sábado, agosto 04, 2007


MOVIMENTO DO CLERO


P. José Manuel Marques Cardoso, conservando as actuais funções, é
nomeado pároco de Constância.

Cón. António Leonor Marques Assunção, é nomeado pároco de Alcains.

Cón. Martinho Cardoso Pereira, mantendo as actuais funções é nomeado
pároco de Isna.

P. José Mendes Fernandes Antão, mantendo as actuais funções, é
nomeado pároco de Madeirã.

P. Luís Manuel Antunes Alves, mantendo as actuais funções, é nomeado
pároco da Montes da Senhora.

P. Emílio Ramiro Andrade Salgueiro é nomeado Vigário Paroquial de
Montes da Senhora.

P. Ilídio Santos Graça, CPPS, pároco in solidum de Proença-a-Nova,
Peral e S. Pedro do Esteval, ficando moderador da equipa.

P. José Luís Ferreira Francisco, CPPS, é nomeado pároco in solidum de
Proença-a-Nova, Peral e S. Pedro do Esteval.

P. Armando Tavares Pereira Alves, CPPS, é nomeado pároco in solidum
de Proença-a-Nova, Peral e S. Pedro do Esteval.

P. Virgílio da Mata Martins, CPPS, é nomeado pároco in solidum de
Proença-a-Nova, Peral e S. Pedro do Esteval.

P. Alberto Jorge Porfírio Domingos Tapadas é nomeado Secretário
Geral da Cúria Diocesana.

Diác. Daniel Catarino Bernardo Fernandes, continuando ao serviço de
Proença-a-Nova, é nomeado para as paróquias de Peral e S. Pedro do
Esteval.

Diác. Manuel Lopes Cardoso, continuando ao serviço de Proença-a-Nova,
é nomeado para as paróquias de Peral e S. Pedro do Esteval.


Portalegre, 1 de Agosto de 2007
+José, Bispo de Portalegre-Castelo Branco

quarta-feira, agosto 01, 2007


« Os homens, no começo, sentiram alguma dificuldade em acostumar-se a Deus. Deus, no começo, sentiu alguma dificuldade em acostumar-se aos homens. E no século treze ainda se está no começo. No século vinte não estamos mais longe, não fizemos outra coisa senão marcar passo, atolando-nos um pouco mais nesse furor em espelho de Deus e dos homens, conforme nos dão testemunho a poeira dos nossos sapatos e o sangue em crosta nos nossos lindos fatos.
Francisco de Assim conhece Isaías […] conhece bem a Bíblia […] A voz de Deus está na Bíblia sob toneladas de tinta, como a energia concentrada sob toneladas de betão numa central atómica. O jovem de Assis foi irradiado por esta voz. Já nada mais quer senão transmiti-la […].

Há algo no mundo que resiste ao mundo, e este algo não se acha nas igrejas nem nas culturas nem no pensamento que os homens têm de si próprios, na crença mortífera que eles têm de si próprios enquanto seres sérios, adultos, razoáveis, e este algo não é uma coisa, mas Deus, e Deus não pode caber em nada sem logo o abalar, o arrasar, e Deus imenso não sabe caber senão nos estribilhos de infância, no sangue perdido dos pobres ou na voz dos simples, e todos esses abarcam Deus no côncavo das suas mãos abertas, um pardal encharcado como pão pela chuva, um pardal transido, chilreador, um Deus pipilante que vem comer nas suas mãos nuas.
Deus é o que sabem as crianças, não os adultos. Um adulto não pode perder tempo a alimentar os pardais».


Christian BOBIN, Um Deus à flor da Terra, 98.

