quinta-feira, dezembro 28, 2006

Natal


Um conto de MIGUEL TORGA


De sacola e bordão, o velho Garrinchas fazia os possí­veis par se aproximar da terra. A necessidade levara-o lon­ge de mais. Pedir é um triste ofício, e pedir em Lourosa, pior. Ninguém dá nada. Tenha paciência, Deus o favore­ça, hoje não pode ser - e beba um desgraçado água dos ribeiros e coma pedras! Por isso, que remédio senão alargar os horizontes, e estender a mão à caridade de gente desco­nhecida, que ao menos se envergonhasse de negar uma cô­dea a um homem a meio do padre-nosso. Sim, rezava quando batia a qualquer porta. Gostavam... Lá se tinha fé na oração, isso era outra conversa. As boas acções é que nos salvam. Não se entra no céu com ladainhas, tirassem daí o sentido. A coisa fia mais fino! Mas, enfim... Segue-se que só dando ao canelo por muito largo conseguia viver.
E ali vinha de mais uma dessas romarias, bem escusa­das se o mundo fosse doutra maneira. Muito embora trou­xesse dez réis no bolso e o bornal cheio, o certo é que já lhe custava arrastar as pernas. Derreadinho! Podia, realmente, ter ficado em Loivos. Dormia, e no dia seguinte, de ma­nhãzinha, punha-se a caminho. Mas quê! Metera-se-lhe em cabeça consoar à manjedoira nativa... E a verdade é que nem casa nem família o esperavam. Todo o calor possível seria o do forno do povo, permanentemente escancarado à pobreza. Em todo o caso sempre era passar a noite santa debaixo de telhas conhecidas, na modorra dum borralho de estevas e giestas familiares, a respirar o perfume a pão fresco da última cozedura... Essa regalia ao menos dava-a Lourosa aos desamparados. Encher-Ihes a barriga, não. Agora albergar o corpo e matar o sono naquele santuário colectivo da fome, podiam. O problema estava em chegar lá. O raio da serra nunca mais acabava, e sentia-se cansa­do. Setenta e cinco anos, parecendo que não, é um grande carrego. Ainda por cima atrasara-se na jornada em Feitais. Dera uma volta ao lugarejo, as bichas pegaram, a coisa co­meçou a render, e esqueceu-se das horas. Quando foi a dar conta, passava das quatro. E, como anoitecia cedo, não ha­via outro remédio senão ir agora a mata-cavalos, a correr contra o tempo e contra a idade:, com o coração a refilar. Aflito, batia-Ihe na taipa do peito, a pedir misericórdia. Ti­vesse paciência. O remédio era andar para diante. E o pior de tudo é que começava a nevar! Pela amostra, parecia coi­sa ligeira. Mas vamos ao caso que pegasse a valer? Bem, um pobre já está acostumado a quantas tropelias a sorte quer. Ele então, se fosse a queixar-se! Cada desconsideração do destino! Valia-Ihe o bom feitio. Viesse o que viesse, recebia tudo com a mesma cara. Aborrecer-se para quê?! Não lu­crava nada! Chamavam-lhe fiIósofo ... Areias, queriam di­zer. Importava-Ihe lá.
E caía, o algodão em rama! Caía, sim senhor! Bonito! Felizmente que a Senhora dos Prazeres ficava perto. Se a brincadeira continuasse, olha, dormia no cabido! O que é, sendo assim, adeus noite de Natal em Lourosa...
Apressou mais o passo, fez ouvidos de mercador à fadi­ga, e foi rompendo a chuva de pétalas. Rico panorama!
Com patorras de elefante e branco como um moleiro, ao cabo de meia hora de caminho chegou ao adro da ermi­da. À volta não se enxergava um palmo sequer de chão des­coberto. Caiados, os penedos lembravam penitentes.
Não havia que ver: nem pensar noutro pouso. E dar graças!
Entrou no alpendre, encostou o pau à parede, arreou o alforge, sacudiu-se, e só então reparou que a porta da ca­pela estava apenas encostada. Ou fora esquecimento, ou al­guma alma pecadora forçara a fechadura.
Vá lá! Do mal o menos. Em caso de necessidade, podia entrar e abrigar-se dentro. Assunto a resolver na ocasião de­vida... Para já, a fogueira que ia fazer tinha de ser cá fora. O diabo era arranjar lenha.
Saiu, apanhou um braçado de urgueiras, voltou, e ten­tou acendê-Ias. Mas estavam verdes e húmidas, e o lume, depois dum clarão animador, apagou-se. Recomeçou três vezes, e três vezes o mesmo insucesso. Mau! Gastar os fós­foros todos, é que não.
Num começo de angústia, porque o ar da montanha to­lhia e começava a escurecer, lembrou-se de ir à sacristia ver se encontrava um bocado de papel.
Descobriu, realmente, um jornal a forrar um gavetão, e já mais sossegado, e também agradecido ao Céu por aque­la ajuda, olhou o altar.
Quase invisível na penumbra, com o divino Filho ao colo, a Mãe de Deus parecia sorrir-lhe.
- Boas festas! - desejou-lhe então, a sorrir também.
Contente daquela palavra que lhe saíra da boca sem sa­ber como, voltou-se e deu com o andor da procissão arru­mado a um canto. E teve outra ideia. Era um abuso, evi­dentemente, mas paciência. Lá morrer de frio, isso vírgula! Ia escavacar o arcanho. Olarila! Na altura da romaria que arranjassem um novo.
Daí a pouco, envolvido pela negrura da noite, o cober­to, não desfazendo, desafiava qualquer lareira afortunada. A madeira seca do palanquim ardia que regalava; só de se cheirar o naco de presunto que recebera em Carvas crescia água na boca; que mais faltava?
Enxuto e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra, e sentou-se. Mas antes da primeira bocada a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de consciência, er­gueu-se e chegou-se à entrada da capela. O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e enchia depois a casa toda.
- É servida?
A Santa pareceu sorrir-lhe outra vez, e o menino tam­bém.
E o Garrinchas, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou, diri­giu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para junto da fogueira.
- Consoamos aqui os três - disse, com a pureza e a ironia dum patriarca. - A Senhora faz de quem é; o pe­queno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de São José.


« O Cristianismo vive do que poderíamos chamar um fundamental optimismo metafísico ao mesmo tempo que de um realismo histórico. O primeiro funda-se na fé, na criação, no Deus que fez surgir toda a realidade, que declarou muito bom tudo quanto tinha feito e que constituiu o homem senhor de tudo o resto e responsável de si, imagem do seu próprio ser, e com capacidade de chegar a ser semelhante a Ele, com uma semelhança que será fruto de uma liberdade acreditada no tempo. No princípio estão a vida, a liberdade e a história aberta. No princípio estão a palavra criadora de Deus, a acção animadora e sustentadora do espírito sobre a face informe do mundo. No princípio não está a morte, nem o pecado, nem a confusão da liberdade na incomunicação dos homens entre si *.

O. Qonzález de Cardedal


«O homem só existe como pessoa, e, por isso, não em elevada distância, fechada solidão ou afrontamento indiferente, mas em abertura e relação.
O que diferencia as coisas das pessoas é que aquelas são e estão condenadas à autonomia, quer dizer, à incomunicação e solidão, enquanto as pessoas estão destinadas à relação, à existência interdependente, a uma liberdade que não nasce face ou contra o próximo, mas da aceitação, oferta e acolhimento do outro, igualmente livre e soberano »

O. Qonzález de Cardedal




Jesus

Era uma história de amor …
(Portanto uma história de dor!
De sofrimento e de gemidos!
De silêncio e de esquecimento!
E de procura e de perda
De imolação e de perdão,
De agonia e de morte!)
Era uma história de amor.

J. A. Carmenes

quarta-feira, dezembro 27, 2006




« Os homens, no começo, sentiram alguma dificuldade em acostumar-se a Deus. Deus, no começo, sentiu alguma dificuldade em acostumar-se aos homens. E no século treze ainda se está no começo. No século vinte não estamos mais longe, não fizemos outra coisa senão marcar passo, atolando-nos um pouco mais nesse furor em espelho de Deus e dos homens, conforme nos dão testemunho a poeira dos nossos sapatos e o sangue em crosta nos nossos lindos fatos.
Francisco de Assis conhece Isaías […] conhece bem a Bíblia […] A voz de Deus está na Bíblia sob toneladas de tinta, como a energia concentrada sob toneladas de betão numa central atómica. O jovem de Assis foi irradiado por esta voz. Já nada mais quer senão transmiti-la […].

Há algo no mundo que resiste ao mundo, e este algo não se acha nas igrejas nem nas culturas nem no pensamento que os homens têm de si próprios, na crença mortífera que eles têm de si próprios enquanto seres sérios, adultos, razoáveis, e este algo não é uma coisa, mas Deus, e Deus não pode caber em nada sem logo o abalar, o arrasar, e Deus imenso não sabe caber senão nos estribilhos de infância, no sangue perdido dos pobres ou na voz dos simples, e todos esses abarcam Deus no côncavo das suas mãos abertas, um pardal encharcado como pão pela chuva, um pardal transido, chilreador, um Deus pipilante que vem comer nas suas mãos nuas.
Deus é o que sabem as crianças, não os adultos. Um adulto não pode perder tempo a alimentar os pardais».

Christian BOBIN, Um Deus à flor da Terra, 98

sexta-feira, dezembro 22, 2006



Natal

- da noite para o dia -


As luzes do Natal

Quando os dias se fazem mais curtos, quando os primeiros sinais de Inverno se fazem presentes, timidamente, silenciosamente despertam em nós os primeiros sentimentos e pensamentos de Natal. E desta simples palavra “Natal” brotam sentimentos tão numerosos e tão diferentes que, parece, nenhum coração humano lhe resiste.
Mesmo aqueles para quem a história da Criança que nasce em Belém não diz nada se prepararam para a festa e se interrogam sobre a forma como, nesta quadra, fazer acontecer o amor ao seu redor. Festa do amor e da alegria, o Natal é assim uma espécie de estrela de Inverno para a qual todos caminham e da qual todos partem.
Mas que estrela é essa? O que ilumina ela? E que representa?
Podíamos tentar aqui uma espécie de brincadeira. Imaginemos que neste momento todas as luzes se apagavam e que tínhamos de dizer quantas e quais a coisas que se encontravam na sala onde nos encontrássemos. Ou lembremo-nos do nosso levantar todos os dias pela manhã: qual é a primeira coisa que vemos? E porquê? Uns vêm o despertador (olhando … “vê-se” o tempo diante de nós); outros vêem a pessoa amada (olham e “vêem” o amor); outros vêm um qualquer objecto que tenham junto de si (o olhar marca uma proximidade), etc. Em qualquer caso o olhar que se detém em algo ou em alguém (uma realidade física) reenvia para algo não-físico (tempo, amor, fidelidade, compromisso).


