 espalhados por todo o mundo e repartidos em cerca de 3000 Conventos.

Formação:
A entrada na Ordem dos Frades Menores (Franciscanos) segue um processo definido em sucessivas etapas: postulantado (seis meses a um ano); noviciado ( um a dois anos); profissão dos votos temporários (três a nove anos); profissão dos votos definitivos.

Hábito:
Os Franciscanos usam, normalmente, o hábito castanho com capuz atado na cintura com um cordão simples.

Algumas figuras da Ordem Franciscana na História:
Santa Clara (1194-1253); São Boaventura (1221-1274); Sto. António (uns chamam-lhe de Lisboa, outros de Pádua; 1195-1231); S. Bernardino de Sena (1380-1444); João Duns Scoto (1266-1308); Guilherme de Ockham (1290-1350); S. Maximiliano Kolbe (1894-1941)


Ordem Franciscana em Portugal:
1) Frades Menores Conventuais - O.F.M.Conv.
- Diocese de Coimbra: Rua Brigadeiro Correia Cardoso, 18; 3000
COIMBRA;
- Diocese de Lisboa: Praça Dr. Fernando Amado, lote 566, 3ºI; 1900 LISBOA

2) Ordem dos Frandes Menores -Franciscanos O.F.M.
-Igreja de S. Francisco, largo de S. Francisco, 8000 FARO;
- Fraternidade Franciscana, Residência Paroquial, Calhetas, 9600
RIBEIRA GRANDE;
- Colégio das Missões Franciscanas, Montariol, 4701 BRAGA CODEX;
- Franciscanos, Rua Dias da Silva, 59, 3000 COIMBRA;
- Igreja NªSª da Penha, Rua da penha de França, 3; 9000 FUNCHAL;
- Igreja de S. Francisco, Rua do Almacave, 5100 LAMEGO;
- Convento de S. Francisco, Portela, marinha Grande - 2400 LEIRIA;
- Franciscanos, Rua Silva Cravalho, 34, 1200 LISBOA;
- Hospital de Jesus, Travessa da Arrochela, 2; 1200 LISBOA;
- Igreja-Casa de Sto. António à Sé, Rua das Pedras Negras, 1; 1100 LISBOA;
- Seminário da Luz, Largo da Luz, nº11, 1699 LISBOA;
- Convento de Sto.António, Varatojo, 2560 TORRES VEDRAS;
- Franciscanos, Rua António Nobre, 21, 4450 MATOSINHOS;
- Igreja do Calvário, Av Egas Moniz - 4560 PENAFIEL;
- Franciscanos, Rua dos Bragas, 321, 4000 PORTO;
- Residência Paroquial, Casais- 2300 TOMAR;
- Residência Paroquial, Lamarosa, 2350 TORRES NOVAS;
- Ordem Terceira de S. Francisco, Av 22 de Dezembro, 19, 2900 SETÚBAL;
- Paróquia de S. Pedro, Rua Combatentes da Grande Guerra, 49,
5000 VILA REAL.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Vocações na Igreja
Dominicanos


Dominicanos ou, talvez mais correctamente, Ordem dos Irmãos Pregadores (Ordo Fratrum praedicatorum) é o nome da Ordem fundada por S. Domingos de Gusmão no início do séc. XIII.
O séc. XIII caracteriza-se, como o séc. XI e XII, por um verdadeiro renovamento ao nível das instituições eclesiásticas, nomeadamente as Ordens Religiosas. É neste contexto de renovação da Igreja e das suas instituições que surgem os Dominicanos.
A Ordem Dominicana ou dos Irmãos Pregadores, que se enquadra no conjunto das Ordens ditas mendicantes, é, sobretudo, como o próprio nome faz sugerir, uma Ordem Religiosa que se dedica á pregação itinerante e ao ensino como trabalho pastoral.
Não se retirando do mundo, à imagem de outras Ordens, é aí, precisamente, que desenvolverão a sua actividade. Nessa medida serão uma presença viva de Cristo.
« Confirmada pela Santa Sé como Regra Canonical sob a regra de Sto. Agostinho (22 de Dezembro de 1216) e na sua função específica de pregação (21 de Janeiro de 1217), a ordem faz o seu acto de maioridade no Capítulo Geral de 1220: S. Domingos entrega nas mãos dos seus irmãos toda a autoridade; o princípio da mendicidade é adoptado; é estabelecido o sistema de governo segundo o qual o Capítulo Geral anual, partilhando com o Mestre Geral os poderes executivo e judicial, se reservainteiramente o poder legislativo. No Capítulo de 1221 a Ordem divide-se por oito Províncias: 2Espanha, Provença, França, Lombardia, Roma, Teutónia, Inglaterra e Hungria »[1].
Mas, para compreender melhor a génese histórico-espiritual desta ordem há que colocar a atenção no seu fundador, S. Domingos de Gusmão.

