segunda-feira, maio 12, 2008


Os Presbíteros na vida da Igreja – I


No dia 1 de Maio a nossa Diocese celebrou em festa diocesana os cinquenta anos de ordenação para o seu Presbitério de três Sacerdotes: o Padre Alberto Jorge, actualmente Vigário Paroquial da Sé de Portalegre e Pároco de Carreiras; o Cónego Amândio Tomé, Pároco de Cebolais de Cima; e o Padre Dr. Francisco Belo, Vigário Paroquial de Abrantes há já algum tempo.

Além da gratidão pelo trabalho que desenvolveram ao longo de cinquenta anos de Sacerdócio, a Igreja diocesana quer sublinhar nesta celebração o lugar e o sentido do presbiterado na Igreja.

O ponto de partida para uma reflexão sobre o presbiterado tem de ser, naturalmente, Jesus Cristo e a Igreja. E isto sempre em contexto de Novo Testamento. Jesus Cristo, que em si mesmo e nas suas acções (Palavra e Gesto) Se revela como Caminho, Verdade e Vida. Caminho, Verdade, Vida como experiências realizáveis pela humanidade e não apenas como abstracções.
O próprio NT tem de ser interpretado em referência a Jesus Cristo e ao seu acontecimento. Trata-se de uma experiência que precede a reflexão sistemática: a fé, a oração e a acção dos crentes precederam a elaboração escrita do que hoje chamamos Novo Testamento.

Por isso podemos dizer que ainda antes do Novo Testamento há a considerar a Igreja que nasce no coração do acontecimento da Páscoa - Pentecostes. Ou seja, uma pequena comunidade que vive no meio ambiente do Judaísmo e se empenha na proclamação de uma Boa Nova de Jesus Cristo.
E como, com o tempo, os testemunhos da geração que historicamente contactou com Jesus ou com os Apóstolos começaram a desaparecer, tornou-se necessário recolhê-los e escrevê-los. Tal como o testemunho de Jesus Cristo na história foi novo e decisivo, os testemunhos da primeira geração cristã são também decisivos e únicos. Sem eles a fé desenraizar-se-ia da história.
É então no decorrer do séc. I e II que se efectuará a recepção dos diversos testemunhos de fé para fixar “uma regra”. Isso permitirá que se vá definindo uma identidade própria (da Igreja e do Cristianismo) e que se vá lutando contra certos erros teológicos ou ideias menos substanciadas.
Os textos têm uma função muito importante na Igreja. Eles prestam um serviço à Igreja, lembrando-nos a fonte da nossa fé - Jesus Cristo. Mas, ao mesmo tempo, porque referências das formas de vida das primeiras gerações cristãs, os textos oferecem-nos também o que podemos chamar de “normas de organização” das mesmas primeiras comunidades na sua diversidade e unidade.

- I –
Jesus Cristo, a Luz dos Povos,
e a Igreja seu sacramento ou sinal (LG 1)
Jesus Cristo, o Filho Único de Deus, ao encarnar assumiu a missão da libertação do homem na sua mais profunda realidade. Palavra e gesto, Palavra e acção sempre se iluminaram mutuamente na vida e ministério de Jesus. Ele é e diz a Palavra de Deus. E os gestos e tipo de presença à humanidade mostram como a Palavra encarnada, assumida, age na vida dos homens. A Palavra explica o gesto e o gesto explicita e realiza a Palavra fazendo com que seja melhor compreendida e acolhida. É assim o ritmo da revelação de Deus ao mundo.
A morte surge na vida de Jesus como a plenitude da sua vida. Não é um acaso, não é uma eventualidade. Jesus morreu como viveu – fazendo entrega plena de si para que os homens conheçam melhor Deus e se conheçam melhor a si mesmos.
Por isso a Igreja surge da morte e ressurreição de Jesus como o conjunto daquelas e daqueles discípulos que, sentindo-se identificados com Jesus e a sua missão, querem ritmar a sua vida pelos valores do seu Reino e abrem o seu coração e a sua verdade à acção da força do mesmo Espírito que agia em Jesus. A missão de Jesus é continuada e, por isso, é anunciada.
Cristo vive, portanto, na sua Igreja que é o seu Corpo glorioso. E tudo o que a Igreja faz, fá-lo em Nome do mesmo Cristo sem o qual não existiria. É Cristo que age na sua Igreja, seu Corpo, sua Presença. E quando nos reunimos em assembleia de Igreja somos, precisamente, a imagem visível deste Corpo: membros diferentes, mas que na diferença se completam uns aos outros e vivem organicamente.
E porque a missão de Jesus continua e tem como objectivo ser acolhida por todos os homens, a Igreja tem como identidade própria ser a presença de Cristo, anunciar Jesus Cristo, fazer discípulos de Jesus Cristo. Essa é uma missão sempre em relação com a natureza e a identidade das pessoas. São elas as destinatárias da salvação de Jesus Cristo.