Natal não é apenas um aniversário

Por tudo isto, o Natal não é apenas um aniversário. É sempre um acontecimento novo. É um nascimento. Aliás, nós somos sempre passado, presente e futuro. Ou, como dizia Sto Agostinho, somos o presente do passado e isso é a memória; somos o presente do presente, e isso é a visão; e somos o presente do futuro e isso é a esperança[1].
Natal é uma aparição de Deus entre os homens; é sim o nascimento de uma criança que só Deus podia dar ao mundo, uma criança nascida de uma mulher. Mas que vem de Deus e que vai ser no mundo a “narrativa” e a “explicação” de Deus
[2].
Então este nascimento não é uma metáfora; é sim uma realidade histórica que permanecerá como sinal. Um nascimento que é um sinal porque contém em si tudo aquilo que mais desejamos mas que precisa ser tocado por nós. É como que uma semente que só floresce em contacto com a atmosfera das nossas vidas. É por isso que o Natal não é um aniversário de algo passado e que tenha ficado preso nesse passado. Não! Natal é hoje!
“Hoje nasceu o nosso Salvador” diz s. Lucas. Dizer “Hoje nasceu” é um daqueles casos em que a nossa linguagem não se reduz a um comentário ao que acontece ou ao que fazemos, mas é sim um acção verdadeira. A linguagem do amor é sempre assim, a linguagem existencial é sempre assim.
Na nossa vida o presente (“Hoje”) tem, de facto, um valor imenso, fundamental e particular porque é o horizonte que nos permite tocar a vida na sua maior autenticidade e realidade. É o horizonte que nos permite relacionar a vida ao Bem, à Verdade que nos transcende, à Presença que nos alimenta.
Esta é uma daquelas dimensões da vida em que não dizemos o que fazemos (o tal comentário), mas antes fazemos o que dizemos. Ao dizermos estamos a permitir que se produzam efectivamente em nós os sentimentos que expressamos: uma verdadeira sintonia com o fundamento da realidade. Por isso cada momento é sempre o mesmo e é sempre novo.

Um povo que andava nas trevas viu uma luz

Os textos bíblicos de Isaías referem-se, profeticamente, ao Natal desta forma: O povo que andava nas trevas viu uma grande luz. Para aqueles que habitavam no país das trevas uma luz começou a brilhar (Is 9, 1).
O texto tem, evidentemente, um contexto histórico próprio e objectivo: o povo de Israel experimentou a deportação e o exílio, mas não se rendeu à desgraça, alimentou a esperança. Este é, contudo, um texto profético que continua a profetizar. Podemos ler este texto através do “Hoje” que transforma em “eterno presente” o seu dinamismo interno e a verdade que diz.
Biblicamente, as trevas são sempre sinal de desgraça, de opressão, de cativeiro ou mesmo de morte. Em sentido inverso a luz é sempre sinal de libertação, salvação, visão clara, conhecimento, discernimento, enfim sinal de verdade e de autenticidade.
Lido em retrospectiva este texto diz respeito à libertação de Israel do cativeiro da Babilónio, mas diz também respeito à esperança de uma felicidade mais profunda por parte de Israel. Qual foi a luz que Israel viu? A liberdade, sem dúvida. Mas também a sua esperança mais profunda realizada: “Encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoira” (Lc 2, 12) diz o Evangelho de Lucas. E é aqui que se vislumbra o sinal do Natal, a sua luz.
O sinal dado aos pastores naquela noite é um sinal extremamente simples, um sinal extremamente pobre. É um sinal que pertence à humanidade simples: uma criança nasce, mas na simplicidade e pobreza de um estábulo; uma criança nasce mas vê negada a hospitalidade.
Eis o sinal, a luz do natal. Tudo está aqui condensado. É uma criança pobre, uma criança simples que nasce: o Senhor e salvador, o Messias aguardado, é uma criança pobre, filho de pobres, nascido na pobreza
[3]. A Luz mais brilhante do Natal é, portanto, esta relação entre a pobreza e a glória, a relação entre a simplicidade e a glória. Como quem diz que a primeira e grande nota da solenidade é a sua simplicidade, a sua autenticidade, a sua verdade.
O início de uma vida de homem sobre a terra: é, talvez, esta simplicidade a razão da universalidade da mensagem do Natal: esta criança viverá a maior parte da sua vida no meio dos homens do seu tempo; passará pelo mundo fazendo o bem ; realizando sinais ligados às necessidades dos homens, realiza a relação e comunhão dos homens com Deus e dos homens entre si: pão e vinho multiplicados, saúde reecontrada, natureza e homem reconciliados, fraternidade restabelecida, a vida e o amor reafirmados como mais fortes que a morte.
E será a vivência quotidiana de tudo isto que fará com que seja reconhecido como Filho de Deus.


Vida entregue a Cristo: da noite para o dia

“Hoje nasceu o nosso Salvador”. O “Hoje” do nosso Natal é, portanto, o hoje deste encontro entre cada um de nós e a verdade desta criança. Nós não celebramos hoje Natal como há dois mil anos. Celebramo-lo com a Criança já inteiramente revelada. O Natal faz apelo a toda a vida, a todas as palavras de Jesus Cristo, a todas as suas acções, a todos os seus gestos. E o “Hoje” do Natal é o momento do encontro com essa simplicidade da verdade e da autenticidade.
Como a vida da humanidade seria diferente se a simplicidade do Natal se expandisse pelas vidas de todos e cada um. Simplicidade que significa descomplicar a vida do dia a dia; simplicidade que significa aquela nossa fome natural de sentido, de segurança e de afecto; simplicidade que significa autenticidade sem representações.
O “Hoje” do Natal é trazer á nossa vida cada modo de agir, cada modo de pensar, cada modo de resolver a vida que Jesus assumiu. De facto, o que seria a nossa vida e a vida de toda a humanidade, as nossas relações, os nossos confrontos, se lhes conseguíssemos juntar aquele amor que dá tudo e se entrega todo que vimos acontecer em Jesus de Nazaré?! E se lhe copiássemos essa forma livre e autêntica de ser e de estar?!
As luzes do nosso Natal são a expressão da ânsia dessa luminosidade. São símbolos dos desejos interiores que ainda não conseguimos realizar. Queremos estar iluminados por dentro e para não nos esquecermos acendemos as luzes fora como que a dizer-nos: que bom será o mundo quando for Natal! De facto, aquela criança fez-se homem para nos ensinar a viver no mundo (Tt 2, 11 – 12).
No hemisfério norte os símbolos naturais são extremamente forte neste período. E os primeiros cristãos integraram-nos na sua vivência. Todos os anos os cristãos, como todos os seus concidadãos, reparavam que a partir do equinócio do Outono se acentuava progressivamente o declínio da luz: as noites são cada vez maiores e os dias cada vez mais pequenos. No momento do solstício de Inverno a situação inverte-se e a luz do dia começa a conquistar tempo sobre a noite: os dias começam a crescer e as noites a ficar mais pequenas. No calendário juliano, o solstício de Inverno acontecia por 25 de Dezembro. E os cristãos começaram a celebrar aí Natal: Jesus, cada Palavra sua, cada gesto seu, cada acção sua é a Luz, o novo Sol da justiça e da verdade: por causa daquela criança e existencialmente, a luz afirma-se sobre a escuridão, efectiva-se uma passagem das trevas para a luz, uma passagem, enfim, da noite para o dia! E é isso o Natal: da noite para o dia!

P. Emanuel Matos Silva

[1] SANTO AGOSTINHO, Confissões XI, 21, 26.
[2] Cf. Enzo BIANCHI, Donner sens au temps (Paris: Bayard, s/d) 19.
[3] Cf. Enzo BIANCHI, op. cit.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Rezar pelas Vocações

- a gratidão do Seminário –


“Tu amas-Me?” pergunta Jesus
Decorreu de 12 a 19 de Novembro a Semana dos Seminários. Foi uma semana em que a Igreja foi desafiada a lembrar mais intensamente na oração os Seminários, seus Seminaristas e formadores. Tendo como tema de reflexão a interrogação de Jesus a Pedro (“Tu amas-Me?”) e a consequente missão em que Jesus investe Pedro (“Apascenta as minhas ovelhas”), esta semana foi, de facto, uma ocasião para sentir como Jesus Se prolonga e faz presente na Igreja, na Palavra e no Sacramento e, por isso, necessita de homens baptizados que, deixando-se apaixonar por Jesus Cristo, Lhe respondam como Pedro (“Tu sabes que Te amo”) e se deixem enviar para evangelizar.
A Luz dos Povos é Cristo, mas a Igreja é o seu Sinal ou Sacramento. É precisamente esta sacramentalidade da Igreja que necessita de ministros para agir. A Igreja é Corpo de Cristo e neste Corpo cada cristão, cada baptizado, tem um lugar, uma vocação e uma missão que se pode resumir na permanente proximidade em relação a Jesus e aos irmãos bem como no testemunho do seu sentido de vida. Mas para que todos os cristãos possam realizar a sua vocação e missão, Jesus fez-Se continuar nos Apóstolos e, depois, seus sucessores. A vocação do Bispo na Igreja e, enquanto seus colaboradores, a vocação dos padres, tem este fundamento e razão de ser: é um serviço ao baptismo (à fé, portanto) de todos os cristãos. São eles, no seguimento de Jesus e unidos a Jesus Vivo e presente, que têm como missão fazer crescer na fé todos os outros cristãos. Consagram-se para isso e toda a sua vida, afectiva e institucionalmente, é referida a essa missão: ensinar, santificar, conduzir.
Uma vocação assim – de verdade - só pode brotar de um encontro pessoal com Jesus no meio e na vida da Igreja. Não é um dom para usar e usufruir apenas pessoalmente, é um dom à comunidade. Por isso as vocações de consagração, o sacerdócio em particular, hão-de nascer na comunidade e da experiência da fé vivida comunitariamente. E aí Deus chama gratuitamente e às vezes inesperadamente, mas também chama pelas necessidades que a comunidade sente em termos do cuidado da sua fé. Vigilância cristã é, sobretudo, uma atitude de disponibilidade às manifestações de Deus e ao que Ele inspira. É então precisamente aqui que entra o dinamismo da oração. Deus só se entende bem na oração. Só rezando se percebe bem o que Deus quer de nós e o que Deus quer da nossa Igreja. A vocação é mistério da mais profunda autenticidade e a oração é a relação por excelência onde se aprende e se caminha para a autenticidade. Já tentaram rezar uma mentira? Nunca funciona pois não? Não, de facto, não funciona. Então a oração ajuda a descobrir a vocação e as vocações. A oração ajuda a não ter medo de responder pessoalmente ao Mestre que chama e quando chama.
Rezando pelas vocações, e pelos Seminários em particular, é a própria comunidade cristã que sente e se consciencializa de que o Seminário é parte integrante de si mesma: é a continuação do grupo que Jesus estabeleceu com os doze para os ensinar e, depois, os enviar. Só rezando a Igreja compreende e valoriza o seu Seminário.