« A contribuição pessoal de S.- Domingos é ter construído um novo método e uma nova concepção da vida religiosa: a vida mista. É o primeiro fundador religioso a realizar a síntese histórico-espiritual do dualismo contemplação-acção na Igreja, restabelecendo assim a inseparabilidade psicológica, espiritual e teológica do amor de Deus e do próximo e levando o sacerdócio à sua plenitude evangélica e apostólica »[2].

O serviço específico dos Dominicanos é a pregação, não só, nem sobretudo, na “oratória sagrada”, mas em toda a forma de comunicação do essencial da Palavra de Deus aos homens, Dir-se-ia fazer a Palavra perceptível em cada tempo e em cada circunstância; fazer com que continue a desafiar a humanidade à profundidade da existência; fazer com que o espírito do homem, na sua relação com Deus, com os outros, e consigo mesmo, não estagne, não morra (anunciar, como ela é, a Palavra de Deus em linguagem humana).
Se os séculos XI e XII haviam sido séculos monásticos na procura da solidão e do silêncio claustral, o séc. XIII vai assistir au reflorescimento da vontade da genuína vida apostólica de pregação e missão. Todo o clima e tecido social haviam mudado e pediam agora à Igreja uma nova forma de presença.

Fundador: S. Domingos de Gusmão
S. Domingos nasce em Caleruega (Espanha) por volta de 1170, época em que a Espanha luta contra a “invasão” árabe.
Aos sete anos de idade é confiado a um tio que, sendo eclesiástico, lhe protagoniza uma rigorosa educação que o marcará para a vida futura. Com este tio, Domingos prepara-se também para a vida eclesiástica. Aos quinze anos matricula-se na Universidade de Palência onde, durante dez anos, estudará as Artes liberias e, depois, a Sagrada Escritura.
Ainda jovem é feito Cónego do Cabido de Osma onde vai absorver o espírito de reforma que o cabido respira. Tem então vinte e cinco anos.
Em 1204 Domingos acompanha o Bispo de Osma, Diego de Azevedo, numa missão que lhe havia sido confiada na Dinamarca.
Este vai ser um momento decisivo na vida de S. Domingos. Ao atravessar o Languedoc percebe aí o progresso dos albigenses. As populações, por ignorância, deixavam-se facilmente convencer pelos “perfeccionistas” (“heréticos”) cátaros que confessavam um fé de tipo maniqueísta: de um lado um Deus bom, Criador do Bem; de outro um mau, criador do Mal.
Talvez neste momento se possa colocar o “nascimento” da vocação de Domingos de Gusmão. Inaugura-se então um método de pregação onde se conjugam a doçura e simplicidade, a inteligência e a pobreza. Desta forma testemunham um vida à maneira dos primeiros Apóstolos[3].
Após a morte do Bispo Diego, Domingos permanece sozinho na mesma função de pregação.
« Em 1215 Domingos funda em Toulouse, para a Diocese do lugar, uma associação de pregadores que, preparados com profundos estudos teológicos e pela prática ascética, deviam dedicar-se à salvação das almas, sobretudo mediante a “sancta praedicatio”, isto é, à instrução do povo sobre as verdades da fé, e à defesa da Igreja contra a heresia ... Em 1216 o Papa Honório III confirmou essa associação de pregadores como Ordem de Clérigos Regulares com a Regra de Sto. Agostinho. E em 1217, com a aprovação da Santa Sé, Domingos já enviava para todo o mundo os seus frades pregadores» [4].
Tirando, portanto, experiência da sua pregação itinerante, Domingos funda uma Comunidade de clérigos que se deviam consagrar à pregação da fé e da moral, lutando contra os erros doutrinais e de interpretação da fé, e praticando uma imitação, tanto quanto possível, da vida dos apóstolos, ou seja, em itinerância e mendicidade.
S. Domingos conbinará a vida apostólica com o cenobitismo fazendo do do Convento um centro de formação, um local de estudo onde os noviços se preparavam de forma a estarem bem fundamentados para a missão. O Convento era também sempre o local onde regressavam os frades para se renovarem espiritual e teologicamente.
A grande novidade de Domingos está, portanto, na associação harmoniosa do cenobitismo com o nomadismo apostólico além da renovada vontade de uma verdadeira vida evangélica e de pregação[5]. Por tudo isto a Ordem Dominicana foi sempre uma Ordem de homens sábios e profundos.
S. Domingos morre em Bolonha no dia 6 de Agosto de 1221 e é canonizado em 1233.