terça-feira, julho 31, 2007










QUE (C)RER ?
- questões em torno da fé - 2 -



1. Sinais da abertura à questão de Deus

Sendo a fé , fundamentalmente, uma atitude de confiança, uma relação pessoal (crer), ela engloba igualmente a adesão a uma verdade revelada (aquilo em que se crê: Deus revelado em Jesus Cristo). O acto de confiar e o motivo da confiança constituem uma unidade. Creio em Deus, Pai Omnipotente ... e em Jesus Cristo, Filho Unigénito ... Salvador ..., e no Espírito Santo ... que dá a vida. De um ponto de vista formal, a fé é acolhimento da realidade de Deus e adesão à revelação que Deus faz de si.
Desta forma, a fé é um acto pessoal. E, nessa medida, encontra na própria pessoa algumas das condições da sua existência. Não se pode dizer tratarem-se de “provas da necessidade” da fé. Se assim fosse seria contraditório. Trata-se sim de algumas experiências humanas que são sinais da abertura do homem, em liberdade e enquanto homem, à questão de Deus. Significa que no próprio sujeito da fé – o homem - encontramos condições de aparecimento dessa mesma atitude cristã de fé.
As experiências que sinalizam a possibilidade da fé são, desta forma, aspectos fundamentais do ser homem na história. Correspondem a alguns dados que sinalizam a possibilidade, razoabilidade e sentido humanos da fé e que deixam entrever uma certa correspondência entre a procura humana de sentido e de plenitude, por um lado, e, por outro, a surpresa de Deus que Se revela ao homem. Novamente a questão do sentido da vida nos aparece como o lugar/contexto onde a questão de Deus se pode tornar decisiva para a vida do homem[1].
Um dos primeiros sinais da existência humana como abertura à questão de Deus acontece na experiência que a pessoa tem do corpo. Sendo a experiência e a expressão da existência pessoal ( não “temos” apenas um corpo, mas, sobretudo, “somos” o nosso corpo), visto que aí nos experimentamos a existir e exprimimos a nossa personalidade, o corpo é também a nossa experiência de inserção no mundo em que vivemos. É e significa a possibilidade de encontro, diálogo e comunhão. Mas é também a experiência da radical fragilidade, da limitação, da mortalidade. Daí que a experiência do corpo abra, muitas vezes, ao questionamento e à reflexão sobre o sentido último e final da vida e, em última análise, ao questionamento de Deus. Além disso o homem é sempre um ser histórico. A sua vida supõe e pressupõe decisões. Mas também o leva a fazer a experiência da provisoriedade.
Um segundo sinal de abertura do homem a Deus podemos lê-lo na necessidade humana de estabelecer relações de confiança e amor. No viver de cada dia o homem tem de confiar e está “dependente” da confiança. Aliás, muitas vezes, a afirmação de si próprio está dependente da afirmação, em confiança e amor, de outros. Porque o homem vive numa constante tensão entre “fechar-se em si próprio” ou “abrir-se aos outros”, confiar é uma experiência de desenvolvimento da sua personalidade. Será a confiança humana o último horizonte da confiança ou haverá uma confiança fundamental para lá de toda a imprevisibilidade das confianças humanas? Sendo a fé cristã, fundamentalmente, uma questão de confiança, a atitude de fé nunca é de todo estranha ao desenvolvimento da pessoa e à sua relação de amizade e amor com outras pessoas. E nessas relações pode ler-se a insuficiência de uma vida fechada sobre si mesma.
Um terceiro sinal é o da manifesta capacidade e vontade humanas de permanentemente se transcender. Pensar, querer, amar são actos fundamentais do ser pessoa e apontam para além de si mesmos, sinal de que o homem se supera a si mesmo e se abre ao infinito. Este é um sinal que se pode ver em diversos âmbitos: no âmbito do conhecimento e da busca da verdade (sempre mais além); no âmbito do amor (sempre mais verdadeiro); no âmbito da liberdade (o “para quê” da vida); no âmbito da consciência moral (o “porquê” e o “como” da vida); no âmbito do sentido da vida (razões e sentido mais profundos onde se fundamentam as decisões). Não estará nesta abertura e nesta procura o sinal da possibilidade da fé cristã ? É que a fé pode situar o homem no caminho da verdadeira realização dos seus anseios mais profundos.
Um quarto sinal de abertura a Deus é o que podemos ler no facto do homem ser, permanentemente, alguém em busca de libertação. Face às muitas ameaças diárias de sem-sentido (destruição pela solidão, confiança traída, incerteza, liberdade falhada, morte, etc), o homem sente o desejo da libertação.
Finalmente, um outro sinal de abertura do homem à questão de Deus, encontramo-lo na procura de sentido para a vida. Referindo-se a valores, e não a coisas neutras, o sentido da vida (e a sua procura) é o que melhor define a pessoa humana. E o homem sabe que a vida só tem sentido quando se dá sentido à vida, quando se lhe dão, precisamente, valores. O sentido só é reconhecido por quem está disposto a optar por ele, por quem está disposto a escolher valores como ideal de realização. Por definição, um valor não é uma coisa. É uma espécie de utopia sobre a maneira segundo a qual podemos e “devemos” viver. O que seria um homem totalmente desprovido de valores ? De facto, cada homem vive de um projecto de sentido[2]. É algo que interpela o homem quanto a valores fundamentais que definirão a orientação livre da vida numa tentativa de unificar e harmonizar a vida toda e de não a fazer apenas uma soma de momentos ou de acasos.
Não esgotando, de forma nenhuma, o horizonte de busca e de realização do homem, estes sinais são expressão da sua receptividade à revelação de Deus. Mais, são sinal da sua capacidade relacional com aquilo que à priori não controla nem define.
Crer é, portanto, entrar num diálogo. No caso do Cristianismo é um acto inter-pessoal de diálogo e relação com Jesus Cristo. É um acto de confiança. É, como dirá depois Sto. Agostinho, crer Deus (crer que Deus existe), crer a Deus (crer na sua Palavra) e crer em Deus ((entregar-se a Deus e confiar-Lhe o sentido da nossa vida).