Senhor, dai-nos muitos e santos sacerdotes
O Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações (formado em grande parte pelos nossos Seminaristas mais velhos) tem promovido, desde o início deste ano pastoral, a oração pelas vocações. É esse, aliás, o grande pedido que tem feito nas comunidades paroquiais por onde tem passado: que se reze pelas vocações e, em particular, pelos seminaristas.
Em qualquer contexto se pode rezar pelas vocações e lembrar ao Senhor os nossos Seminaristas: nas Eucaristias das comunidades, nas celebrações da Palavra, no Terço, na Liturgia das Horas, nas adorações do Santíssimo Sacramento, na oração pessoal e comunitária. E é muito importante que isso se faça. Mas este ano, para ajudar, o SDPVocações dinamizou uma cadeia de oração por Sms (mensagem de telemóvel): deixando uma mensagem ou enviando um toque para o 917097173, recebeu-se a partir do primeiro domingo do Advento, uma pequena oração que, mais ou menos à mesma hora, coloca pessoas nos mais variados e distantes locais a rezar em comunhão com a mesma intenção: as vocações, particularmente as sacerdotais, na nossa Diocese. E o desafio foi acolhido e ultrapassou as fronteiras das mensagens de telemóvel: das imensas pessoas que receberam a primeira mensagem, muitas quiseram retribuir e mostrar que estavam presentes. E foram, sem dúvida, momentos fortes de oração de uma Igreja que, nas suas comunidades, se quer voltar para o Senhor. Jovens e adultos fizeram chegar ao SDPVocações e aos Seminaristas a expressão da sua oração.
Uma conclusão se pode tirar já: a Igreja sente a falta das vocações de especial consagração e sabe, confiante, que só junto de Deus as encontrará.

Bem-hajam pela oração
Durante a Semana dos Seminários foram muitas as mensagens que chegaram ao Seminário dando conta de que a Diocese não se esquecia de rezar pelos seus Seminaristas. Comunidades Religiosas, Comunidades Paroquiais, Párocos, Famílias, Jovens e menos Jovens de todos os cantos da Diocese expressaram a sua presença junto dos Seminaristas. A mensagem podia ser comum (“é para vos dizer que nesta Semana dos Seminários a nossa Paróquia de … e o seu Pároco os lembrou em oração e pediu ao Senhor que os faça sempre felizes e santos”) mas cada uma trazia o seu ritmo particular e a sua experiência comunitária de oração. Lembro uma que nos dizia “Nesta Semana dos Seminários o nosso coração está mais perto do Coração da Diocese (Seminário) e lembra na oração cada um dos Seminaristas”. Ou aquela que nos confidenciava “que olhar para o Seminários, para os Sacerdotes e para os Seminaristas sem me querer tornar um deles é um desafio a que não sei se conseguirei resistir muito tempo. Rezem por mim”. Ou aquela outra de alguém que dizia “espero um dia poder juntar-me a vós”.
Enfim, com muitas formas e de muitas maneiras, o Seminário foi objecto do carinho e da oração de tantos e tantos cristãos na nossa Diocese. Sacerdotes que telefonaram, doentes que ofereceram os seus sofrimentos por esta intenção foram ocasiões de perceber o mistério da vocação como um mistério de fé.
E houve uma Paróquia da nossa Diocese que nos surpreendeu de maneira extraordinariamente bela: cada uma das crianças, muitas dezenas, da Catequese Paroquial de Nisa, escreveu uma carta aos Seminaristas. Mensagens de extrema beleza e simplicidade com desenhos dos mais novitos e dizendo que rezavam para que um dia os agora Seminaristas fossem bons padres. Ou então mensagens mais elaboradas com textos de autêntica partilha de sentimentos dos mais velhos a encorajar a opção de seguir Jesus e a pedir aos Seminaristas uma oração.
É por tudo isto e pelo muito que fica por dizer que o Seminário quer agradecer a Deus e aos cristãos da nossa Diocese. Na nossa oração não vos esqueceremos. Sentir-vos perto ajuda o nosso discernimento e credibiliza a nossa experiência. Mas temos ainda um pedido mais: nunca nos esqueçam na vossa oração e desafiem mais gente a que reze pelas vocações e, em particular, pelas vocações sacerdotais. Seguramente Deus ouvir-nos-á e dir-nos-á o que fazer. Sempre o fez. Não era agora que nos faltaria.

P. Emanuel Matos Silva

domingo, novembro 05, 2006





12 a 19 de Novembro de 2006
Semana dos Seminários

Vamos rezar pelos nossos Seminaristas:

  • Leonel de Matos Lopes (Paróquia da Ponte de Sor): 2º ano
  • Nuno Miguel Lopes Silva (Paróquia da Bemposta): 2º ano
  • Gilberto Manuel Antunes Fernandes (Paróquia da Isna): 3º ano
  • Daniel Santos Almeida (paróquia do Salgueiro): 5º ano

_________________________________________________________

Senhor Jesus,
Obrigado pela generosidade de tantos sacerdotes
Que, confiantes no Teu amor,
Te entregaram o coração e a existência.
Obrigado pelos nossos jovens seminaristas
Que, fixando o olhar no Teu, procuram, no mais íntimo das suas vidas
Responder, com verdade,
Ao teu inquietante chamamento.

Senhor Jesus,
Também a mim, como outrora a Pedro,
Tu diriges a pergunta:
“ Tu amas-Me?”.
Concede-me uma fé inabalável no Teu amor,
Para que Te possa responder,
Com verdade e sem reservas,
E a Ti me entregue sem medos ou condições.

Senhor Jesus,
Ajuda-me a amar a Tua Igreja,
Na qual aprendi a conhecer-Te e a amar-te,
Para que, vendo as suas necessidades,
Acolha com confiança o teu pedido:
“Apascenta as minhas ovelhas”.
Que em mim se cumpra o que Tu queres
e não o que eu quero.
Ao teu amor me entrego e consagro a minha vida.

(Oração da Semana dos Seminários 2006)


quinta-feira, outubro 26, 2006



"Quereis saber quão feliz, quão alto e quão digno de ser festejado é o Nascimento de Maria? Vede o para que nasceu. Nasceu para que d’Ela nascesse Deus. (...) Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina, dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde; perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios; perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança.
Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz; os discordes, para Senhora da Paz; os desencaminhados, para Senhora da Guia; os cativos, para Senhora do Livramento; os cercados, para Senhora da Vitória. Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho; os navegantes, para Senhora da Boa Viagem; os temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bom Sucesso; os desconfiados da vida, para Senhora da Boa Morte; os pecadores todos, para Senhora da Graça; e todos os seus devotos, para Senhora da Glória.
E se todas estas vozes se unirem em uma só voz, dirão que nasce para ser Maria e Mãe de Jesus"



P. António Vieira(Sermão do Nascimento da Mãe de Deus).

terça-feira, outubro 24, 2006






O desafio de parar para reflectir

- Elementos de ajuda para um retiro pessoal -



Em grupo ou individualmente, muitos cristãos tonificam a sua vida espiritual cristã com tempos de retiro ou de recolecção. Acontece em qualquer tempo e sempre que se perceba necessário e útil. Mas, tradicionalmente, o tempo de Quaresma, preparando a celebração do Mistério Pascal, é um dos momentos preferidos.
Existem diversas formas de fazer retiro quanto à duração e dinâmica de realização. Podem ter um dia, um fim de semana, uma semana, um mês. Podem ser realizados em grupo ou individualmente. Podem ter ou não um orientador definido. Normalmente sai-se de casa e procura-se um local que ajude, pelo silêncio e pelo enquadramento, a fazer essa paragem. Mas também há já retiro acompanhados através da Net. Basta escolher o site, definir o retiro pretendido, inscrever-se e, através da Net, podemos ter em casa ou em outro local, e no decorrer dos dias de trabalho, a possibilidade de fazer retiro. O acompanhamento pessoal é, contudo, sempre um elemento importante no retiro e que pode fazer a diferença entre um “bom retiro” ou um “desperdício de tempo”. O importante, contudo, é que sejam momento de paragem e de reconstrução da relação afectiva com Deus. A afectividade é precisamente aquilo que nos liga aos outros, às coisas, aos projectos e ideais, ao próprio Deus. É o que nos faz experimentar sair de nós mesmos e confiar. E é precisamente essa dimensão do nosso ser que é bom fazer parar, reflectir e comprometer de novo. Fazer retiro pode ser uma experiência interessantíssima de encontro com Deus e de transformação do coração para nos colocarmos ao seu serviço.
O que se segue é um exemplo de sequência de textos bíblicos que conduzem a uma caminhada de reflexão pessoal. Aponto-os apenas como partilha de uma possibilidade para que, alguém que deseje, possa parar algum tempo e rezar.


Retiro:
Rezar as perguntas de Jesus


1º dia (à noite)
"Que queres que Eu te faça ?" (Lc 18, 35-43)

Ler e meditar os textos. Jesus pergunta-me a mim também "Que queres que te faça ?"O que preciso que Jesus me faça ? Tenho coragem e lucidez para dizer o que, de verdade, preciso ? Quais são os problemas que preciso de ver ultrapassados ? Posso dizê-los a Jesus para, como fez ao cego, me "curar" ? O cego pediu a Jesus "que eu veja Senhor". E nós que pedimos ? Aprofundar a consciência de que "tocar Jesus", ou ser por Ele tocado, é abeirar-se do seu Mistério e Pessoa e assumir os seus desafios. E isso cura.

2º dia

- 1º momento " Que é o homem, Senhor, para que vos lembreis dele ?" (Salmo 8); " Vós conheceis o íntimo do meu ser" (Salmo 138)
Meditar sobre quem é a pessoa humana, quem somos nós. Situar-se, desde o início, nesta verdade: somos criaturas dependentes de Deus, mas que, todos os dias, temos que fazer opções. Como tenho vivido ? Apenas com base no que "devo fazer" ? Apenas com base no que "quero fazer" ?

- 2º momento: "Pai dá-me a parte da herança que me cabe ..." (Lc 15, 12 ...)
Meditar a Parábola do Filho Pródigo: Para me sentir feliz tenho de me afastar dos outros e da "casa do Pai" ? Como lido com as ideias que outros pensam ? Como vejo a "interferência" dos outros na minha vida ? Pensar e reflectir as solidões em que caímos por não nos relacionarmos nem ouvirmos os outros. Somos o "irmão mais novo", o "irmão mais velho", ou o "Pai" nas nossas atitudes espontâneas.

- 3º momento: " A verdade vos libertará" (Jo 8, 30-32)
Meditar esta Palavra com base na atitude de que só assumindo a nossa verdade nos libertaremos e ultrapassaremos as nossas dificuldades...

3º dia

1º Momento: " Homem de pouca fé, porque duvidaste ?" (Mt 14).
Rezar e meditar a dimensão do pecado. O pecado é sempre da ordem da desconfiança (não confiança em Deus). É querer salvar-se apenas pelas próprias forças.

2º Momento: " Quem dizem os homens que Eu sou ?" (Mc 8, 27-30)
À luz deste texto e outros paralelos contemplar a vida e mistério de Jesus Cristo. Quem é verdadeiramente Jesus ? A sua Encarnação, Vida, Morte, Ressurreição revelam-me alguma novidade de Jesus ?

3º Momento:" Tu amas-Me ?" (Jo 21, 15 ss)
É ao Pedro da "negação" que Jesus entrega o cuidado do seu rebanho, mas primeiro quer a confissão do amor pelo seu projecto, Reino e Pessoa.