Efectivos Dominicanos e Estatutos:
A Ordem dos Pregadores conta actualmente com cerca de sete mil membros entre Irmãos e Presbíteros, estando presentes em oitenta e três países.
Quanto aos Estatutos, os Dominicanos estão entre as Ordens mendicantes com os Franciscanos e Carmelitas. É uma Ordem Religiosa apostólica, para a missão.

Organização:
Os Dominicanos vivem em Conventos
(seis a dez irmãos em média, mas podendo haver Conventos com cerca de cinquenta irmãos) sob a responsabilidade de um Prior eleito por três anos, renováveis uma vez. Esta eleição é confirmada pelo prior Provincial.
Há quem denomine o governo dominicano de “democrático” na medida em que cada Prior é designado por eleição.
Cada Convento (Capítulo conventual) designa, além do seu Prior, um representante ao Capítulo Provincial o qual acontece cada quatro anos e elege o Prior Provincial. Por sua vez os Priores Provinciais e os delegados das Províncias reúnem-se de três em três anos em Capítulo Geral. É a este Capítulo Geral que cabe a legislação e ordenamento da Ordem. De três em trãs Capítulo Gerias é elito o Mestre Geral da Ordem para um mandato de nove anos.

Hábito
S. Domingos, por ser Cónego, guardou a tradição canonical da túnica branca ( hábito branco e capuz branco) e juntou-lhe o escapulário monástico.
A capa e capuz negros são hoje raramente utilizados.
Hoje os Dominicanos usam o hábito nos ofícios, refeições e, tanto quanto possível, na vida de convento. Normalmente, contudo, no exterior nãos o usam.

Algumas grandes figuras da Ordem Dominicana:
- Sto. Alberto Grande (1200-1280); S. Tomás de Aquino (1225-1274); Mestre Eckhart (1260-1327); Sta. Catarina de Sena ( 1347-1380); Fra Angelico (1387-1455); Jerónimo Savonarola ( 1452-1498); Bartolomeu das Casas (1484-1566); S. Pio V (1566-1572); Henri Lacordaire (1802-1861); Marie-Joseph Lagrange (1855-1938); Pierre Couturier (1897-1954); Marie-Dominique Chenu (1895-1990); Jacques Loew (1908); Yves Congar.

Ordem Dominicana (Ordem dos Pregadores) em Portugal:
- Convento dos Padres Dominicanos, Rua de S. Domingos, 2495 FÁTIMA;
- Convento de Nª Sª do Rosário (Casa Provincial), Travessa do Corpo Santo, 32, 1200 LISBOA;
- Convento João XXIII, Av. Cons. Barjona de Freitas, 7, 7º C, 1500 LISBOA;
- Paróquia de S. Domingos de Benfica, Rua de S. Domingos de Benfica, 33, 1º A, 1500 LISBOA;
- Convento de Cristo Rei, Prça D. Afonso V, 86, 4100 PORTO;
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[1] A. DUVAL, o.p., Fréres Prêcheurs, in Catholicisme IV ( Paris: Letouzey et Ané, s/d) 1618.
[2] D. Abbrescia, Dominicos, in Ermanno ANCILLI, Diccionario de Espiritualidad, I (Barcelona: Herder, 1987) 642.
[3] Cf. Claire LESEGRETAIN, Les Grands Ordres Religieux (Paris: Fayard, 1990) 132.
[4] Karl BIHLMEYER, História da Igreja II (S. Paulo: Paulinas, 1964) 305.
[5] Cf. Jean CHÉLINI, Histoire religieuse de l’Occident médieval (Paris: Hachéte,, 1991) 432.
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domingo, setembro 17, 2006


