quinta-feira, julho 19, 2007



Parei a olhar para eles

Parei a olhar para eles.
Trabalhavam assim, de noite, naquela rua isolada, em volta da persiana de ferro de uma loja.
Era uma persiana pesada: eles faziam alavanca com uma barra de ferro mas esta, nem se mexia.
Eu passava por ali, sozinho e por acaso. Agarrei-me também à barra a fazer força. Eles afastaram-se para me dar lugar.
Não se coordenavam os tempos; eu fiz: “Ooh,op!” O companheiro da direita deu-me uma cotovelada e baixinho:
“Cala-te! - disse-me - És doido! Queres que nos oiçam?”
Abanei a cabeça como que a dizer que não me tinha ocorrido.


Italo Calvino, Memória do Mundo

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