4º dia

1ºMomento: "Podeis beber os cálice que Eu estou para beber?" (Mt 20, 20 ss);"Chamou os que quis ..." (Mc 3, 13).
Rezar e meditar o chamamento de Jesus a segui-l'O.
Chamamento de Jesus:
- 1º )Estar com Ele e fazer como Ele
- 2º) Estimula em nós a dinâmica do "mais de nós" e não do "maior que outros"
- 3º) Pede despojamento

2º Momento: "Que discutíeis pelo caminho ?" (Mc 9, 33).
Meditar e rezar as opções que temos de realizar para seguir de perto Jesus Cristo. Que discutimos ou de que falamos mais normalmente no dia a dia ? Valores a eleger no dia a dia: Verdade, Sinceridade, Humildade.

3º Momento: "Quem procurais ?" ( Jo 1, 38).
Meditar e rezar a própria Oração. O que é a oração ? Como tenho rezado ? (Rom 8, 26- 30; Lc 18, 9-14; 16-17) Duas atitudes essenciais para a oração: Humildade e Confiança. "Rezar é tratar de amizade muitas vezes a sós com Deus que sabemos que nos ama" (Sta. Teresa de Ávila).

5º dia (final)


1º Momento: "Compreendeis o que vos fiz ? Fazei-o de igual modo." ( Jo 13. 12 ss).
O que é que Jesus nos fez ? Lavou os pés ! Mas a atitude de lavar os pés é símbolo e expressão de toda a vida de Jesus: Deus que serve o homem, assume a humanidade para a purificar do pecado, caminha com ela para a conduzir ... foi isso que Jesus nos fez. Somos chamados a fazer o mesmo aos nossos irmãos ... não apenas como nós queremos, mas sim como eles precisam. Fazer uma releitura do retiro, mas também de toda a vida. Rezar os dons que Deus concedeu durante a vida. Lembrar os principais momentos.
O tempo de retiro dinamiza a vida cristã na medida em que, numa experiência de caminho:
- Coloca aquele que se retira perante a verdade de si como alguém que tem que servir e escolher e perante o reverso desta perspectiva que é o pecado;
- Ensina a seguir o caminho de Cristo, estimulando a sua afectividade (amor) apresentando o servir e o escolher qualificados agora pelo serviço que se aprendeu de Cristo.
- Finalmente, o serviço e a escolha convertem-se em comunhão é uma resposta a orientar e desafiar toda a vida: Vós me destes tudo, Senhor; a Vós o restituo
___________________________________________

P. Emanuel Matos Silva

quinta-feira, outubro 12, 2006







Tomai, Senhor, e recebei
toda a minha liberdade,
a minha memória,
o meu entendimento
e toda a minha vontade.


Tudo o que tenho
e tudo o que possuo
Vós mo destes.

A Vós, Senhor, o restituo.
Tudo é vosso,
disponde de tudo
segundo a vossa inteira vontade.

Dai-me o vosso amor
e a vossa graça
que isso me basta.

Sto. Inácio de Loyola

quarta-feira, outubro 11, 2006




"Cristo está cá e chama-te" (Jo 11, 28)

Vamos rezar pelas Vocações

- Sacerdotais: para que muitos jovens aceitem o chamamento de Deus para serem padres na nossa Igreja diocesana;

- Religiosas: para que muitos jovens se apaixonem por Cristo e queiram manifestá-l'O na sua vida através da pobreza, obediência e amor consagrados a Deus;

- Matrimónio: para que muitos jovens sintam a paixão do matrimónio como vocação cristã à qual Deus chama e para a qual Deus dá a sua força;

- Monges e Monjas: para que muitos jovens queiram falar dos homens a Deus no silêncio e na solidão contemplativos.

Senhor Jesus que chamaste tantos e tantos homens e mulheres a seguirem o teu caminho, dá-nos a coragem de ouvir a tua Palavra que chama e dá-nos a força e a ousadia de a pormos em prática na nossa vida. Hoje e sempre.






Tua presença, Senhor


Dizem que Tu nos falas, Senhor,
Mas eu nunca ouvi a tua voz
Com os meus próprios ouvidos.
As únicas vozes que ouço
São as vozes fraternas
Que me dizem
palavras essenciais.

Dizem que Tu te manifestas, Senhor,
Mas eu nunca vi o teu rosto
Com os meus próprios olhos.
Os únicos rostos que vejo
São os rostos fraternos
Que riem, choram e cantam.

Mas, se és Tu, meu Deus,
Quem me oferece
Estas vozes, estes rostos,
Estes companheiros e amigos,
Estas mãos
E estes corações fraternos,
Então,
Mesmo no mais profundo silêncio ou ausência,
Tu te tornas,
Por todos estes irmãos,
Palavra e presença.
E eu confio na tua presença
E no teu amor.
E isso faz a minha vida
Ser diferente.



(Autor desconhecido)

terça-feira, outubro 10, 2006







LADAINHA DA HUMILDADE




Ó Jesus, manso e humilde de coração, ouvi-me:

· Do desejo de ser estimado
· Do desejo de ser amado
· Do desejo de ser enaltecido
· Do desejo de ser honrado
· Do desejo de ser louvado livrai-me Jesus
· Do desejo de ser preferido a outros
· Do desejo de ser consultado
· Do desejo de ter aceitação

· Do temor de ser humilhado
· Do temor de ser desprezado
· Do temor de receber repulsas
· Do temor de ser caluniado
· Do temor de ser esquecido livrai-me Jesus
· Do temor de ser ridicularizado
· Do temor de ser injuriado
· Do temor de ser suspeito

Jesus, dai-me a graça de desejar:

· Que os outros sejam mais amados do que eu
· Que os outros sejam mais estimados do que eu
· Que os outros possam crescer na opinião do mundo e eu diminuir
· Que os outros possam ser colocados em postos elevados e eu preterido
· Que os outros possam ser louvados e eu esquecido
· Que os outros possam ser preferidos a mim em todas as coisas
· Que os outros possam ser mais santos do que eu, contando que eu seja o mais santo que puder

domingo, outubro 08, 2006


Interfere connosco. Visita o nosso blog, dá-o a conhecer, troca ideias connosco, comenta, reza, propõe, etc.
Escreve-nos, desafia-nos para uma actividade com o teu grupo, aceita também os nossos desafios, coloca questões e interrogações.
917 097 173
Entra na nossa "Sms.oração", uma experiência de oração em comunhão diocesana. Envia um "toque" ou uma sms para o telefone acima indicado e receberás, a partir de 3 de Dezembro, todos os domingos, uma oração pelas vocações. Reza connosco!

sábado, setembro 30, 2006




Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações
Diocese de Portalegre – Castelo Branco



Plano Pastoral de sector
2006 / 07


Tema: “O Mestre está cá e chama-te” (Jo 11, 28)



I - Objectivo geral:
Dinamizar a consciência vocacional da Igreja diocesana e assegurar o estabelecimento efectivo de uma pastoral das vocações específicas masculinas e femininas no âmbito da Diocese.

II - Objectivos específicos:
a. Sensibilizar e ajudar a despertar os cristãos ao nível da Diocese para a sua vocação baptismal e de vida eclesial

b. Dinamizar os cristãos para a compreensão da vocação presbiteral como indispensável à vida da Igreja; para a vocação matrimonial como fonte de famílias cristãs; para a vocação à vida monástica, apostólica, missionária; para todas as formas de vida consagrada.

c. Proporcionar meios adequados de formação, crescimento, acompanhamento, discernimento e opção aos jovens e às jovens que se interrogam vocacionalmente.

III – Linhas de acção
a. Constituição de uma Equipa diocesana de trabalho, delimitação de campo, funções e responsabilidades (Equipa Diocesana: P. Emanuel Matos Silva e Seminaristas Maiores Daniel Santos Almeida, Leonel Lopes, Nuno Silva, …)

b. Estabelecimento de parcerias de programação e inter - acção com outros Secretariados diocesanos (Estabelecido já um com o SDPJovens);

c. Produção e publicação em suporte de papel de um “Guia Diocesano das Vocações”;

d. Participação nas Eucaristias dominicais e realização de actividades em paróquias ou arciprestados da Diocese ao longo do ano (Sequência: Arciprestado de Abrantes; Arciprestado de Mação; Arciprestado de Nisa e de Castelo de Vide; Arciprestado de Castelo Branco; Arciprestado de Ponte de Sor)

e. Criação de site (ainda não está criado) e blogs (www.provocacao33.blogspot.com) na net para inter-acção;

f. Realização de uma Vigília de oração a nível diocesano com ritmo mensal e em colaboração com o Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude (Uma vez por mês em Nisa);

g. Preparação e realização de um “Jornada Diocesana das Vocações” uma vez por ano por ocasião da semana de oração pelas vocações (22 ou 25 de Abril 2007, da 10h00 às 17h00)

h. Promoção de retiros e recolecções espirituais para jovens;

i. Realização de uma “Jornada portas abertas” nas Casas Religiosas e Seminários para conhecimento dos carismas vocacionais;

j. Realização do contacto de jovens com as Congregações, Padres e Institutos através da actividade “Um dia com…” ou “Um fim de semana com …”;

k. Constituição de grupos de caminhada vocacional (a funcionar em casas paroquias que estejam sem utilização e permitam ocupação durante um ano):

- “Laboratórios da fé”: encontro diocesano mensal (de duas horas) para aprofundamento da fé (a partir de Janeiro 2007)
- Encontros Sta. Teresa”: conhecimento e estudo da vocação religiosa (a partir de Janeiro 2007)
- “Encontros João Paulo II”: conhecimento e estudo da vocação sacerdotal (a partir de Janeiro 2007)
- Grupo GRUFES (Grupo de Formação de Estudantes) em esquema de “Pré-Seminário”
- Grupo GRUTAB (Grupo de Formação de Trabalhadores) em esquema de “Pré-Seminário”

l. Dinamizar a partilha de bens com o Secretariado e Seminário Diocesano para formação vocacional

m. Realizar e difundir material de apoio à oração pelas vocações nas comunidades paroquiais (Cartaz “O Mestre está cá e chama-te” – Vocações; folhetos; marcadores com as direcções do site e blog)

n. Realização de férias vocacionais, grupos de trabalho com religiosas e/ou padres, acampamentos;

o. Definição de datas para actividades de acordo com calendário diocesano


IV – Calendário de actividades


Outubro 2006
7 e 8 – Actividades em Paróquias
14 e 15 – Actividades em Paróquias
21 e 22 – Actividades de programação

Novembro 2006
4 – Vigília de Oração (21h30: Nisa)
4 e 5 - Actividades em Paróquias
11 e 12 – Actividades de programação
18 e 19 - Actividades em Paróquias

Dezembro 2006
2 - Vigília de Oração (21h30: Nisa)
2 e 3 - Actividades em Paróquias
9 e 10 - Actividades em Paróquias

Janeiro 2007
6 – Vigília de Oração (21h30: Nisa)
13 – Encontro Sta. Teresa
14 - Actividades em Paróquias
20 – Laboratórios da fé
21 - Actividades em Paróquias
27 – Encontro João Paulo II (JP II)

Fevereiro 2007
17 – Laboratórios da fé
- Vigília de Oração (21h30: Nisa)
18 - Actividades em Paróquias

Março 2007
3 – Caminhada com o SDPJ
- Vigília de Oração (21h30: Nisa)
4 - Actividades em Paróquias
10 e 11 – Actividades de programação
17 – Caminhada com o SDPJ
- Laboratórios da fé
18 - Actividades em Paróquias
24 – Caminhada Pego – Abrantes com o SDPJ
- Recolecção “Só para pecadores”
25 – Continuação da recolecção

Abril 2007
21 - Laboratórios da fé
- Vigília de Oração (21h30: Nisa)
22 - Actividades em Paróquias
25 – Jornada Vocacional Diocesana
29 – Jornada “Portas Abertas”

Maio 2007
5 – Enc. Sta. Teresa
6 - Actividades em Paróquias
19 – Via lucis com SDPJ
- Laboratórios da fé
- Vigília de Oração (21h30: Nisa)
20 – Enc. João Paulo II
26 – Vigília diocesana de Pentecostes (com o SDPJ)
27 – Peregrinação diocesana

Junho 2007
9 – Enc. Sta. Teresa
10 – Enc. João Paulo II
16 – Laboratórios da fé
- Vigília de Oração (21h30: Nisa)
17 - Actividades em Paróquias

Julho 2007
6, 7 e 8 - “Atreve-te” – fim de semana com os seminaristas.