Cartuxos


A Ordem da Cartuxa é assim denominada por ter nascido nas montanhas de Chartreuse. Como os Beneditinos, que tratamos no anterior número, também os Cartuxos são monges. Mas, no quadro de toda a tradição monástica, a Ordem Cartuxa apresenta-se, no seu tempo e hoje, com uma novidade e especificidade muito próprias. Inspirando-se nos antigos Padres do Deserto (Eremitas e anacoretas) a vocação cartusiana é uma vocação solitária, uma vida na solidão para um maior e mais profundo encontro com Deus. Contudo, e a grande novidade e especificidade da Cartuxa residem aqui, é uma solidão com alguma vida comum. Significa isto que a Cartuxa é uma Comunidade (Mosteiro) de Solitários. A Clausura é a condição sine qua non da Cartuxa.
Numa sociedade onde o comunitário é, sem dúvida, um valor quase absoluto e o homem se revela como ser essencialmente para estar com outros, qual é o lugar de uma vocação solitária ?
« Não se faz Cartuxo quem quer. Para se ser Cartuxo não basta ser acolhido fraternalmente e receber todos os elementos de uma boa formação para a solidão, até porque se é formado para a solidão vivendo em solidão. Não permanece na Cartuxa senão aquele que no fundo da alma escuta um chamamento mais poderoso que todas as contradições que encontra em seu redor. A vocação cartusiana é uma obra de Deus. A colaboração do homem é aí mais indispensável que em muitas outras coisas, mas ele sabe que é totalmente impotente para construir a vocação cartusiana se entregue apenas aos seus meios »[1].
A solidão e silêncio cartusiano são um dom de Deus. Como em muitas outras realizações vocacionais, a vocação cartusiana não é construída apenas por uma vontade humana, mas é gerada no encontro de Deus com o homem e do homem com Deus.
Aquele que se sente interpelado por uma vida de solidão e silêncio não é apenas o que deseja deixar o mundo, mas é, sobretudo, aquele que fez uma profunda experiência de Deus e se deixa seduzir pelo Absoluto. Deseja mais a experiência de Deus do que tudo o resto. O carácter solitário desta vocação específica é, portanto, ele próprio, um meio e não um fim. Tem como finalidade a entrega do homem a Deus e não a fuga do homem em relação a si mesmo ou aos outros. Quem se entregasse à solidão cartusiana para fugir de si mesmo ou dos outros, não encontraria aí paz, mas tão somente angústia.
A solidão cartusiana, tem, portanto, necessariamente, de ser uma solidão alimentada, ou seja, uma solidão que não fecha o homem em si, mas o faz viver uma experiência de transcendência, de Deus, de comunhão. Comunhão com Deus e comunhão com os homens, mesmo separando-se deles.
O primeiro grande traço da espiritualidade cartusiana é precisamente aquele de que temos vindo a tratar - a solidão. Não uma solidão qualquer, mas uma solidão vivida no silêncio e na vida contemplativa.
«A nossa principal aplicação e nossa vocação - dirão as Constituições - são de nos aplicarmos ao silêncio e à solidão da cela, segundo a palavra de Jeremias: “o solitário sentar-se-à e guardará silêncio” »[2].
Ela será uma solidão alimentada pela Palavra de Deus, uma solidão que será sabedoria. Para cada Cartuxo, Jesus é sempre o modelo a seguir. Aliás o Monge, na vida contemplativa, deve estar íntimamente unido a Cristo.
Um segundo traço da espiritualidade cartusiana é a obediência. Na Carta aos Cartuxos, S. Bruno tem algums indicações bem concretas sobre a obediência. A verdadeira obediência é a realização da vontade de Deus, mas pode concretizar-se mais especificamente em variadas observâncias espirituais e disciplinares. Em S. Bruno a obediência não existe sem humildade e sem amor.
Após a obediência, um terceiro traço da espiritualidade cartusiana é a Pobreza. Um eremita que procura Deus não pode estar preso a nada mais do que àquilo que são os caminhos da procura do próprio Deus. A Pobreza está, portanto, ao serviço da vida contemplativa.
Um quarto traço da espiritualidade cartusiana é a Caridade Fraterna. A Caridade Fraterna tem uma razão muito própria de existir mesmo no meio de solitários. Ela vive na capacidade de cada um dos solitários estar atento e interiormente disponível a Deus e aos outros. Além do mais, a Cartuxa preserva um certo cenobitismo.
A Pureza de Coração é outra característica ou traço da espiritualidade cartusiana. Embora a abordemos aqui em quinto lugar, ela é das mais importantes marcas da espiritualidade da Cartuxa.
O fim da vida monástica é a união a Deus. É a pureza de coração que permite realizar essa finalidade. Há uma profunda relação entre a oração monástica e a pureza do coração. É esta atitude que permite a união com Deus, que permite que o Monge se fixe no Único. À pureza de coração também a tradição cartusiana vai chamar virgindade espiritual significando a inteireza da pessoa entregue a Deus e só a Ele.
Outra não menos importante característica ou traço da espiritualidade cartusiana é a simplicidade. Necessariamente está relacionada com a anterior e é até resultante dela, mas também é diferente dela.
A simplicidade é a característica que distingue a alma do monge que procura unir-se a Deus, como é igualmente um atributo de Deus. Deus é puro e simples. É Pessoa, é trino, mas não triplo, é Um. Aí reside a sua simplicidade[3]. Quanto mais o homem se separa de toda a dispersão e concentra em Deus, no Único, mais simples se torna. Essa simplicidade, no quadro da progressividade da vida espiritual, é condição de encontro com Deus.