P. Emanuel Matos Silva



[1] Cf. José Eduardo BORGES DE PINHO, Fé e Teologia – apontamentos para uso dos alunos (Lisboa: UCP) 26.
[2] Cf. Bernard SESBOÜÉ, Pensar e viver a fé no Terceiro Milénio (Coimbra: Gráfica, 2001) 47.

segunda-feira, julho 30, 2007

QUE(C)RER ?

- questões em torno da fé -1 -


Eu creio, eu tenho fé. Parece algo fácil e simples de dizer. Foi-nos dado acreditar. Mesmo se confundimos o acto de crer (acreditar) com aquilo em que acreditamos ( o conteúdo acreditado). Nascemos numa família, num contexto, em que a fé se transmite naturalmente. E, nesse sentido, pode dizer-se que “fé” é a palavra cristã por excelência. O Cristianismo, talvez mais do que outra realidade religiosa, merece o nome de fé. É a própria Sagrada Escritura que utiliza o termo para se referir ao movimento/dinamismo de seguimento e identificação com Jesus Cristo.

Mas a afirmação da fé, o “eu creio”, pode não ser tão simples. Referindo-se ao homem como ser aberto e à escuta, capaz de ouvir e acolher, a Escritura e o pensamento cristão referem-se à atitude de resposta como sendo a fé. Significa que o homem passa de ouvinte a crente, passa da procura ao acolhimento.
É precisamente neste percurso que vai do “ouvir” ao “aderir” que surgem algumas interrogações. O que é que há, para além do homem, que valha a pena ouvir e que contenha tanta novidade? Que necessidade há de ouvir ou abrir ? Não é a experiência subjectiva das coisas e da vida a única capaz de dar sentido à vida de alguém ? No mundo do provável e do experimentado qual o lugar que se reserva à atitude de fé ?

Sem respostas simples somos reenviados ao homem e à sua questão. Ele é alguém à procura de sentido. É inquieto, interrogativo e inquietante. E quando, nesse processo de procura, ele manifesta disponibilidade interior para a novidade não controlável por si, nasce um tipo de relação diferente com o mundo, com as coisas e com os outros. A sua subjectividade não esgotou o horizonte da sua procura e da tentativa de resposta. E a questão da fé, ou mesmo a questão de Deus, nasce dentro da questão do sentido. É quando o homem se interroga sobre e pelo sentido que se pode encontrar com Deus e que pode acreditar. E o sentido encontra-se sempre na referência da vida a valores ou na referência da vida a ideais que têm capacidade de dinamizar a mesma existência. É que “procurar” abre o homem ao encontro com o sentido da vida e com Deus, enquanto “exigir provas” limita a disponibilidade e o horizonte da revelação daquilo que pode ser totalmente novo para o homem. Sobretudo se a “prova exigida” corresponder a um requisito pré definido. Na fé, como em muitos outros campos da vida, o preconceito mata o futuro da relação. É engraçado pressentir que quando exigimos provas a Deus nos encontramos, a maioria das vezes, apenas connosco próprios e com o nosso mundo e seus problemas.