Portalegre, 19 de Setembro de 2006
Secretariado Diocesano da Pastoral das Vocações

sexta-feira, setembro 22, 2006



Precisamos de Santos



Precisamos de Santos sem véu ou batina.
Precisamos de Santos de calças jeans e ténis.
Precisamos de Santos que vão ao cinema,
ouçam música e passeiem com os amigos.

Precisamos de Santos que coloquem Deus em primeiro lugar,
mas que se “esforcem” na faculdade.
Precisamos de Santos que tenham tempo todo dia para rezar
e que saibam namorar na pureza e castidade,
ou que consagrem a sua castidade.

Precisamos de Santos modernos, Santos do século XXI,
com uma espiritualidade inserida no nosso tempo.
Precisamos de Santos comprometidos com os pobres
e as necessárias mudanças sociais.

Precisamos de Santos que vivam no mundo, se santifiquem no mundo,
que não tenham medo de viver no mundo.
Precisamos de Santos que bebam coca-cola e comam hot dogs, que usem jeans, que sejam internautas, que escutem disc-man.

Precisamos de Santos que amem apaixonadamente a Eucaristia
e que não tenham vergonha de tomar um refrigerante
ou comer uma pizza no fim-de-semana com os amigos.
Precisamos de Santos que gostem de cinema, de teatro, de música, de dança, de desporto.

Precisamos de Santos sociáveis, abertos, normais, amigos, alegres, companheiros.

“Precisamos de Santos que estejam no mundo;
e saibam saborear as coisas puras e boas do mundo,
mas que não sejam mundanos”.



João Paulo II




Franciscanos


A Ordem e o seu Fundador:
A mais importante e mais antiga das Ordens Religiosas Mendicantes é a dos Frades Menores ou Franciscanos. Surgida no início do séc. XIII, a Ordem Franciscana deseja responder ao espírito da época e, sobretudo, ao grande movimento de revalorização do espírito da pobreza evangélica. Além disso, respondia igualmente ao sentimento global da necessidade de um maior contacto entre religiosos e leigos, ultrapassando os habituais esquemas monásticos e relacionando o ministério sacerdotal com a pregação e outras obras de apostolado.
O “fundador”, Francisco, nasceu em 1181 na cidade de Assis (S. Francisco de Assis). Seus pais foram Giovanna, la madonna Pica, assim chamada, e Pietro de Bernardone, rico comerciante de tecidos. No baptismo cristão recebeu o nome de João Baptista, escolhido pela mãe na ausência do pai que desejava para o filho o nome de Francisco.

Depois de uma juventude relativamente despreocupada, entre sonhos, ambições e lutas de cavalaria (participou na guerra entre Assis e Perúsia onde foi feito prisioneiro), Francisco sofre, em 1206, uma profunda transformação interior após uma grande enfermidade. Renunciando ao ideal de cavalaria, e renunciando à suas antigas honras , abraça um ideal de oração e penitência. Além disso, na fidelidade ao que podemos hoje definir de chamamento de Deus, dedica-se aos pobres e leprosos.

A sua vocação afirmou-se mais concretamente ainda quando, na Igreja de S. Damião, perto de Assis, Francisco, em profunda experiência de oração, ouviu de Cristo, por três vezes, as conhecidas palavras: “Francisco vai reparar a minha Igreja que, como vês, está totalmente em ruínas”.
Num primeiro momento Francisco entende as palavras de Cristo no seu sentido puramente material e, podemos dizer, torna-se pedreiro. É assim que ele recontrói a Igreja.
Mais tarde Francisco entende o sentido mais profundo das mesmas palavras de Cristo e percebe o apelo divino de uma outra maneira e com outras implicações.
Nesta fase da vida de Francisco de Assis acontece algo que não deixará de ser relevante. Extremamente revoltado com o comportamento de Francisco (que além de muitas outras coisas começara a distribuir bens ao mais pobres e a visitá-los nas suas habitações e lugares de permanência), o seu, Pietro de Bernardone, deserda-o e leva-o a tribunal eclesiástico. Diante da multidão, Francisco renuncia atudo o que possui, despe-se e entrega as roupas ao pai. Gesto profundo e profético que se explicitará na história futura. É o bispo da cidade que, com a sua capa episcopal, lhe cobre a nudez.Daqui em diante separado do mundo da riqueza, Francisco servirá, em despojamento total, a Igreja. Chamaram-lhe o “louco de Deus”. Estava definida a longa caminhada de Francisco para a vida.
Aos vinte e sete anos Francisco sente novo chamamento de Deus. A sua vocação define-se mais precisamente: seguir Cristo, como já tantos outros o haviam feito, na pobreza e na pregação.
Neste momento juntam-se a Francisco alguns companheiros. Sua regra era observar o Evangelho. Vestiam-se, como os pobres do lugar, com uma túnica com capuz atada à cintura com um cordão em vez dum cinto.
O grupo que, num primeiro momento, surge muito espontaneamente, começa a ganhar “estabilidade”. Chamr-se-ão frades penitentes ou frades menores. Em 1209 o Papa Inocêncio III aprova esta nova regra e a Ordem Fransciscana instala-se definitivamente na Porciúncula. Estavam lançados os alicerces da Ordem Franciscana.
O crescimento que se segue é extremamente rápido. Numerosos irmãos se lançam pelos caminhos de Itália fazendo, desta forma, expandir-se o espírito de Francisco de Assis na sua procura de uma vivência da pobreza evangélica como sinal do seguimento de Jesus Cristo.
Em 1212, colateral à ordem masculina, foi fundada a ordem feminina por Sta. Clara de Assis (pauperes Dominae de S. Damião, Clarissas).
Aos quarenta anos, fraco e fatigado, Francisco retira-se para os eremitérios de Rieti com o simples e único desejo de se unir a Cristo. É aí, em 1224 que se produz o prodígio dos estigmas de Cristo. As suas mãos, o seu lado e os seus pés são trespassados.
A morte de Francisco de Assis dá-se em 3 de Outubro de 1226. Dois anos mais tarde - 1228 - o Papa Gregório IX canoniza-o em Assis.

Como já se referiu, a Ordem Franciscana difundiu-se rapidamente em toda a Europa. No momento da morte de Francisco, o número de irmãos já ascendia a 5000. E, no Capítulo Geral de Estrasburgo, em 1282, contavam-se já 1583 Conventos divididos em 34 Províncias. Emmeados do séc. XIV o número de irmãos é de 30 000 no mundo inteiro.
No séc. XV a Ordem Franciscana dividir-se-à em duas Ordens autónomas. Os Observantes querem guardar uma íntegra fidelidade à primitiva Regra. Consideram-se como os legítimos herdeiros de S. Francisco. Do outro lado estão os Conventuais que abraçam um tipo de vida mais monástico. A divisão apenas será reconhecida por Bula papal em 1517.

Espiritualidade franciscana:
A espiritualidade franciscana, subsidiária do pensamento e da vida do seu fundador Francisco de Assis, possui as seguintes notas características:
- espiritualidade teocêntrica e cristológica;
- espiritualidade mariana;
- espiritualidade eclesial;
- espiritualidade evangélica;
- vida activa e contemplativa;
- virtudes características: caridade, pobreza, humildade, obediência,
simplicidade, prudência, mortificação, discreção, profunda e viva alegria.

Efectivos:
Neste momento os Franciscanos são, mais ou menos, cerca de 18500 espalhados por todo o mundo e repartidos em cerca de 3000 Conventos.

Formação:
A entrada na Ordem dos Frades Menores (Franciscanos) segue um processo definido em sucessivas etapas: postulantado (seis meses a um ano); noviciado ( um a dois anos); profissão dos votos temporários (três a nove anos); profissão dos votos definitivos.

Hábito:
Os Franciscanos usam, normalmente, o hábito castanho com capuz atado na cintura com um cordão simples.

Algumas figuras da Ordem Franciscana na História:
Santa Clara (1194-1253); São Boaventura (1221-1274); Sto. António (uns chamam-lhe de Lisboa, outros de Pádua; 1195-1231); S. Bernardino de Sena (1380-1444); João Duns Scoto (1266-1308); Guilherme de Ockham (1290-1350); S. Maximiliano Kolbe (1894-1941)


Ordem Franciscana em Portugal:
1) Frades Menores Conventuais - O.F.M.Conv.
- Diocese de Coimbra: Rua Brigadeiro Correia Cardoso, 18; 3000
COIMBRA;
- Diocese de Lisboa: Praça Dr. Fernando Amado, lote 566, 3ºI; 1900 LISBOA

2) Ordem dos Frandes Menores -Franciscanos O.F.M.
-Igreja de S. Francisco, largo de S. Francisco, 8000 FARO;
- Fraternidade Franciscana, Residência Paroquial, Calhetas, 9600
RIBEIRA GRANDE;
- Colégio das Missões Franciscanas, Montariol, 4701 BRAGA CODEX;
- Franciscanos, Rua Dias da Silva, 59, 3000 COIMBRA;
- Igreja NªSª da Penha, Rua da penha de França, 3; 9000 FUNCHAL;
- Igreja de S. Francisco, Rua do Almacave, 5100 LAMEGO;
- Convento de S. Francisco, Portela, marinha Grande - 2400 LEIRIA;
- Franciscanos, Rua Silva Cravalho, 34, 1200 LISBOA;
- Hospital de Jesus, Travessa da Arrochela, 2; 1200 LISBOA;
- Igreja-Casa de Sto. António à Sé, Rua das Pedras Negras, 1; 1100 LISBOA;
- Seminário da Luz, Largo da Luz, nº11, 1699 LISBOA;
- Convento de Sto.António, Varatojo, 2560 TORRES VEDRAS;
- Franciscanos, Rua António Nobre, 21, 4450 MATOSINHOS;
- Igreja do Calvário, Av Egas Moniz - 4560 PENAFIEL;
- Franciscanos, Rua dos Bragas, 321, 4000 PORTO;
- Residência Paroquial, Casais- 2300 TOMAR;
- Residência Paroquial, Lamarosa, 2350 TORRES NOVAS;
- Ordem Terceira de S. Francisco, Av 22 de Dezembro, 19, 2900 SETÚBAL;
- Paróquia de S. Pedro, Rua Combatentes da Grande Guerra, 49,
5000 VILA REAL.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Vocações na Igreja
Dominicanos