Fundador: S.Bruno ( 1030-1101)
Bruno nasce por volta de 1030 em Colónia. Sobre a sua família não se sabe muito, nem mesmo o nome ao certo, mas alguns elementos indicam uma família com uma certa posição social na época e no meio.
A única notícia biográfica de S.Bruno, redigida na Cartuxa na primeira metade do séc. XII, não é muito extensa. Diz, sucintamente, que « Mestre Bruno, alemão, originário da ilustre Cidade de Colónia, nasceu de pais não desconhecidos. Tendo recebido uma sólida formação nas letras profanas e sagradas, ele torna-se Cónego e Reitor da Escola da Igreja de Reims que não cede o primeiro lugar a nenhuma nas Gálias. Mestre Bruno deixou o mundo e fundou o Eremitério da Cartuxa que governou durante seis anos. O Papa Urbano II, de quem outrora havia sido professor, chamou-o para a Cúria Romana como preceptor e conselheiro nas coisas eclesiásticas. Mas como ele não suportava nem a agitação nem o género de vida da Cúria, como ele ardia de amor pela solidão e quietudes perdidas, deixou a Cúria. Renunciando ao Arcebispado de Reggio para onde havia sido eleito sob ordem do Papa, Mestre Bruno retira-se para a Calabria, para um Eremitério chamado A Torre. Rodeado por um grande número de leigos e clérigos realiza o seu propósito de vida solitária em todo o tempo que viveu. Morreu e foi sepultado aí cerca de dez anos depois do seu retiro na Chartreuse ».
Não há, pois, dados seguros sobre a família da qual Bruno será descendente. Apenas se sabe, pelo que afirma o texto, que nasce de pais não desconhecidos, o que evidencia alguém com posição social.
A data de nascimento carece também de precisão, mas todos os elementos que existem a circunscrevem entre os anos 1024 e 1030, mais provavelmente em 1027.
Os primeiros anos de Bruno parecem ter sido vividos em Colónia e só depois tendo-se mudado para Reims. Fez, sem dúvida, os seus primeiros estudos em Colónia, possivelmente na Escola Capitular de S.Cuniberto, da qual, mais tarde, veio a ser Cónego Honorário.
Ainda jovem, portanto, Bruno chega a Reims. As escolas de Reims, sobretudo a Catedral, tinham muita fama havia séculos, atraindo a si estudantes de toda a Europa. Gerbert, que um dia seria o Papa Silvestre II, tinha sido seu Reitor entre 979 e 990 iluminando-a com o seu verdadeiro génio. Quando Bruno chegou, as escolas de Reims estavam no seu apogeu.
Em 1049, quando Bruno era ainda estudante, aconteceu algo que marcará para sempre o seu carácter. O Papa Leão IX, no contexto da sua reforma eclesial, celebra em Reims um Concílio.
No dia 3 de Outubro Leão IX abria então o Concílio. O Concílio e o Sumo Pontífice empreendem, sobretudo, uma acção contra a simonia, promoção escandalosa de bispos, abades e beneficiados que permitia também a intromissão de “leigos” nos lugares, bens e assuntos da Igreja. O Papa e o Concílio depuseram e excomungaram alguns deles.
Em tempo de estudo, ao despertar para a vida de acção, Bruno é confrontado com esta realidade eclesial através do Concílio. Profundamente religioso e recto, penetrado do espírito nobre da Sagrada Escritura e dos grandes princípios da Fé, reflectindo a situação da Igreja e a necessidade de Reforma, Bruno depressa sintoniza com os sentimentos do Concílio de Reims neste esforço. Ele próprio, um dia, entrará na “luta” a que a necessidade de reforma das estruturas dará ocasião.
Entretanto, Bruno irá passar longos anos em Reims. Os primeiros como estudante, depois como professor e Mestre da Escola Catedral acumulando, depois, com a nomeação para membro do Cabido da Catedral e seu Chanceler.
Entretanto a reputação de Bruno é grande e em 1056, susbstituindo Mestre Hérimann, é nomeado Mestre da Escola de Reims.
O agora Mestre Bruno parece ter apenas 28 anos o que a priori faz sobressair as suas qualidades de estudante e professor. Os testemunhos dos contemporâneos de Bruno atestam isso mesmo, como por exemplo o de Guibert de Nogent que afirma ter sido Bruno um magnífico professor da Escola da Catedral de Reims.
O Arcebispo Gervais, que o havia escolhido, morre em 1067 com fama de santidade. Sucede-lhe Manassés de Gournay com o nome de Manassés I. Será um Arcebispo que Reims não irá esquecer e que estará profundamente relacionado à evolução da vida e vocação de S.Bruno.