Talvez haja cada vez menos coisas a carecer de uma explicação racional para existirem. Hoje quase tudo tem uma explicação. E, no entanto, continua a ter sentido acreditar, ter fé. Esse facto não limita em nada a fé cristã. Porque a fé é da ordem da relação. É uma forma original de relação a um objecto de conhecimento. E só relacionando-nos acreditaremos e conheceremos.

Conhecimento, confiança e comunhão são aqui aspectos da totalidade humana que, estando presentes em todos os processos da vida humana, estão também presentes no processo de adesão a Deus. Ser, saber e querer. Deus e homem são sujeitos livres de uma acção.

Por isso se falará da fé como dom de Deus, fruto de uma acção do Espírito de Deus, mas também, simultaneamente, como decisão livre e racional do homem. E, embora pessoal, nunca realizada no isolamento. Supõe os outros, a comunidade, a experiência da vida.

Crer, acreditar, não será, portanto, apenas um acaso. Não é possível crer sem querer. Para querer algo é preciso acreditar que vale a pena. É preciso crer no seu valor. Mas também é verdade que se não quero não posso crer. Seria, neste caso, uma crer vago, vazio, sem força definidora devida.

A questão é a do desejo. Somos seres de desejo, somos uma ânsia em busca de harmonia, de afecto e de sentido e só aderimos àquilo que percebemos como oferecendo-nos esse valor. Essa adesão de coração é um acto de fé. Ninguém me pode provar esse valor, mas, na medida em que o queira aprofundar e saborear, comprova-se ou não a sua realidade. A fé não se prova, comprova-se pelos frutos desse desejo[1].

Um caminho possível para compreendermos o que é a atitude de fé é o facto de que a vida do dia a dia está cheia de “formas elementares de fé”. É aquilo que podemos definir como a fé no outro, nas próprias possibilidades, na vida em sociedade, na palavra dada, na relação estabelecida, etc. É o facto de que ninguém aguenta viver muito tempo sem um alicerce de confiança, de amor, de esperança.

Enquanto caminho para compreender o que é a fé cristã, este caminho tem a sua validade na medida em que nos aponta estruturas universais do homem que são requeridas para a sua felicidade. E, nessa medida, aponta para a fé como uma atitude humana. É uma atitude do homem e não contradiz aquilo que o homem é por definição e constituição.

Mas a fé cristã tem uma especificidade e uma originalidade que não se resumem a estes factores. A fé cristão não é o mero resultado das interrogações humanas nem se esgota nas suas potencialidades. Ela é algo de novo na vida do homem. Enquanto valor e ideal, a fé cristã implica o homem no próprio processo do seu nascimento e crescimento, mas supõe sempre a revelação de Deus. É por isso que a podemos definir como uma atitude de resposta. A sua originalidade e especificidade têm que ver com o conhecimento, a confiança e a comunhão que, por Jesus Cristo, o homem estabelece como relação com Deus.

Amar, conhecer, confiar, comungar são da lógica do sair de si mesmo, são da lógica do aproximar-se. É a mesma lógica da fé: receber-se do facto de se dar, encontrar razões e caminhos pelo facto de se desarmar, de se abrir e dispor a acolher. O que é diferente da anomia, da indiferença ou mera passividade. Ao que é que vale a pena ligar-se e aderir ? A fé, bem como o ver o invisível, não é contraditória. É paradoxal, exige sabedoria, perspicácia, sentido crítico, procura e paciência fiel. O povo diz, muitas vezes, que “quem não se fia não é de fiar”. Com Deus e em Deus, quem não confia não é capaz de acreditar.

Que(c)rer não é um trocadilho de palavras. É o desafio a que, querendo, levantando os olhos ao redor, acreditemos.

P. Emanuel Matos Silva

[1] Vasco Pinto de Magalhães, SJ, Nem quero crer (Coimbra: Ed. Tenacitas, 2002) 17.