Dominicanos ou, talvez mais correctamente, Ordem dos Irmãos Pregadores (Ordo Fratrum praedicatorum) é o nome da Ordem fundada por S. Domingos de Gusmão no início do séc. XIII.
O séc. XIII caracteriza-se, como o séc. XI e XII, por um verdadeiro renovamento ao nível das instituições eclesiásticas, nomeadamente as Ordens Religiosas. É neste contexto de renovação da Igreja e das suas instituições que surgem os Dominicanos.
A Ordem Dominicana ou dos Irmãos Pregadores, que se enquadra no conjunto das Ordens ditas mendicantes, é, sobretudo, como o próprio nome faz sugerir, uma Ordem Religiosa que se dedica á pregação itinerante e ao ensino como trabalho pastoral.
Não se retirando do mundo, à imagem de outras Ordens, é aí, precisamente, que desenvolverão a sua actividade. Nessa medida serão uma presença viva de Cristo.
« Confirmada pela Santa Sé como Regra Canonical sob a regra de Sto. Agostinho (22 de Dezembro de 1216) e na sua função específica de pregação (21 de Janeiro de 1217), a ordem faz o seu acto de maioridade no Capítulo Geral de 1220: S. Domingos entrega nas mãos dos seus irmãos toda a autoridade; o princípio da mendicidade é adoptado; é estabelecido o sistema de governo segundo o qual o Capítulo Geral anual, partilhando com o Mestre Geral os poderes executivo e judicial, se reservainteiramente o poder legislativo. No Capítulo de 1221 a Ordem divide-se por oito Províncias: 2Espanha, Provença, França, Lombardia, Roma, Teutónia, Inglaterra e Hungria »[1].
Mas, para compreender melhor a génese histórico-espiritual desta ordem há que colocar a atenção no seu fundador, S. Domingos de Gusmão.

« A contribuição pessoal de S.- Domingos é ter construído um novo método e uma nova concepção da vida religiosa: a vida mista. É o primeiro fundador religioso a realizar a síntese histórico-espiritual do dualismo contemplação-acção na Igreja, restabelecendo assim a inseparabilidade psicológica, espiritual e teológica do amor de Deus e do próximo e levando o sacerdócio à sua plenitude evangélica e apostólica »[2].

O serviço específico dos Dominicanos é a pregação, não só, nem sobretudo, na “oratória sagrada”, mas em toda a forma de comunicação do essencial da Palavra de Deus aos homens, Dir-se-ia fazer a Palavra perceptível em cada tempo e em cada circunstância; fazer com que continue a desafiar a humanidade à profundidade da existência; fazer com que o espírito do homem, na sua relação com Deus, com os outros, e consigo mesmo, não estagne, não morra (anunciar, como ela é, a Palavra de Deus em linguagem humana).
Se os séculos XI e XII haviam sido séculos monásticos na procura da solidão e do silêncio claustral, o séc. XIII vai assistir au reflorescimento da vontade da genuína vida apostólica de pregação e missão. Todo o clima e tecido social haviam mudado e pediam agora à Igreja uma nova forma de presença.

Fundador: S. Domingos de Gusmão
S. Domingos nasce em Caleruega (Espanha) por volta de 1170, época em que a Espanha luta contra a “invasão” árabe.
Aos sete anos de idade é confiado a um tio que, sendo eclesiástico, lhe protagoniza uma rigorosa educação que o marcará para a vida futura. Com este tio, Domingos prepara-se também para a vida eclesiástica. Aos quinze anos matricula-se na Universidade de Palência onde, durante dez anos, estudará as Artes liberias e, depois, a Sagrada Escritura.
Ainda jovem é feito Cónego do Cabido de Osma onde vai absorver o espírito de reforma que o cabido respira. Tem então vinte e cinco anos.
Em 1204 Domingos acompanha o Bispo de Osma, Diego de Azevedo, numa missão que lhe havia sido confiada na Dinamarca.
Este vai ser um momento decisivo na vida de S. Domingos. Ao atravessar o Languedoc percebe aí o progresso dos albigenses. As populações, por ignorância, deixavam-se facilmente convencer pelos “perfeccionistas” (“heréticos”) cátaros que confessavam um fé de tipo maniqueísta: de um lado um Deus bom, Criador do Bem; de outro um mau, criador do Mal.
Talvez neste momento se possa colocar o “nascimento” da vocação de Domingos de Gusmão. Inaugura-se então um método de pregação onde se conjugam a doçura e simplicidade, a inteligência e a pobreza. Desta forma testemunham um vida à maneira dos primeiros Apóstolos[3].
Após a morte do Bispo Diego, Domingos permanece sozinho na mesma função de pregação.
« Em 1215 Domingos funda em Toulouse, para a Diocese do lugar, uma associação de pregadores que, preparados com profundos estudos teológicos e pela prática ascética, deviam dedicar-se à salvação das almas, sobretudo mediante a “sancta praedicatio”, isto é, à instrução do povo sobre as verdades da fé, e à defesa da Igreja contra a heresia ... Em 1216 o Papa Honório III confirmou essa associação de pregadores como Ordem de Clérigos Regulares com a Regra de Sto. Agostinho. E em 1217, com a aprovação da Santa Sé, Domingos já enviava para todo o mundo os seus frades pregadores» [4].
Tirando, portanto, experiência da sua pregação itinerante, Domingos funda uma Comunidade de clérigos que se deviam consagrar à pregação da fé e da moral, lutando contra os erros doutrinais e de interpretação da fé, e praticando uma imitação, tanto quanto possível, da vida dos apóstolos, ou seja, em itinerância e mendicidade.
S. Domingos conbinará a vida apostólica com o cenobitismo fazendo do do Convento um centro de formação, um local de estudo onde os noviços se preparavam de forma a estarem bem fundamentados para a missão. O Convento era também sempre o local onde regressavam os frades para se renovarem espiritual e teologicamente.
A grande novidade de Domingos está, portanto, na associação harmoniosa do cenobitismo com o nomadismo apostólico além da renovada vontade de uma verdadeira vida evangélica e de pregação[5]. Por tudo isto a Ordem Dominicana foi sempre uma Ordem de homens sábios e profundos.
S. Domingos morre em Bolonha no dia 6 de Agosto de 1221 e é canonizado em 1233.

Efectivos Dominicanos e Estatutos:
A Ordem dos Pregadores conta actualmente com cerca de sete mil membros entre Irmãos e Presbíteros, estando presentes em oitenta e três países.
Quanto aos Estatutos, os Dominicanos estão entre as Ordens mendicantes com os Franciscanos e Carmelitas. É uma Ordem Religiosa apostólica, para a missão.

Organização:
Os Dominicanos vivem em Conventos
(seis a dez irmãos em média, mas podendo haver Conventos com cerca de cinquenta irmãos) sob a responsabilidade de um Prior eleito por três anos, renováveis uma vez. Esta eleição é confirmada pelo prior Provincial.
Há quem denomine o governo dominicano de “democrático” na medida em que cada Prior é designado por eleição.
Cada Convento (Capítulo conventual) designa, além do seu Prior, um representante ao Capítulo Provincial o qual acontece cada quatro anos e elege o Prior Provincial. Por sua vez os Priores Provinciais e os delegados das Províncias reúnem-se de três em três anos em Capítulo Geral. É a este Capítulo Geral que cabe a legislação e ordenamento da Ordem. De três em trãs Capítulo Gerias é elito o Mestre Geral da Ordem para um mandato de nove anos.

Hábito
S. Domingos, por ser Cónego, guardou a tradição canonical da túnica branca ( hábito branco e capuz branco) e juntou-lhe o escapulário monástico.
A capa e capuz negros são hoje raramente utilizados.
Hoje os Dominicanos usam o hábito nos ofícios, refeições e, tanto quanto possível, na vida de convento. Normalmente, contudo, no exterior nãos o usam.

Algumas grandes figuras da Ordem Dominicana:
- Sto. Alberto Grande (1200-1280); S. Tomás de Aquino (1225-1274); Mestre Eckhart (1260-1327); Sta. Catarina de Sena ( 1347-1380); Fra Angelico (1387-1455); Jerónimo Savonarola ( 1452-1498); Bartolomeu das Casas (1484-1566); S. Pio V (1566-1572); Henri Lacordaire (1802-1861); Marie-Joseph Lagrange (1855-1938); Pierre Couturier (1897-1954); Marie-Dominique Chenu (1895-1990); Jacques Loew (1908); Yves Congar.

Ordem Dominicana (Ordem dos Pregadores) em Portugal:
- Convento dos Padres Dominicanos, Rua de S. Domingos, 2495 FÁTIMA;
- Convento de Nª Sª do Rosário (Casa Provincial), Travessa do Corpo Santo, 32, 1200 LISBOA;
- Convento João XXIII, Av. Cons. Barjona de Freitas, 7, 7º C, 1500 LISBOA;
- Paróquia de S. Domingos de Benfica, Rua de S. Domingos de Benfica, 33, 1º A, 1500 LISBOA;
- Convento de Cristo Rei, Prça D. Afonso V, 86, 4100 PORTO;
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[1] A. DUVAL, o.p., Fréres Prêcheurs, in Catholicisme IV ( Paris: Letouzey et Ané, s/d) 1618.
[2] D. Abbrescia, Dominicos, in Ermanno ANCILLI, Diccionario de Espiritualidad, I (Barcelona: Herder, 1987) 642.
[3] Cf. Claire LESEGRETAIN, Les Grands Ordres Religieux (Paris: Fayard, 1990) 132.
[4] Karl BIHLMEYER, História da Igreja II (S. Paulo: Paulinas, 1964) 305.
[5] Cf. Jean CHÉLINI, Histoire religieuse de l’Occident médieval (Paris: Hachéte,, 1991) 432.
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domingo, setembro 17, 2006