Manassés foi sagrado Arcebispo de Reims em 1068 ou 1069 apesar do seu antecessor ter falecido já em 1067.
A história do Arcebispo Manassés I de Reims não é simples. Tendo adquirido a Sede de Reims por simonia, em cumplicidade com o Rei de França Filipe I, administrou a sua Diocese, a princípio, de uma forma tranquila que fazia esperar uma governação normal. Homem nobre, Manassés carecia, contudo, do equilíbrio necessário para proceder com rectidão. O Arcebispo era uma homem de armas que esquecia o seu estado clerical. A tradição consagrou uma frase que se lhe atribui: “Reims seria um bom bispado se não se tivesse de cantar missa”.

É no contexto da Reforma Gregoriana que se inicia a grande luta com o Arcebispo Manassés. De um lado vai estar o Papa Gregório VII, o seu Legado em França Hugues de Die e os Cónegos de Reims e, do outro, vai estar o Arcebispo Manassés.
Em 27 de Dezembro de 1080 Gregório VII depõe o Arcebispo Manassés que, segundo tradição, se refugia junto de Henrique IV, Imperador da Alemanha excomungado.
Entretanto, e findo o processo de deposição do Arcebispo Manassés que trouxe nova paz à Igreja remense, foi dada ao Clero de Reims a missão de eleger um novo Arcebispo.
É no contexto da eleição do novo Arcebispo que as atenções trazem à luz o discreto Mestre Bruno a quem, apesar da discreção e modéstia, os acontecimentos puseram em evidência. E, mesmo não tendo voltado a exercer os seus cargos de Mestre-Escola ou de Chanceler, cairam sobre ele os olhares de toda a Igreja de Reims. Mestre Bruno, contudo, recusa a nomeação.
Com a recusa da nomeação e eleição para a Sede Arquiepiscopal de Reims podemos dizer que começa na vida de Mestre Bruno um período completamente novo. No conjunto da vida e obra de S.Bruno temos de afirmar, contudo, que esse episódio não é senão um elemento acessório.
Bruno decide romper todos os laços com o mundo e consagrar-se inteiramente a Deus na solidão. A solidão não será para Bruno um desterro, mas a plenitude da fé viva e da caridade.
Numa data que não se pode indicar com grande precisão, mas que se situará entre 1081 e 1083, S.Bruno deixa Reims.
Dirige-se com dois companheiros, Pedro e Lamberto, para Troyes. Aí perto, em Molesmes, existia uma Abadia Beneditina, à qual Bruno e seus companheiros se dirigiram. Seu Abade era Roberto de Molesmes.
Foi em terrenos cedidos por esta Abadia que Bruno e seus companheiros se instalaram, mais propriamente num local denominado Séche-Fontaine que ficava localizado na floresta de Fiel a uns 40 Kms a sudeste de Troyes e a 8 Kms do Mosteiro de Molesmes.
Ali viveram, segundo uma Carta de Molesmes que relata o início da experiência de Séche-Fontaine, uma vida verdadeiramente eremítica. Esta seria, contudo, uma breve etapa no itinerário espiritual de S.Bruno.
Pouco tempo depois de iniciada esta primeira experiência eremítica, uma opção diferente vai acontecer entre os três companheiros. Pedro e Lamberto vão escolher a vida cenobítica enquanto Bruno procura uma vida verdadeiramente eremítica. S.Bruno deixa este Mosteiro e dirige-se para Grenoble.
A data da chegada de S.Bruno à Chartreuse (montanhas junto a Grenoble) é fixada com precisão em Junho de 1084 por ocasião da Festa de S.João Baptista e a biografia de S.Hugo, Bispo de Grenoble, escrita por Guigo I (+ 1136), contém a narração da entrada de Mestre Bruno e seus companheiros no vale de Chartreuse.
O local escolhido situa-se a 1175 metros de altitude no fundo de um estreito vale no coração do maciço da Chartreuse, uma região montanhosa e de difícil acesso, de rigorosos nevões de inverno. Em todas essas características e circunstâncias vai S.Bruno encontrar francas vantagens. No fundo S.Bruno procura a solidão, uma vida estritamente eremítica, e essas circunstâncias favorecem-na.
O próprio acesso ao local é feito por uma estreita garganta entre desfiladeiros que isola o vale. Verdadeiramente esta era a porta da clausura.