1. Uma realidade absolutamente nova: Cristo / Igreja
Cristo-Igreja age, portanto, na história dos homens para aí significar a presença de Deus que acompanha essa mesma história com o seu amor. É uma acção sacramental.
Um sacramento é um sinal e um meio de realizar a nossa unidade com Deus. Por isso podem definir-se os sacramentos como sinais eficazes do dom de Deus em Jesus Cristo. E, nesse sentido, podemos dizer que são acções de Cristo na vida dos crentes que se realizam através da sua Palavra e do seu gesto e em profunda relação com a existência humana.
Neste sentido podemos compreender os sacramentos como acções simbólicas (gesto e palavra) que significam e actualizam (torna presente) uma realidade invisível destinada à libertação, salvação e felicidade da humanidade.
Existem na Igreja sete sacramentos: o baptismo, a confirmação, a eucaristia, a penitência (ou reconciliação), a unção dos doentes, a ordem e o matrimónio. Eles são, fundamentalmente, a presença e acção do Único e Primeiro Sacramento (Cristo-Igreja) em diversas situações e dinâmicas da existência humana: o nascimento; o crescimento; as grandes escolhas; os compromissos fundamentais; a releitura da história e recomeço; a confiança para lá da fragilidade humana.
É por isso que os sacramentos contêm sinais na sua explicitação: é para serem melhor acolhidos, compreendidos e integrados na vida. Deus é força em Jesus Cristo e na Igreja nos momentos do nascimento, das escolhas, das opções de compromisso, nas dificuldades, na confiança e na alegria. E essas expressões podem ser melhor compreendidas e integradas através dos sinais e dos símbolos sem os quais a possibilidade e capacidade cognitiva e crente dos cristãos não conseguiria fazer a ponte entre o que se vê imediatamente e aquilo que, não se vendo de imediato, nem por isso deixa de existir.
Aquele que, sacramentalmente, está associado a Cristo é aquele que explicita, celebrando, o sacramento para e com o Povo de Deus. Veja-se, nomeadamente, a Eucaristia.


2. Na Igreja, a “Ordem” dos Presbíteros
O nome de Ordem vem da antiguidade romana e designa a entrada num “corpo constituído”. A Ordem é assim o “corpo constituído” dos servidores do Povo de Deus que Jesus chamou e uniu a si para a mesma missão.
É dentro da possibilidade salvífica que o Ressuscitado dá a todos os cristãos de fazerem com sua vida o que Ele mesmo fez, que surgirá o que chamamos de sacerdócio ministerial (ministério ordenado ): na Igreja, alguns, entre muitos, são constituídos para o serviço de todos os outros. O padre é alguém que entrega a sua vida a Deus por causa dos irmãos.
Cristo é o Único Sacerdote. E realiza o seu Sacerdócio pela entrega de si mesmo. O ministério presbiteral é também o mesmo que Jesus entregou aos Apóstolos com a missão de evangelizar, conduzir e santificar. E isso significa que, na unidade de presbitério em comunhão com o Bispo, sucessor dos Apóstolos, o ministério ordenado se efectiva a maneira do ministério dos apóstolos, ou seja num dinamismo de evangelização e num Dom total de si mesmo. É assim que o sacerdócio não é um emprego, mas é um estado vida caracterizado pela consagração de si ao serviço evangélico dos outros. Este sacramento compreende três graus: o Episcopado (bispo), o presbiterado (padre) e o diaconado (diáconos) com missões concretas específicas, mas sempre dentro e em comunhão com a missão de toda a Igreja.

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado! Há muito que muitos de nós o procuramos e não o temos encontrado. É bom abrir o seu blog e... simplesmente lêr...
No Coração de Maria...

Anónimo disse...

Que o Senhor ajude todos os jovens que estão em busca da sua vocação!
Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ámen