Cartuxos


A Ordem da Cartuxa é assim denominada por ter nascido nas montanhas de Chartreuse. Como os Beneditinos, que tratamos no anterior número, também os Cartuxos são monges. Mas, no quadro de toda a tradição monástica, a Ordem Cartuxa apresenta-se, no seu tempo e hoje, com uma novidade e especificidade muito próprias. Inspirando-se nos antigos Padres do Deserto (Eremitas e anacoretas) a vocação cartusiana é uma vocação solitária, uma vida na solidão para um maior e mais profundo encontro com Deus. Contudo, e a grande novidade e especificidade da Cartuxa residem aqui, é uma solidão com alguma vida comum. Significa isto que a Cartuxa é uma Comunidade (Mosteiro) de Solitários. A Clausura é a condição sine qua non da Cartuxa.
Numa sociedade onde o comunitário é, sem dúvida, um valor quase absoluto e o homem se revela como ser essencialmente para estar com outros, qual é o lugar de uma vocação solitária ?
« Não se faz Cartuxo quem quer. Para se ser Cartuxo não basta ser acolhido fraternalmente e receber todos os elementos de uma boa formação para a solidão, até porque se é formado para a solidão vivendo em solidão. Não permanece na Cartuxa senão aquele que no fundo da alma escuta um chamamento mais poderoso que todas as contradições que encontra em seu redor. A vocação cartusiana é uma obra de Deus. A colaboração do homem é aí mais indispensável que em muitas outras coisas, mas ele sabe que é totalmente impotente para construir a vocação cartusiana se entregue apenas aos seus meios »[1].
A solidão e silêncio cartusiano são um dom de Deus. Como em muitas outras realizações vocacionais, a vocação cartusiana não é construída apenas por uma vontade humana, mas é gerada no encontro de Deus com o homem e do homem com Deus.
Aquele que se sente interpelado por uma vida de solidão e silêncio não é apenas o que deseja deixar o mundo, mas é, sobretudo, aquele que fez uma profunda experiência de Deus e se deixa seduzir pelo Absoluto. Deseja mais a experiência de Deus do que tudo o resto. O carácter solitário desta vocação específica é, portanto, ele próprio, um meio e não um fim. Tem como finalidade a entrega do homem a Deus e não a fuga do homem em relação a si mesmo ou aos outros. Quem se entregasse à solidão cartusiana para fugir de si mesmo ou dos outros, não encontraria aí paz, mas tão somente angústia.
A solidão cartusiana, tem, portanto, necessariamente, de ser uma solidão alimentada, ou seja, uma solidão que não fecha o homem em si, mas o faz viver uma experiência de transcendência, de Deus, de comunhão. Comunhão com Deus e comunhão com os homens, mesmo separando-se deles.
O primeiro grande traço da espiritualidade cartusiana é precisamente aquele de que temos vindo a tratar - a solidão. Não uma solidão qualquer, mas uma solidão vivida no silêncio e na vida contemplativa.
«A nossa principal aplicação e nossa vocação - dirão as Constituições - são de nos aplicarmos ao silêncio e à solidão da cela, segundo a palavra de Jeremias: “o solitário sentar-se-à e guardará silêncio” »[2].
Ela será uma solidão alimentada pela Palavra de Deus, uma solidão que será sabedoria. Para cada Cartuxo, Jesus é sempre o modelo a seguir. Aliás o Monge, na vida contemplativa, deve estar íntimamente unido a Cristo.
Um segundo traço da espiritualidade cartusiana é a obediência. Na Carta aos Cartuxos, S. Bruno tem algums indicações bem concretas sobre a obediência. A verdadeira obediência é a realização da vontade de Deus, mas pode concretizar-se mais especificamente em variadas observâncias espirituais e disciplinares. Em S. Bruno a obediência não existe sem humildade e sem amor.
Após a obediência, um terceiro traço da espiritualidade cartusiana é a Pobreza. Um eremita que procura Deus não pode estar preso a nada mais do que àquilo que são os caminhos da procura do próprio Deus. A Pobreza está, portanto, ao serviço da vida contemplativa.
Um quarto traço da espiritualidade cartusiana é a Caridade Fraterna. A Caridade Fraterna tem uma razão muito própria de existir mesmo no meio de solitários. Ela vive na capacidade de cada um dos solitários estar atento e interiormente disponível a Deus e aos outros. Além do mais, a Cartuxa preserva um certo cenobitismo.
A Pureza de Coração é outra característica ou traço da espiritualidade cartusiana. Embora a abordemos aqui em quinto lugar, ela é das mais importantes marcas da espiritualidade da Cartuxa.
O fim da vida monástica é a união a Deus. É a pureza de coração que permite realizar essa finalidade. Há uma profunda relação entre a oração monástica e a pureza do coração. É esta atitude que permite a união com Deus, que permite que o Monge se fixe no Único. À pureza de coração também a tradição cartusiana vai chamar virgindade espiritual significando a inteireza da pessoa entregue a Deus e só a Ele.
Outra não menos importante característica ou traço da espiritualidade cartusiana é a simplicidade. Necessariamente está relacionada com a anterior e é até resultante dela, mas também é diferente dela.
A simplicidade é a característica que distingue a alma do monge que procura unir-se a Deus, como é igualmente um atributo de Deus. Deus é puro e simples. É Pessoa, é trino, mas não triplo, é Um. Aí reside a sua simplicidade[3]. Quanto mais o homem se separa de toda a dispersão e concentra em Deus, no Único, mais simples se torna. Essa simplicidade, no quadro da progressividade da vida espiritual, é condição de encontro com Deus.

Fundador: S.Bruno ( 1030-1101)
Bruno nasce por volta de 1030 em Colónia. Sobre a sua família não se sabe muito, nem mesmo o nome ao certo, mas alguns elementos indicam uma família com uma certa posição social na época e no meio.
A única notícia biográfica de S.Bruno, redigida na Cartuxa na primeira metade do séc. XII, não é muito extensa. Diz, sucintamente, que « Mestre Bruno, alemão, originário da ilustre Cidade de Colónia, nasceu de pais não desconhecidos. Tendo recebido uma sólida formação nas letras profanas e sagradas, ele torna-se Cónego e Reitor da Escola da Igreja de Reims que não cede o primeiro lugar a nenhuma nas Gálias. Mestre Bruno deixou o mundo e fundou o Eremitério da Cartuxa que governou durante seis anos. O Papa Urbano II, de quem outrora havia sido professor, chamou-o para a Cúria Romana como preceptor e conselheiro nas coisas eclesiásticas. Mas como ele não suportava nem a agitação nem o género de vida da Cúria, como ele ardia de amor pela solidão e quietudes perdidas, deixou a Cúria. Renunciando ao Arcebispado de Reggio para onde havia sido eleito sob ordem do Papa, Mestre Bruno retira-se para a Calabria, para um Eremitério chamado A Torre. Rodeado por um grande número de leigos e clérigos realiza o seu propósito de vida solitária em todo o tempo que viveu. Morreu e foi sepultado aí cerca de dez anos depois do seu retiro na Chartreuse ».
Não há, pois, dados seguros sobre a família da qual Bruno será descendente. Apenas se sabe, pelo que afirma o texto, que nasce de pais não desconhecidos, o que evidencia alguém com posição social.
A data de nascimento carece também de precisão, mas todos os elementos que existem a circunscrevem entre os anos 1024 e 1030, mais provavelmente em 1027.
Os primeiros anos de Bruno parecem ter sido vividos em Colónia e só depois tendo-se mudado para Reims. Fez, sem dúvida, os seus primeiros estudos em Colónia, possivelmente na Escola Capitular de S.Cuniberto, da qual, mais tarde, veio a ser Cónego Honorário.
Ainda jovem, portanto, Bruno chega a Reims. As escolas de Reims, sobretudo a Catedral, tinham muita fama havia séculos, atraindo a si estudantes de toda a Europa. Gerbert, que um dia seria o Papa Silvestre II, tinha sido seu Reitor entre 979 e 990 iluminando-a com o seu verdadeiro génio. Quando Bruno chegou, as escolas de Reims estavam no seu apogeu.
Em 1049, quando Bruno era ainda estudante, aconteceu algo que marcará para sempre o seu carácter. O Papa Leão IX, no contexto da sua reforma eclesial, celebra em Reims um Concílio.
No dia 3 de Outubro Leão IX abria então o Concílio. O Concílio e o Sumo Pontífice empreendem, sobretudo, uma acção contra a simonia, promoção escandalosa de bispos, abades e beneficiados que permitia também a intromissão de “leigos” nos lugares, bens e assuntos da Igreja. O Papa e o Concílio depuseram e excomungaram alguns deles.
Em tempo de estudo, ao despertar para a vida de acção, Bruno é confrontado com esta realidade eclesial através do Concílio. Profundamente religioso e recto, penetrado do espírito nobre da Sagrada Escritura e dos grandes princípios da Fé, reflectindo a situação da Igreja e a necessidade de Reforma, Bruno depressa sintoniza com os sentimentos do Concílio de Reims neste esforço. Ele próprio, um dia, entrará na “luta” a que a necessidade de reforma das estruturas dará ocasião.
Entretanto, Bruno irá passar longos anos em Reims. Os primeiros como estudante, depois como professor e Mestre da Escola Catedral acumulando, depois, com a nomeação para membro do Cabido da Catedral e seu Chanceler.
Entretanto a reputação de Bruno é grande e em 1056, susbstituindo Mestre Hérimann, é nomeado Mestre da Escola de Reims.
O agora Mestre Bruno parece ter apenas 28 anos o que a priori faz sobressair as suas qualidades de estudante e professor. Os testemunhos dos contemporâneos de Bruno atestam isso mesmo, como por exemplo o de Guibert de Nogent que afirma ter sido Bruno um magnífico professor da Escola da Catedral de Reims.
O Arcebispo Gervais, que o havia escolhido, morre em 1067 com fama de santidade. Sucede-lhe Manassés de Gournay com o nome de Manassés I. Será um Arcebispo que Reims não irá esquecer e que estará profundamente relacionado à evolução da vida e vocação de S.Bruno.

Manassés foi sagrado Arcebispo de Reims em 1068 ou 1069 apesar do seu antecessor ter falecido já em 1067.
A história do Arcebispo Manassés I de Reims não é simples. Tendo adquirido a Sede de Reims por simonia, em cumplicidade com o Rei de França Filipe I, administrou a sua Diocese, a princípio, de uma forma tranquila que fazia esperar uma governação normal. Homem nobre, Manassés carecia, contudo, do equilíbrio necessário para proceder com rectidão. O Arcebispo era uma homem de armas que esquecia o seu estado clerical. A tradição consagrou uma frase que se lhe atribui: “Reims seria um bom bispado se não se tivesse de cantar missa”.