A Cartuxa, com seus eremitérios, vai ser construída ainda mais acima, a cerca de quatro quilómetros desta porta. Os novos eremitas vão, desde logo, ocupar-se da construção da Igreja e das celas bem como pôr em prática uma observância concreta. A construção do primeiro Mosteiro inicia-se no Verão de 1084. Esta construção resistirá até 1132, quando uma avalanche destrói o Mosteiro matando sete monges. Era então Prior do Mosteiro Guigo I que construirá outro Mosteiro mais abaixo cerca de uns dois kilómetros e num local menos propício a gelos e avalanches.
As celas dos eremitas foram agrupadas junto de uma fonte que ainda hoje alimenta o actual Mosteiro da Cartuxa .As primeiras Celas eram construídas com troncos de madeira à maneira de cabanas de pastores ou lenhadores . No primitivo Mosteiro apenas a Igreja foi construída em pedra. Foi consagrada pelo Bispo Hugo de Grenoble em 2 de setembro de 1085 e dedicada à Ssma.Virgem e a S.João Baptista.
Mais tarde as celas repartir-se-ão ao longo de um Claustro, muito semelhante ao dos Mosteiros Cenobitas, mas cujo papel, contudo, é diferente. A razão de ser desta distribuição tem a ver com a própria protecção do rigoroso clima. As celas ligadas pelo dito Claustro estão ligadas também pelo mesmo Claustro à Igreja do Mosteiro.
Os monges cartuxos recitam uma parte dos seus ofícios na solidão da cela e não se reúnem senão para Vésperas e Matinas. É também na cela que permanecem em oração ou estudam e lêem, que fazem os seus trabalhos manuais. As refeições são igualmente solitárias com a excepção do domingo e festas em que existe refeitório comum , bem como oração mais solene também em comum.
Os trabalhos necessários à subsistência da comunidade eram realizados por conversos (irmãos leigos) que se instalaram um pouco mais abaixo mas ainda dentro da clausura.
No Ocidente cristão esta forma de vida religiosa é uma total novidade. A sua inspiração alimenta-se especificamente nos Padres do Deserto do Oriente.
Um dos primeiros dados que sobressai quando se olha para este género de vida é que ele não tem nada em comum com o tipo de vida eremítica de um mosteiro cenobítico. S.Bruno desejava uma vida eremítica pura, com uma estrita solidão. A estrita solidão, ainda que temperada com alguma vida comunitária e a especificidade desta experiência monástica faz com que não possa ser muito numerosa.
O itinerário de S.Bruno para a solidão não acaba com a chegada ao local de Chartreuse.
Em 1085 morre o Papa Gregório VII e é nomeado Victor III que morre pouco mais tarde, em 1087.
Em Março de 1088 , numa Assembleia do Sacro Colégio reunida em Terracina, um antigo aluno de Mestre Bruno, Eudes de Châtillon é eleito Papa com o nome de Urbano II.
O pontificado de Urbano II não foi simples nem fácil. Por isso a sua preocupação em se rodear de homens íntegros cuja fidelidade à Igreja e à obra de Gregório VII já conhecia.
É neste contexto também que Urbano II chama a Roma, para serviço da Sé Apostólica, o seu antigo Mestre Bruno.
S.Bruno responde afirmativamente por se tratar da manifestação da autoridade papal. O acto de obediência de Mestre Bruno ao apelo do Papa foi sem reservas. Por amor à Igreja, e sob a autoridade papal, Bruno renuncia àquilo que tanto tempo levou a encontrar.
A passagem de Bruno por Roma também não foi fácil. Urbano tem a difícil tarefa de continuar a obra de Gregório VII. Além disso, a guerra de Henrique IV e seu “anti-papa” Clemente III contra Urbano II vai fazer com que a Cúria romana seja uma Cúria nómada.
Bruno continua a desejar a vida contemplativa. E Urbano II acaba por autorizar Bruno a retomar a vida eremítica pelo que, após renunciar ao Arcebispado de Reggio proposto pelo Papa, Mestre Bruno se retira no Sul de Itália em Calábria. O lugar onde S.Bruno se instala chama-se Santa Maria da Torre e é um enorme “deserto” situado a 850 metros de altitude, um planalto não habitado rodeado de colinas e florestas que podem, em certa medida, lembrar a Chartreuse.
S.Bruno morrerá em 6 de Outubro de 1101, com pouco mais de 70 anos, após ter pronunciado a “Profissão de Fé”. Diz a tradição que, de tanta veneração que já se tinha na Calabria por S.Bruno, os Monges tiveram de deixar exposto o cadáver três dias até o enterrar.