É no contexto da Reforma Gregoriana que se inicia a grande luta com o Arcebispo Manassés. De um lado vai estar o Papa Gregório VII, o seu Legado em França Hugues de Die e os Cónegos de Reims e, do outro, vai estar o Arcebispo Manassés.
Em 27 de Dezembro de 1080 Gregório VII depõe o Arcebispo Manassés que, segundo tradição, se refugia junto de Henrique IV, Imperador da Alemanha excomungado.
Entretanto, e findo o processo de deposição do Arcebispo Manassés que trouxe nova paz à Igreja remense, foi dada ao Clero de Reims a missão de eleger um novo Arcebispo.
É no contexto da eleição do novo Arcebispo que as atenções trazem à luz o discreto Mestre Bruno a quem, apesar da discreção e modéstia, os acontecimentos puseram em evidência. E, mesmo não tendo voltado a exercer os seus cargos de Mestre-Escola ou de Chanceler, cairam sobre ele os olhares de toda a Igreja de Reims. Mestre Bruno, contudo, recusa a nomeação.
Com a recusa da nomeação e eleição para a Sede Arquiepiscopal de Reims podemos dizer que começa na vida de Mestre Bruno um período completamente novo. No conjunto da vida e obra de S.Bruno temos de afirmar, contudo, que esse episódio não é senão um elemento acessório.
Bruno decide romper todos os laços com o mundo e consagrar-se inteiramente a Deus na solidão. A solidão não será para Bruno um desterro, mas a plenitude da fé viva e da caridade.
Numa data que não se pode indicar com grande precisão, mas que se situará entre 1081 e 1083, S.Bruno deixa Reims.
Dirige-se com dois companheiros, Pedro e Lamberto, para Troyes. Aí perto, em Molesmes, existia uma Abadia Beneditina, à qual Bruno e seus companheiros se dirigiram. Seu Abade era Roberto de Molesmes.
Foi em terrenos cedidos por esta Abadia que Bruno e seus companheiros se instalaram, mais propriamente num local denominado Séche-Fontaine que ficava localizado na floresta de Fiel a uns 40 Kms a sudeste de Troyes e a 8 Kms do Mosteiro de Molesmes.
Ali viveram, segundo uma Carta de Molesmes que relata o início da experiência de Séche-Fontaine, uma vida verdadeiramente eremítica. Esta seria, contudo, uma breve etapa no itinerário espiritual de S.Bruno.
Pouco tempo depois de iniciada esta primeira experiência eremítica, uma opção diferente vai acontecer entre os três companheiros. Pedro e Lamberto vão escolher a vida cenobítica enquanto Bruno procura uma vida verdadeiramente eremítica. S.Bruno deixa este Mosteiro e dirige-se para Grenoble.
A data da chegada de S.Bruno à Chartreuse (montanhas junto a Grenoble) é fixada com precisão em Junho de 1084 por ocasião da Festa de S.João Baptista e a biografia de S.Hugo, Bispo de Grenoble, escrita por Guigo I (+ 1136), contém a narração da entrada de Mestre Bruno e seus companheiros no vale de Chartreuse.
O local escolhido situa-se a 1175 metros de altitude no fundo de um estreito vale no coração do maciço da Chartreuse, uma região montanhosa e de difícil acesso, de rigorosos nevões de inverno. Em todas essas características e circunstâncias vai S.Bruno encontrar francas vantagens. No fundo S.Bruno procura a solidão, uma vida estritamente eremítica, e essas circunstâncias favorecem-na.
O próprio acesso ao local é feito por uma estreita garganta entre desfiladeiros que isola o vale. Verdadeiramente esta era a porta da clausura.
A Cartuxa, com seus eremitérios, vai ser construída ainda mais acima, a cerca de quatro quilómetros desta porta. Os novos eremitas vão, desde logo, ocupar-se da construção da Igreja e das celas bem como pôr em prática uma observância concreta. A construção do primeiro Mosteiro inicia-se no Verão de 1084. Esta construção resistirá até 1132, quando uma avalanche destrói o Mosteiro matando sete monges. Era então Prior do Mosteiro Guigo I que construirá outro Mosteiro mais abaixo cerca de uns dois kilómetros e num local menos propício a gelos e avalanches.
As celas dos eremitas foram agrupadas junto de uma fonte que ainda hoje alimenta o actual Mosteiro da Cartuxa .As primeiras Celas eram construídas com troncos de madeira à maneira de cabanas de pastores ou lenhadores . No primitivo Mosteiro apenas a Igreja foi construída em pedra. Foi consagrada pelo Bispo Hugo de Grenoble em 2 de setembro de 1085 e dedicada à Ssma.Virgem e a S.João Baptista.
Mais tarde as celas repartir-se-ão ao longo de um Claustro, muito semelhante ao dos Mosteiros Cenobitas, mas cujo papel, contudo, é diferente. A razão de ser desta distribuição tem a ver com a própria protecção do rigoroso clima. As celas ligadas pelo dito Claustro estão ligadas também pelo mesmo Claustro à Igreja do Mosteiro.
Os monges cartuxos recitam uma parte dos seus ofícios na solidão da cela e não se reúnem senão para Vésperas e Matinas. É também na cela que permanecem em oração ou estudam e lêem, que fazem os seus trabalhos manuais. As refeições são igualmente solitárias com a excepção do domingo e festas em que existe refeitório comum , bem como oração mais solene também em comum.
Os trabalhos necessários à subsistência da comunidade eram realizados por conversos (irmãos leigos) que se instalaram um pouco mais abaixo mas ainda dentro da clausura.
No Ocidente cristão esta forma de vida religiosa é uma total novidade. A sua inspiração alimenta-se especificamente nos Padres do Deserto do Oriente.
Um dos primeiros dados que sobressai quando se olha para este género de vida é que ele não tem nada em comum com o tipo de vida eremítica de um mosteiro cenobítico. S.Bruno desejava uma vida eremítica pura, com uma estrita solidão. A estrita solidão, ainda que temperada com alguma vida comunitária e a especificidade desta experiência monástica faz com que não possa ser muito numerosa.
O itinerário de S.Bruno para a solidão não acaba com a chegada ao local de Chartreuse.
Em 1085 morre o Papa Gregório VII e é nomeado Victor III que morre pouco mais tarde, em 1087.
Em Março de 1088 , numa Assembleia do Sacro Colégio reunida em Terracina, um antigo aluno de Mestre Bruno, Eudes de Châtillon é eleito Papa com o nome de Urbano II.
O pontificado de Urbano II não foi simples nem fácil. Por isso a sua preocupação em se rodear de homens íntegros cuja fidelidade à Igreja e à obra de Gregório VII já conhecia.
É neste contexto também que Urbano II chama a Roma, para serviço da Sé Apostólica, o seu antigo Mestre Bruno.
S.Bruno responde afirmativamente por se tratar da manifestação da autoridade papal. O acto de obediência de Mestre Bruno ao apelo do Papa foi sem reservas. Por amor à Igreja, e sob a autoridade papal, Bruno renuncia àquilo que tanto tempo levou a encontrar.
A passagem de Bruno por Roma também não foi fácil. Urbano tem a difícil tarefa de continuar a obra de Gregório VII. Além disso, a guerra de Henrique IV e seu “anti-papa” Clemente III contra Urbano II vai fazer com que a Cúria romana seja uma Cúria nómada.
Bruno continua a desejar a vida contemplativa. E Urbano II acaba por autorizar Bruno a retomar a vida eremítica pelo que, após renunciar ao Arcebispado de Reggio proposto pelo Papa, Mestre Bruno se retira no Sul de Itália em Calábria. O lugar onde S.Bruno se instala chama-se Santa Maria da Torre e é um enorme “deserto” situado a 850 metros de altitude, um planalto não habitado rodeado de colinas e florestas que podem, em certa medida, lembrar a Chartreuse.
S.Bruno morrerá em 6 de Outubro de 1101, com pouco mais de 70 anos, após ter pronunciado a “Profissão de Fé”. Diz a tradição que, de tanta veneração que já se tinha na Calabria por S.Bruno, os Monges tiveram de deixar exposto o cadáver três dias até o enterrar.

Efectivos
Actualmente contam-se em cerca de 500 os Monges Cartuxos existentes, estando repartidos por dezoito Mosteiros ou Cartuxas: 5 em espanha, 4 em França, 1 em Itália, na ex-Jugoslávia, na Suissa, na Alemanha, em Portugal, na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e Brasil.
Existem também Mosteiros cartusianos femininos. Contavam-se há alguns anos cerca de cem religiosas repartidas em cinco Mosteiros: 2 em França, 2 em Itália e um em Espanha.

Organização
Cada Mosteiro, ou Cartuxa, é dirigido por um Prior eleito em escrutínio secreto.É ele que nomeia, depois, o conselheiro, o mestre de noviços e o procurador. O governo da Ordem da Cartuxa, em geral, pertence ao Capítulo dos Priores que reúne todos os dois anos na Grande-Chartreuse, a casa-mãe. O Prior da Grande-Chartreuse é, ao mesmo tempo, o Prior Geral da ordem.
A divisa da Ordem da Cartuxa é Stat Crux dum orbis volvitur (A cruz permanece enquanto o mundo passa).

Formação
Após um tempo de discernimento, que pode durar vários anos, e um longo retiro, o aspirante é introduzido no coro dos Monges.
Segue-se o período de postulantado que pode ir de três meses a um ano, após o qual os monges em escrutínio secreto votam o acesso do candidato ao noviciado.
O noviciado dura cerca de dois anos junto do mestre de noviços para permitir uma familiarização com a espiritualidade, a liturgia a Regra e os Estatutos da Cartuxa. Após o primeiro ano inicia-se a formação doutrinal: Padres do deserto, História da Igreja, Sagrada Escritura ... tempo no fim do qual o noviço é admitido á profissão temporária pela Comunidade.
Após cinco anos dos votos temporários, e de continua formação, o candidadto é admitido à “grande profissão” e faz promessa de “estabilidade”, “obediência” e “conversão total”.

Hábito e regime alimentar
A única refeição quente do dia é tomada ao meio dia. Em cada cela é deixado pelos irmãos da cozinha o prato contendo peixe (nunca carne), legumes, compota. À tarde são dois ovos e fruta. Esta ultima refeição é suprimida durante a Quaresma.
Os Monges da Cartuxa (Cartuxos) têm sempre o cabelo curto (cabeça mesmo quase rapada), usando alguns a barba. O seu hábito é constituído por uma grande túnica branca apertada na cintura por um cinto branco também. Por cima da túnica um grande escapulário, branco também, cujos panos da frente e detrás são ligados por duas tiras de lã.

Um dia na Cartuxa
23h45 - levantar
24h00 - Matinas do pequeno Ofício de Nª Senhora
24h15 - Laudes (na Igreja)
02h45 - Laudes de Nossa Senhora (na Cela)
06h45 - Levantar
07h00 - Angelus. Hora Prima da Nossa Senhora e do dia.
07h30 - Exercícios espirituais ( na Cela)
08h00 - Hora Tercia
08h15 - Missa Conventual
10h00 - Exercícios espirituais (na Cela)
11h15 - Hora Sexta
11h30 - Refeição (na Cela)
12h30 - Tempo livre. Arranjo da Cela e outros trabalhos (na Cela)
13h15 - Hora Nona
13h30 - Exercícios espirituais (na Cela). Algumas vezes pequenos
trabalhos de jardinagem
15h30 - Vésperas de Nª Senhora (na Cela)
15h45 - Vésperas do dia (na Igreja)
16h15 - Exercícios espirituais (na Cela)
17h15 - Pequena refeição
18h45 - Angelus. Exercícios espirituais (na Cela)´
19h15 - Completas do dia e de Nossa Senhora (na Cela)
20h00 - Descanso.


Ordem da Cartuxa em Portugal
Cartuxa de Sancta Maria Scala Coeli
Estrada de Arraiolos
7000 ÉVORA
Telef.(066) 32788.
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[1] Cf. CHARTREUX, Méditation sur la vocation cartusienne, in Paroles de Chartreux,
[2] « Quoniam precipue studium et propositum nostrum est, silentio et solitudini celle vacare, juxta illud Iheremiae, Sedebit solitarius et tacebit » GUIGO I, Consuetudines Cartusiae XIV, 5: SC 313
[3] Cf. CHARTREUX, Aux sources...II
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