Efectivos
Actualmente contam-se em cerca de 500 os Monges Cartuxos existentes, estando repartidos por dezoito Mosteiros ou Cartuxas: 5 em espanha, 4 em França, 1 em Itália, na ex-Jugoslávia, na Suissa, na Alemanha, em Portugal, na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e Brasil.
Existem também Mosteiros cartusianos femininos. Contavam-se há alguns anos cerca de cem religiosas repartidas em cinco Mosteiros: 2 em França, 2 em Itália e um em Espanha.

Organização
Cada Mosteiro, ou Cartuxa, é dirigido por um Prior eleito em escrutínio secreto.É ele que nomeia, depois, o conselheiro, o mestre de noviços e o procurador. O governo da Ordem da Cartuxa, em geral, pertence ao Capítulo dos Priores que reúne todos os dois anos na Grande-Chartreuse, a casa-mãe. O Prior da Grande-Chartreuse é, ao mesmo tempo, o Prior Geral da ordem.
A divisa da Ordem da Cartuxa é Stat Crux dum orbis volvitur (A cruz permanece enquanto o mundo passa).

Formação
Após um tempo de discernimento, que pode durar vários anos, e um longo retiro, o aspirante é introduzido no coro dos Monges.
Segue-se o período de postulantado que pode ir de três meses a um ano, após o qual os monges em escrutínio secreto votam o acesso do candidato ao noviciado.
O noviciado dura cerca de dois anos junto do mestre de noviços para permitir uma familiarização com a espiritualidade, a liturgia a Regra e os Estatutos da Cartuxa. Após o primeiro ano inicia-se a formação doutrinal: Padres do deserto, História da Igreja, Sagrada Escritura ... tempo no fim do qual o noviço é admitido á profissão temporária pela Comunidade.
Após cinco anos dos votos temporários, e de continua formação, o candidadto é admitido à “grande profissão” e faz promessa de “estabilidade”, “obediência” e “conversão total”.

Hábito e regime alimentar
A única refeição quente do dia é tomada ao meio dia. Em cada cela é deixado pelos irmãos da cozinha o prato contendo peixe (nunca carne), legumes, compota. À tarde são dois ovos e fruta. Esta ultima refeição é suprimida durante a Quaresma.
Os Monges da Cartuxa (Cartuxos) têm sempre o cabelo curto (cabeça mesmo quase rapada), usando alguns a barba. O seu hábito é constituído por uma grande túnica branca apertada na cintura por um cinto branco também. Por cima da túnica um grande escapulário, branco também, cujos panos da frente e detrás são ligados por duas tiras de lã.

Um dia na Cartuxa
23h45 - levantar
24h00 - Matinas do pequeno Ofício de Nª Senhora
24h15 - Laudes (na Igreja)
02h45 - Laudes de Nossa Senhora (na Cela)
06h45 - Levantar
07h00 - Angelus. Hora Prima da Nossa Senhora e do dia.
07h30 - Exercícios espirituais ( na Cela)
08h00 - Hora Tercia
08h15 - Missa Conventual
10h00 - Exercícios espirituais (na Cela)
11h15 - Hora Sexta
11h30 - Refeição (na Cela)
12h30 - Tempo livre. Arranjo da Cela e outros trabalhos (na Cela)
13h15 - Hora Nona
13h30 - Exercícios espirituais (na Cela). Algumas vezes pequenos
trabalhos de jardinagem
15h30 - Vésperas de Nª Senhora (na Cela)
15h45 - Vésperas do dia (na Igreja)
16h15 - Exercícios espirituais (na Cela)
17h15 - Pequena refeição
18h45 - Angelus. Exercícios espirituais (na Cela)´
19h15 - Completas do dia e de Nossa Senhora (na Cela)
20h00 - Descanso.


Ordem da Cartuxa em Portugal
Cartuxa de Sancta Maria Scala Coeli
Estrada de Arraiolos
7000 ÉVORA
Telef.(066) 32788.
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[1] Cf. CHARTREUX, Méditation sur la vocation cartusienne, in Paroles de Chartreux,
[2] « Quoniam precipue studium et propositum nostrum est, silentio et solitudini celle vacare, juxta illud Iheremiae, Sedebit solitarius et tacebit » GUIGO I, Consuetudines Cartusiae XIV, 5: SC 313
[3] Cf. CHARTREUX, Aux sources...II
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